Mandei que aguardasse a evolução dos acontecimentos.
Esse diálogo não teve testemunhas pois estávamos a sós no meu gabinete.
Soube depois que Dieguez voltou à sua residência, onde recebeu telefonema do general-de-
divisão José Maria de Andrada Serpa. O diálogo transcorreu nos termos abaixo, que podem não ser
idênticos mas que preservam o sentido da conversação:
- Dieguez? O que é que você está fazendo com uniforme de campanha?
- Fui ao reembolsável, Serpa!
-Você está "me gozando".. Dieguez
- Não, Serpa, você é que está "me gozando".. No momento em que o país enfrenta uma crise
séria, você vem me perguntar por que estou neste uniforme. Eu fui ao quartel-general apresentar-me
ao ministro, colocar-me à sua disposição. - Foi o Frota que o chamou?
- Não. O general Frota não me chamou. Eu fui espontaneamente...
Esta conversa foi gravada e serviu, provavelmente, de base à preterição do general Dieguez em
sua promoção a general-de-divisão. Deve ter sido um dos leais serviços prestados ao governo
Geisel, a que alude Hugo Abreu na página 97 de seu livro.
MINHAS RAZÕES PARA NÃO REAGIR À INFÂMIA
O pedido de Dieguez colocou-me em situação difícil. Não pretendia agir contra o presidente Geisel,
dado que nunca tivera essa intenção.
Sustentavam-me neste procedimento princípios de disciplina e lealdade, arraigados num passado
de quase 50 anos de caserna e pregados, por mim, em todos os comandos que exerci. A lealdade, do
meu ponto de vista, é virtude integral, porquanto não pode haver lealdade parcial. Ou há lealdade ou
não há lealdade, esta é uma afirmação irrefutável. Deve-a o militar, de forma irrestrita, ao seu chefe
imediato.
Entretanto, eu não era mais subordinado de Geisel, que acabara de proceder com vilania
inexcedível na minha exoneração, confabulando com os generais meus comandados e incitando-os à
indisciplina.
Havia, contudo, o problema moral. Por que motivo iria eu me rebelar contra o presidente, se era
dele a prerrogativa de exonerar-me?