IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1
influenciá-lo no sentido de conter os ânimos.

A traição de Arnizaut não pode, sob qualquer aspecto, ser negada, uma vez que ELE PRÓPRIO a
confessou, quando, em fins de agosto de 1979, realizou visita de despedida na Escola de Material
Bélico. Declarou naquela oportunidade que às 17:45 horas do dia 11 de outubro foi chamado ao
palácio do Planalto pelo general Hugo Abreu, que lhe pôs a par do que iria acontecer no dia seguinte
e com quem combinou tudo.


O general Roberto França Domingues também pode ser acusado de traição, embora suas ligações
de parentesco com os Geisel pudessem explicar sua atitude. O nepotismo estava lhe assegurando
brilhante carreira; não iria certamente prejudicála com pruridos morais. Além disso, não era
diretamente subordinado ao ministro, como o seu comandante, o que atenua, mas não invalida a
imputação.


A ATITUDE DO GENERAL DIEGUEZ


Mais de uma dezena de generais compareceram ao meu gabinete; seus nomes foram citados e
anotados pelo grupo palaciano. Não me interessa repeti-los porquanto será entregar à sanha daquela
gente algum que tenha escapado.


Abro exceção para um general-de-brigada, cujas atitudes no decorrer de sua vida castrense
alçaram-no ao pedestal da honra e da veneração patriótica. Trata-se do general Lauro Rocca
Dieguez. Não conhecia pessoalmente Dieguez, o que somente ocorreu em Brasília. Todavia, sabia-o
militar de atitudes definidas, identificado com os preceitos revolucionários e executor fiel dos
sublimes postulados morais que enobrecem a existência humana. Chefe enérgico e equilibrado, cultor
de exemplar patriotismo, jamais se intimidou com perigosas crises internas nem se inebriou na
euforia dos dias de glória.


Poucos minutos após ter eu chegado ao quartel-general apresentou-se ali o general Dieguez.
Vinha em completo uniforme de campanha - pronto para o combate.


Falamo-nos.

Disse-me com voz firme em que se percebia ligeira emoção:


  • Senhor ministro! Estou pronto para assumir o comando da 3á Brigada. Peço autorização para
    fazê-lo...


Disse ao general Dieguez que pensasse com calma porquanto não desejava ver ninguém
sacrificado pelo ministro. Respondeu-me com a firmeza habitual que eram os destinos do Brasil que
se jogavam naquela insensata cartada presidencial e que somente isto deveria ser levado em
consideração.

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