entendido e obedecido.
A primeira fase de nossa Revolução, como já disse e convém repisar, exatamente a que exigia
numerosas e implacáveis depurações, reforma de militares, cassações e prisões, a do desprezo às
leis e às instituições abatidas, finalmente a fase da derrubada de tudo o que condenáramos e
julgáramos abjeto, coubera a um homem íntegro, no entanto de formação puramente institucional.
Embora ambos, em beneficio da Revolução, negassem divergências, os arrufos começaram cedo.
A eleição dos governadores, em 1965, tornou mais nítida essa discordância, assegurando-se
naquela época que o ministro Costa e Silva, em audiência, manifestara ao presidente seu desagrado
pela orientação seguida, considerada pela maioria da oficialidade muito tolerante e, sob certos
aspectos, até suicida.
O complacente apoio dado pelo presidente Castelo às candidaturas de Israel Pinheiro e
Francisco Negrão de Lima, respectivamente para os governos de Minas Gerais e da Guanabara,
agitou os militares que viam nesse procedimento imperdoável fraqueza do governo revolucionário.
Estes dois homens, estreitamente ligados aos setores que a Revolução combatera, foram amparados
por manobras políticas, arquitetadas nos bastidores de Brasília, falando-se em articulações
amaciadoras, realizadas pelo general Golbery para levá-los à vitória, como ocorreu. Além dessas
negociações, contavam os dois candidatos com poderosas amizades, sendo Israel Pinheiro amigo de
Juscelino Kubitschek e Negrão de Lima do próprio presidente.
Foram ambos eleitos em outubro de 1965, por ironia, nos dois estados dirigidos pelos chefes
civis da Revolução, num triste e desalentador teste.
Fervilhou a reação militar à posse dos eleitos, considerada uma afronta aos revolucionários.
Argumentou-se que a Revolução, mal dirigida, não ia bem, porque, menos de dois anos depois de ter
espocado, não tivera força nem prestígio para impor-se à opinião pública.
A posse desses dois homens - um juscelinista, em Minas Gerais, e o outro, vinculado ao
getulismo, votado em massa por comunistas e "pelegos , na Guanabara - retumbaria como uma traição
para aqueles que lutaram pela Revolução com idealismo sem o encantamento das posições de mando.
Em Mato Grosso, onde servia, chegaram-me notícias esparsas dessas maquinações, de maior
intensidade no Rio de janeiro, não sendo tais informações, como verifiquei posteriormente,
destituídas de verdade.
Uma transferência colocou-me no Comando da Divisão Blindada, no Rio de Janeiro, que assumi
no prazo de dez dias, por determinação superior. Certifiqueime então da tempestade que nos
ameaçara, pelas negras nuvens ainda dispersas no céu. Os momentos mostravam-se mais difíceis, por
estar convencida a oficialidade, particularmente, a da tropa e de postos mais baixos, de que a
Revolução mudara de rumos e seria tragada pelos militares ambiciosos e seus partidários políticos.