O CASO DO TELEX SOBRE O ALMIRANTE ARAGÃO
Inesperadamente, no domingo 7 de maio de 1978, o jornal O Globo divulgou estranha notícia sob o
título "Documentos forjados circulam em Brasília". O assunto versava, particularmente, sobre um
telex que fazia parte de uma suposta correspondência trocada entre o Chefe do SNI e o embaixador
brasileiro em Portugal.
A documentação, segundo afirmou o mesmo matutino, estava sendo distribuída naquela cidade a
parlamentares e jornalistas com o intuito de prejudicar o candidato oficial à Presidência da
República - general João Baptista Figueiredo - e, também, de desmoralizar o regime político vigente.
Embora não deixasse de aludir a outros documentos, entre os quais uma pretensa autorização do
general João Figueiredo para realizar a operação criminosa, o jornal retém-se apenas no exame
minucioso do telex inicial, cujo texto criptografado revela e a origem clandestina procura evidenciar.
Um dos trechos dessa explicação, redigido em forma solerte, diz:
As mensagens forjadas não resistem ao menor exame crítico, segundo se apurou. O general
Figueiredo, em um dos documentos, é apresentado como "Ministro Diretor do SNI", quando pela
denominação oficial é ele Ministro Chefe do SNI. Outros detalhes que logo denunciam a
falsificação são o uso do telex do gabinete do Ministro do Exército, na época o general Sylvio
Frota, e o de um código inexistente no Ministério das Relações Exteriores, através do qual é feita
a comunicação com as embaixadas brasileiras no estrangeiro.
A análise atenta deste trecho mostra-nos que a preocupação primeira de quem o compôs é afastar
a imputação, feita ao SNI, da autoria da documentação difundida. A falsificação, para o redator, deve
ser provada em relação ao SNI e nada mais. Este parece ser o seu obstinado intento, visto que os
argumentos invocados - aliás, muito frágeis - não comprovam a falsidade dos documentos. Tentam
insinuar, isto sim, outras fontes de origem, como ocorre com a referência ao "telex do gabinete do
Ministro do Exército"; onde deveriam estar os autores ou, no mínimo, os cúmplices de tão nefanda
ordem.
Antes de especular sobre a documentação, julgo imperativo transcrever os dois telex iniciais, já
decifrados, a fim de que aqueles que me lêem possam entender essa embaraçosa questão.
Ei-los:
a) O telex inicial, supostamente emitido do SNI para o embaixador, tem a data de 23 de setembro
de 1975 e os seguintes dizeres, consoante os jornais:
Para..... 12593 - Embaixada do Brasil - Portugal.
De..... 611145 - Central de Comunicação do Exército - Brasil.
Em ..... 23 de setembro de 1975, às 7,20 horas.