organizações militares.
Todavia, há um tipo de insubordinação que assoalha a rebeldia e o motim - é a intencional de
grupos. Iniciada pela confabulação, em lugares escusos, sob lideranças reacionárias, ela evolui para
a conspiração, caso não seja atalhada a tempo. Suas causas são complexas, vinculadas a fatores
diversos, conquanto a insurreição conseqüente possa estrugir apenas sob o estímulo de um deles.
Esta é uma espécie de insubordinação que afeta profundamente a instituição, enfraquecendo-a e
ameaçando-a de divisão.
O Exército brasileiro nunca teve pendores para a insubordinação e a revolta; a História está aí
para confirmá-lo. Sua intervenção armada, na vida política do país, tem sido em defesa das grandes
causas que encerram as aspirações do Povo. Jamais acoitou, conscientemente, homens de vocação
ditatorial, mesmo que travestidos de democratas. A tropa e os oficiais portaram-se sempre com
inegável disciplina, acendrada no patriotismo e na exata compreensão de seus deveres cívicos.
A despeito destas circunstâncias, tive a infelicidade de presenciar, no último dia de minha
permanência no Ministério, uma das mais graves insubordinações que possam ser registradas em
qualquer exército, sem excluir aqueles de formação recente e disciplina instável que amparam os
régulos africanos - uma insubordinação de generais.
No dia 12 de outubro de 1977, aproximadamente às dez horas da manhã, convoquei os generais-
de-exército, integrantes do Alto Comando, para uma reunião imediata, em Brasília. Consoante
informações que recebi, todos estavam a par dos acontecimentos e da convocação.
Por que não atenderam à ordem de seu comandante direto - o ministro - que ainda o era e o seria
até as seis horas da tarde?
Por que acorreram, pressurosamente, ao chamado do presidente, quando sabiam que,
regulamentarmente, este convite só poderia ser feito através do seu ministro?
Como encarar legalmente esses lamentáveis eventos de generais-de-exército que, fugindo
precipitadamente de seu ministro, transgrediram normas disciplinares e desobedeceram ordem de seu
comandante direto?
Muitas explicações podem ser dadas em busca da justificativa; especulações diversas surgirão
na ânsia de arrumar hipóteses complacentes, porém uma única ilação pode emergir da análise serena
e honesta dos fatos - os generais-de-exército deram, naquele dia, à instituição de Caxias o mais triste
exemplo de indisciplina e insubordinação.
A partir desse momento estava subvertido o tradicional conceito de disciplina. Ruíra a escala
hierárquica e os oficiais poderiam - em face do nefasto exemplo - atender aos chamados de generais
sem que os coronéis, comandantes de unidades, o soubessem ou, mesmo, contrariando-os. De modo
análogo poderiam agir os generais-de-brigada e os generais-de-divisão em relação aos seus