OS ACONTECIMENTOS NO PALÁCIO DO PLANALTO
Enquanto esses fatos ocorriam no quartel-general, no palácio do Planalto aconteciam outros não
menos interessantes e dignos de serem descritos para que se possa bem ajuizar do comportamento
dos atores da Farsa.
Precisamente ao meio-dia e quarenta, o general Hugo Abreu dirigiu-se à Assessoria de Imprensa
do palácio e leu uma NOTA MENTIROSA sobre a minha exoneração. Ele mesmo, Hugo, sabia disso
e é suficiente ler o seu livro para reforçar esta afirmativa. Ao lê-la, cometeu Hugo um ato de extrema
fraqueza e de incoerência com suas atitudes anteriores, porquanto a leitura da nota presidencial
ajudou a mascarar e a facilitar a candidatura Figueiredo, que tenazmente combatia.'
Por que acedeu Hugo em proceder à leitura perante milhões de brasileiros, acumpliciando-se
com o governo na divulgação de uma inverdade, quando não lhe competia essa tarefa? Interesse de
adular Geisel? Falta de coragem moral para repelir a armadilha clara de comprometê-lo com a
Farsa? Outro motivo?
Infelizmente ele, o único que possuía a chave deste enigma, por desígnios divinos não mais
poderá elucidá-lo.
Os generais-de-exército chegaram ao palácio a partir das duas e meia. Juntaram-se na sala do
Chefe da Casa Militar, quais tímidas ovelhas acolhendo-se ao redil, temerosas da tempestade que se
avizinhava, em busca da proteção do pastor, de cuja trompa ouviram os roucos sons de chamada.
Davam crédito a qualquer boato, por mais estapafúrdio que fosse, aumentando, assim, a tensão
do ambiente.
Contou-me ainda Hugo Abreu, na visita que me fez, em minha residência, que esses homens
encontravam-se em tal estado de temor que ele Hugo ficou enojado.
Terminou, ao levantar-se, no momento de despedir-se, com a frase:
- Ministro Frota... eu tive nojo deles... tive asco...
O general Bethlem chegou a Brasília quase ao meio-dia, sendo conduzido imediatamente ao
palácio do Planalto. Desde a véspera estava avisado de que um emissário do presidente o procuraria
e, como já acentuei algures, ocultou-me deslealmente o contato telefônico mantido com Hugo Abreu.
Nesta ligação devem ter tratado de algo mais do que uma simples comunicação sobre a ida de um
oficial ao Rio, do contrário nada tinha a esconder, visto que eu focalizara especificamente esse
assunto.
Caso tivesse sido correto, a informação viria fortalecer a minha convicção de que queriam
prendê-lo, em virtude dos termos do seu relatório.