abastardara na lisonja, não iria denegrir sua fé de oficio com a nódoa de uma insubordinação.
Sellmann é desses homens raros, decididos e idealistas, que se rebelaram nos albores da nossa
Revolução, enquanto carreiristas de sempre aguardavam na esquina da adesão o cortejo da vitória.
Ele, Amerino Raposo e muitos oficiais briosos, em Uruguaiana, na longínqua fronteira do Sul,
demoveram indecisos e dominaram legalistas para extirpar a corrupção, combater a subversão e
permitir ao Brasil restaurar-se economicamente e sanear-se moralmente. Seu caráter não lhe dava
outra opção.
Permaneceu ao lado do ministro até a passagem do cargo. Não se dirigiu ao palácio do Planalto,
não incensou os poderosos em detrimento da disciplina, desprezando, portanto, a possibilidade de
obter a quarta estrela que outros, por esse caminho, conquistaram.
Cito um dos muitos beneficiados nesse amontoado de traições. O general Ernani Ayrosa da Silva
não integrava o Alto Comando; ainda assim, por ser Comandante Militar da Amazônia, comparecia
às reuniões daquele órgão. Disseram-me que foi avisado da convocação ministerial, no entanto
jamais o vi. Conhecíamo-nos há mais de vinte anos e fazia alarde de ser meu amigo. Acorreu lépido
ao palácio e, mais tarde, ao ser ultrapassado pelo general-de-divisão João Baptista de Oliveira
Figueiredo nas promoções a general-de-exército, compreensivo com a preterição, seu prestígio
cresceu junto ao governo, cujos órgãos de informações já difundiam boatos infamantes a seu respeito,
para explicar sua ultrapassagem, caso surgissem reações. Esta indignidade de levantar calúnias
quanto aos preteridos inconformados estava em uso. Depois de tudo, foi promovido e nomeado Chefe
do Estado-Maior do Exército.
Entretanto, nem tudo se perdeu, nesse panorama de devastação moral; salvouse o exemplo
sublime do general Sellmann.
As atitudes desassombradas balizam na História a evolução moral do caráter humano, por isso
não olvidadas, são citadas a todas as gerações.
Recordemos uma delas.
Após a derrota de Waterloo, nos tempos tempestuosos e incertos em que vivia a França, o
marechal Ney - o Bravo dos Bravos - foi a julgamento por ter abandonado as hostes reais de Luís
XVIII e aderido a Napoleão 1. Reuniram-se na Câmara, em Paris, 161 Pares de França para
deliberar, encontrando-se entre eles marechais companheiros do réu nas gloriosas campanhas do
Império.
A acusação partia do rei: traição. A sentença era violenta: pena de morte.
Daquela centena e meia de orgulhosos Pares somente um ousou afrontar o poder real, votando
pela absolvição. Foi o duque Victor de Broglie.
Seu nome, que marcou um exemplo de coragem e nobreza, continua lembrado porque brilhou