presidente. Mas, moral e militarmente, seu comparecimento à reunião seria obrigatório.
Sua declaração a Fiuza de que entre a amizade do Frota e a Pátria estaria com esta última,
embora sensibilizante e emocional, foi profundamente ilógica e estúpida.
Nenhum militar, em sã consciência, ficará contra sua Pátria, pela qual jurou sacrificar a vida.
Durante meus 70 anos de existência, conheci apenas uma exceção a este postulado cívico: a
infamante e pública renegação da Pátria feita pelo atual cidadão soviético Luís Carlos Prestes, ex-
capitão do Exército Brasileiro.
Não estavam, portanto, em confronto aquelas duas considerações. O que eu procurava, naqueles
momentos dificeis, era expor aos meus colegas do Alto Comando uma série de fatos e manipulações
astuciosas que os homens do quarto governo da Revolução punham em prática para sua preservação
no poder. Dir-lhes-ia que a Revolução estertorava, no abandono de seus princípios, acalentando
idéias que condenávamos em 1964, e comprovaria minhas asserções com irrefutáveis documentos e
testemunhos. Constituía um dever colocá-los a par do panorama político em que vivíamos; o restante
era com eles.
Minha missão revolucionária terminaria aí; meus colegas que agissem como bem entendessem. O
Alto Comando - órgão representativo da instituição - seria o único que, lidimamente, poderia falar
em nome do Exército. Nem o próprio ministro - na posição de exonerado em que se achava -
encontraria suportes morais para decisões extralegais, ainda que bem fundamentadas e sustentadas
por iniludível apoio de força militar. No entanto, jamais escaparia às acusações de que agira por
impulsos emocionais de revanchismo, visando a saciar ambições políticas.
Por outro lado, é interessante não olvidar que todos nós integramos à nossa personalidade, por
convicções e formação, princípios que, em agudas crises, orientam nosso procedimento. Não me
agradava, pois, violentá-los, e repugnava-me ser visto pela posteridade como o ministro que usurpou
o poder do presidente por tê-lo demitido.
A reunião do Alto Comando, portanto, era capital, na marcha dos acontecimentos. E o general
Ernesto Geisel percebeu, em toda a extensão, a gravidade desse encontro dos generais com o
ministro, ao lançar a frase que dizem ter proferido:
- Não deixem os generais reunirem-se com o Frota! Os generais são fracos e o Frota vai dominá-
los!
O que ele temia não era a fraqueza dos generais, mas a de seu governo, se examinado à luz dos
preceitos da Revolução de 1964.
Não se tratava, por conseguinte, dos destinos da Pátria, porém de salvar os postulados
revolucionários que submergiam lentamente num pântano moral, debilitados pela infiltração marxista,
num ambiente de descrédito às autoridades públicas.