IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

marxismo, mas, se influenciaram o prosseguimento das confabulações, não foram de molde a
deflagrar o Movimento Militar.


Mais incisivos sob este aspecto foram o famoso comício da Central do Brasil e a acintosa
reunião do Automóvel Clube, manifestações, estas sim, típicas dos preliminares de uma revolução
que se aproximava.


Além de tudo, o golpe de Estado tem por finalidade a derrubada de um governo, a deposição dos
homens que empolgam o poder, sem a intenção de modificar o sistema ou o regime. Não se pensa em
modificar ou criar, não se mexe nos alicerces da organização social, o que invariavelmente acontece
nas revoluções. Não se escudam, assim, os homens que o realizam, em um corpo de princípios,
dominando-os apenas objetivos imediatos, não raro soprados por índoles egoísticas.


Ajustando estas considerações ao Movimento de 31 de março, parece-me mais razoável defini-lo
como um golpe de Estado, do qual muito o aproximam as suas características.


Não foi uma revolução, no sentido preciso e moderno do termo, de transição entre duas fases
culturais, visto que não trouxe uma doutrina que lhe permitisse romper os nevoeiros de uma época em
busca de novos horizontes.


Podemos dizer que constaram dos propósitos de seus chefes o combate à miséria, a valorização
da pessoa humana, a luta contra a subversão, a recuperação econômica do país, enfim, os anseios de
tornar a Nação brasileira feliz e poderosa; mas é justo reconhecer, também, que tais desejos, por
serem encarados de modo genérico, por esvoaçarem em esfera platônica, não se traduziram em
preceitos, princípios e normas, não se consubstanciaram em uma doutrina que os pudesse tornar uma
realidade.


Não poderíamos chamá-lo de rebelião ou revolta, ações locais de menor envergadura e que, via
de regra, não visam a modificar estruturas políticas ou sociais. Dirigem-se, de modo geral, contra as
autoridades subordinadoras imediatas, quer com a finalidade de extinguir situações ou medidas
consideradas injustas e opressoras quer com a de satisfazer reivindicações admitidas como
legítimas, dignas da condição humana ou social dos rebelados.


Em nossa história republicana podemos encontrar, entre muitos outros, os exemplos da revolta da
vacina obrigatória e a da chibata, esta na Marinha de Guerra.


A população, levada às ruas pelos agitadores, quase sempre provoca desordens na tentativa, sem
resultado, de aparentar apoio aos insurretos, manifestações que a polícia torna efêmeras.


Uma rebelião ou revolta difere muito de uma revolução, o que já era percebido nos primórdios
da Revolução Francesa. Um episódio bem significativo, narrado por Carlyle2 ao descrever os
acontecimentos de julho de 1789, na França, permite essa interpretação:

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