Estava, pois, Vinitius na capital quando foi informado da minha exoneração. Consta que se
dirigiu ao quartel-general, porém, tendo tomado conhecimento de que nenhum general-de-exército
tinha ido ao gabinete ministerial, regressou ao seu lar. Se assim procedeu não posso afirmar, apesar
de ser voz corrente ter deste modo se comportado. 0 fato, entretanto, é que lá não apareceu.
O coronel Alberto dos Santos Lima Fajardo, emissário do general Hugo Abreu, procurou-o em
sua residência, consoante informações que recebi. Ao ouvir o pedido do presidente para ir ao
palácio do Planalto, teria indagado do coronel se o general Geisel tinha algum convite para fazer-lhe.
Justificava-se a pergunta porque dois cargos de ministro - do Exército e de Chefe do Estado-Maior
das Forças Armadas - estavam vagos. E, lá diz o provérbio, "presunção e água benta, cada qual toma
a contento". Apesar de todas estas vacilações, esteve no Planalto, onde tentou, através de medidas
junto ao sistema de comunicações, impedir a transmissão da nota que eu expedira.
No dia 13, visitou-me pela manhã, tentando, entre lamúrias e afirmações de respeito, esclarecer
seu procedimento da véspera. Era um tímido, que vivia sob permanente depressão, mais digno de
comiseração do que de rancor. Contraditório, neste mesmo dia 13 não compareceu ao meu embarque.
A "EVOLUÇÃO" DO GENERAL BANDEIRA
A minha ligação telefônica com o general Antonio Bandeira, comandante da 4á Divisão de Exército,
foi das primeiras. O Bandeira tinha sido meu subchefe de gabinete, no escalão avançado de Brasília,
durante a gestão Lyra Tavares. Considerava-o meu amigo e jantara em sua casa, com a minha família,
ao passar pela capital mineira, em fins de setembro, em caráter particular.
Homem de convicções democráticas, ferrenho anticomunista, preocupava-se com a crescente
infiltração marxista no país. Ao embarcar eu, no dia 27 de setembro de 1977, no aeroporto da
Pampulha, de regresso ao Rio, disse-me o general Bandeira, na escada do avião:
- Ministro, se houver alguma coisa com o senhor, em Brasília, venha para aqui que eu o apoiarei.
Ri e agradeci o espontâneo e "sincero" oferecimento.
Temia, pois, que o general Bandeira, por seu temperamento impulsivo, tomasse a iniciativa de
repelir o insulto que se fazia ao Exército, na pessoa de seu ministro. Este temor era mais justificável
por ter o Comandante da 4á Divisão de Exército reafirmado, dias antes, a ilustre deputado mineiro, a
sua irrestrita solidariedade ao ministro, pedindo ao congressista que me transmitisse as suas
palavras.
Naquele dia 12, tivemos pelo telefone um diálogo rápido. Comuniquei ao Bandeira a minha
demissão, que já era de seu conhecimento visto que o general Pinto já o tinha informado. Perguntei se
estava tudo em ordem e, em face da resposta positiva, recomendei que assim se mantivesse. Referi-
lhe as minhas providências para reunir o Alto Comando - idéia que julgou excelente.