IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

CARACTERIZAÇÃO


A primeira exigência que se faz ao estudioso do Movimento Militar de 31 de março de 1964 é defini-
lo como acontecimento histórico.


O que teria sido?

É esta a indagação espontânea feita àqueles que se encorajam a estudá-lo, revolvendo os fatos
deste processo de reação para dissecá-lo, em consonância com os conceitos já firmados por ilustres
analistas das ações insurrecionais.


Os que, como eu, nele tomaram parte consideraram-no uma Revolução, pelo menos assim o
admitíamos em março de 1964. Há os que, não tendo o que dizer, papagueando o que ouvem,
chamam-no de golpe de Estado, e existem também os seus irreconciliáveis adversários - ainda em
grande número - que, com o propósito de aviltá-lo, tacham-no de rebelião militar, motim de generais
ou revolta.


A rigor, não se enquadra no conceito histórico-cultural de revolução, porquanto uma revolução é
um evento mais profundo que, atingindo padrões da existência de um povo, transforma-lhe a filosofia
de vida. Destrói por finalidade uns, porém oferece outros em alternativa. Em virtude disso, vem
alicerçada num corpo de princípios, ou melhor, numa doutrina, cujos preceitos defendem-na e
preparam sua explosão, circunstância esta que, indubitavelmente, não ocorreu.


A ação militar foi realizada para defender a democracia, para resguardá-la da ameaça iminente
do assalto comunista às nossas instituições, finalmente, para evitar uma revolução marxista. Veio,
portanto, preservá-la. Não foi desencadeada visando a implantar algo de novo, mas sim a restaurar.
Entretanto, as correntes militares por ela responsáveis não se aperceberam ou não souberam
compreender que essa democracia, cujo trono nós, com a força de nossas baionetas e o apoio quase
unânime do nosso povo, sustentáramos de pé naquela época, tinha graves lesões no campo social que
precisavam, de imediato, ser curadas.


Seu sentido, reconhecidamente conservador, amolda-se mais ao pensamento tradicionalista
medieval de revolução do que ao hodierno conceito de transformação, o qual só caracteriza como
revolucionário o fato histórico que abre uma nova fase de aprimoramento cultural.


Revelou-se, na realidade, uma confabulação ampla e espontânea, porém sem doutrina e sem
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