IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Sua vinda para Brasília, com o suposto nome de Bernardo Geisel, identidade que, além de
mantê-lo incógnito, permitiu-lhe viajar em traje civil, burlando ordens rigorosas da Aeronáutica
sobre o transporte de oficiais da ativa, mostra-nos a inconfundível figura do conspirador. Assim,
escafedeu-se ele, nas névoas da manhã, de sua residência na Tijuca, protegido por um nome
germânico, disfarçado à paisana, para alcançar um avião especial, posto à sua disposição no
Aeroporto Militar do Galeão, tudo de acordo com seus comparsas do palácio do Planalto.


Depois de toda esta indecorosa e planejada aventura vem Bethlem dizer publicamente, no seu
discurso de posse:" ... fui tomado de surpresa porque não esperava..."


Surpreendido fiquei eu - como lhe disse pessoalmente - com seu procedimento. Jamais pensaria
que Bethlem pudesse trair-me, embora não me agradasse o riso alvar que integra sua personalidade e
o complexo de frases neutras - sem significação precisa - que emprega em suas palestras para não se
definir.


Que apodo poderei eu dar, com justiça, a um homem que se comporta desta maneira com seu
chefe imediato, que o considerava amigo?


Foi este o general que Hugo Abreu, segundo narra, encaminhou naquele dia 12 ao presidente
Geisel, visando ao golpe final na gestão Sylvio Frota no Ministério do Exército.


Às quatro horas ocorreu no palácio do Planalto a posse do general Bethlem no cargo de Ministro
do Exército, assistida por cinco generais-de-exército, além de outras autoridades federais.


Iniciou o novo ministro sua gestão com um discurso em que reconheceu, num arroubo de
bajulação, sua falta de merecimento para as novas funções, ao dizer, na sua oração de agradecimento
ao presidente: "... e com os olhos voltados para o bem de meu Exército e da minha Pátria eu poderei
desempenhar à altura o elevado cargo a que sou conduzido pela BONDADE de Vossa Excelência,
senhor presidente. Muito obrigado."


Estas palavras, do único ministro do período revolucionário nomeado por indulgência, lançadas
ao éter por emissoras de rádio e televisão, foram transcritas no matutino última Hora de 13 de
outubro de 1977 e por outros órgãos da imprensa.'


Somente soube da posse de Bethlem através da ligação telefônica que com ele mantive no Centro
de Informações do Exército; nada mais, oficialmente, foi-me dito sobre a cerimônia. O general Hugo
Abreu, na página 148 de seu livro, declara que me transmitiu estas informações, engano em que deve
ter incorrido em virtude da intranqüilidade que perturbava o ambiente planaltino. Nenhuma
comunicação recebi.


A TRANSMISSÃO DO CARGO

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