IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

AS IMPUTAÇÕES


O primeiro impacto de minha exoneração sobre a opinião pública foi, sem dúvida, a divulgação da
minha nota nos jornais nacionais e, também, a referência que mereceu no estrangeiro. Contra ela
açularam os palacianos e seus comparsas. O documento que redigi para meus comandados,
procurando preveni-los da borrasca, cujas negras nuvens já se desenhavam no horizonte
revolucionário, sofreu as reações dos adeptos do poder reinante, num combate sórdido e covarde,
porque calcado na baixeza de invencionices e escudado num sistema de comunicações cujos
tentáculos fariam inveja aos especialistas do Kremlin. A cortina de censura impedia-me de destruir,
com provas, as invectivas que surgiam na imprensa e em livretos que, à semelhança da nordestina
"literatura de cordel", eram pendurados nas livrarias e bancas de jornais, em busca de notoriedade
para os seus desconhecidos e mal informados autores.


A primeira investida foi sobre a redação da nota, que, consoante se espalhava, fora elaborada
com o auxílio de meus assessores e amigos. Tentava-se insinuar que redação e idéias ali
apresentadas não eram integralmente minhas.


O jornalista Walder de Góes, valendo-se provavelmente de fontes espúrias e de má-fé, às quais
dava crédito, teve a ousada ingenuidade de colocar no seu livro O Brasil do general Geisel muitos
fatos que não ocorreram e apresentar outros deturpados. Entre eles ressalto a afir mação, inserida na
página 88, em que diz textualmente: "Na elaboração da proclamação, Frota foi auxiliado pelo
consultor jurídico do Ministério do Exército, Nelson Pecegueiro do Amaral, embora a linguagem
básica seja de sua autoria." Isto, absolutamente, não foi verdade.


É uma afirmação rígida que não admite a mínima discordância. Assim o entendeu o prefaciador
da obra, jornalista Carlos Castello Branco, quando, na página 9 do livro, referindo-se à demissão do
Ministro do Exército, general Sylvio Frota, escreve que "a precisão das informações", a par de
outras considerações expendidas, "tornam essas páginas modelo do gênero a ponto de transcender os
limites da reportagem para alcançar a categoria de documento histórico".


O dr. Nelson Pecegueiro do Amaral, nobilíssimo caráter, ao ler aquela disparatada notícia,
indignou-se com a sua falsidade e apressou-se em escrever ao jornalista contestando-a e exigindo sua
retificação. Walder de Góes prometeu atendê-lo na próxima edição de seu livro.


Tais falhas, devidas em parte a uma imaturidade despertada por arroubos residuais da juventude
e, por outro lado, geradas na ânsia de turibular o general Geisel, não recomendam o livro como
documento histórico, pelo contrário, colocam-no na berlinda como obra de credibilidade duvidosa.


Na resposta dada ao dr. Pecegueiro, o jornalista procurou justificar-se, alegando que a notícia
Free download pdf