IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Henrique Lott.


Naquela época as nomeações de chefes e comandantes para os estabelecimentos de ensino
ficavam a cargo do Chefe do EME. Nas unidades de tropa e demais organizações militares, eram
designados diretamente pelo ministro, que realizava uma rigorosa peneiração dos coronéis, afastando
dos comandos de tropa os não lottistas, ou melhor, não juscelinistas, o que praticamente importava
em cortar-lhes a carreira, visto que a lei de promoções lhes exigia um ano de arregimentação para o
acesso ao generalato. Distribuía-os, então, generosamente, pelas Circunscrições Militares.


Era o critério político-partidário servindo de parâmetro às classificações militares, sem o menor
respeito pelo valor profissional. As CR eram e são órgãos de imensa importância no preparo e
execução da mobilização, contudo, por seu caráter estritamente burocrático, não satisfaziam à
exigência legal de arregimentação.


Eu não poderia ter a veleidade, em face de minha posição - clara e ostensiva - contrária ao
governo juscelinista, de receber do ministro uma comissão de comando de tropa. Precisava, porém,
arregimentar-me para prosseguir em minha carreira. Valeu-me neste difícil momento o general
Octávio da Silva Paranhos - com quem servira por anos e a quem dedicava profunda amizade -, que
conseguiu com o Chefe do EME minha nomeação para o CPOR de Salvador, desbordando dessa
maneira o general Lott.


O ministro, conhecendo o fato, mas não desejando melindrar o Chefe do EME, tornou ato
privativo seu qualquer designação para comando ou chefia, sem interferir nas que já tinham sido
realizadas.


Era preciso evitar, a todo custo, que os "golpistas" - como éramos chamados, nós que não
depuséramos dois presidentes - tivessem funções de mando.


As reações ao abastardamento da profissão militar, tornando o Exército praticamente guarda
pretoriana de um presidente que fechava os olhos à corrupção, lesava a autoridade de seu cargo com
requintadas atitudes populistas e consentia, por suas liberalidades e excentricidades de visionário, se
agravasse a situação econômica do país, não demoravam a aparecer.


Estive no comando do CPOR de Salvador aproximadamente três anos. Nesse período
continuaram os desmandos administrativos, recebidos sempre pelos acomodados e os pusilânimes
em resignado silêncio. A infiltração comunista tolerada, até facilitada, minava o regime na
exploração de suas fraquezas morais e na indigência do povo. Os oligarcas, dominando seus feudos,
usufruíam lucros extraordinários.


Espocam então duas manifestações armadas de protesto contra o descrédito das autoridades, a
balbúrdia administrativa gerada pelas oscilações governamentais no tomar decisões e a inexistência
real dos poderes judiciário e Legislativo, aniquilados, na prática, pela ação coercitiva de poderosos
grupos de pressão e pela prepotência do Executivo.

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