notícia, afastou-se para seu gabinete de trabalho, muito emocionado. Seus auxiliares, vendo-o pálido,
temeram por sua saúde e solicitaram a presença de um médico.
Atendido pelo facultativo, este perguntou-lhe o que sentia.
- Nada!, respondeu o general. Soube de um fato muito grave que acontecerá amanhã e emocionei-
me bastante.
Todavia o general Adhemar retirou-se para sua residência.
Fizeram-me do fato esta narrativa, confirmada em termos gerais por alguns oficiais que disseram
tê-lo assistido.
Conversei, ainda, com o general Argus Lima, Comandante do IV Exército, e solicitei sua vinda
para a reunião do Alto Comando. Éramos amigos há quase 50 anos e eu lhe dispensava consideração
especial. Argus embarcou em Recife para atender à convocação do ministro, já se encontrando no
avião, quando recebeu chamado telefônico do presidente. Relutou em ir ao palácio, declarando que
se dirigia para o Ministério a fim de participar da reunião marcada pelo ministro.
Ocorreu, então, uma circunstância que retrata bem o general Ernesto Geisel: ao ouvir o general
Argus rejeitar o convite, refutando-o com argumento sério e racional, perdeu um pouco de sua
habitual empáfia, amaciou a voz e solicitou comiseração na frase:
- Mas, Argus... será que eu não mereço que você venha primeiro falar comigo...
Se a situação fosse outra, se o general Geisel estivesse seguro de sua força, não teria falado
pessoalmente ao general Argus. Mandaria, na certa, um de seus prestimosos assessores fazer a
comunicação ao general, marcando hora para comparecer ao palácio.
Contou-me este fato o próprio general Argus, no dia 12 de outubro, ao ir ao Quartel-General do
Exército, após ter assistido a posse do general Bethlem, no palácio do Planalto.
Quanto ao general-de-exército Fernando Belfort Bethlem, Comandante do III Exército, pela
manhã já recebera, no Rio, onde desfrutava licença de serviço, um chamado presidencial.
O general-de-exército Vinitius Nazareth Notare, Chefe do Departamento de Engenharia e
Comunicações, achava-se em Brasília. Era um homem extremamente nervoso, sempre atormentado
por problemas de saúde. Tinha a psicose das enfermidades e julgava-se, não raro, vítima de
perseguições do ministro. Qualquer restrição ou comentário mais francos, ditos sobre as atividades
de seu Departamento, eram tomados no sentido depreciativo, sensibilizando-o bastante.
Procurei em todas as circunstâncias apoiá-lo, no entanto não consegui evitar alguns
desentendimentos que deixaram diversas mossas em nossas relações.