National Geographic - Portugal - Edição 227 (2020-02)

(Antfer) #1
REDEFINIR A BELEZA 17

Hyejin Yun submete-se
a uma intervenção
cirúrgica às pálpebras
na Clínica Hyundai
Aesthetics, em Seul.
O procedimento cria
a ilusão de que os
olhos são maiores.
A Coreia do Sul tem
uma das maiores taxas
de cirurgia plástica
do mundo. Uma em
cada três mulheres
com 19 a 29 anos já
fez cirurgia plástica.

AS REDES SOCIAIS AMPLIARAM as vozes das comu-
nidades minoritárias para que as suas reivindica-
ções de representatividade não possam ser tão
facilmente ignoradas. Além disso, o aumento de
publicações digitais significa que todos os mercados
se tornaram mais fluentes na linguagem da estética.
Surgiu uma nova categoria de negociadores de
poder: em inglês, os influencers. São jovens e inde-
pendentes, obcecados com o glamour da moda.
Os influenciadores da moda não aceitam desculpas,
condescendência ou pedidos paternalistas de
paciência porque a mudança parece iminente.
Os padrões da beleza contemporânea no Oci-
dente sempre assentaram na magreza. E quando
as taxas de obesidade eram menores, as modelos
magras pareciam apenas ligeiramente exagera-
das aos olhos da população em geral. No entanto,
à medida que as taxas de obesidade aumenta-
vam, a distância entre a realidade e a fantasia au-
mentava. Os consumidores começaram a sentir-
-se impacientes perante uma fantasia que já não
lhes parecia sequer remotamente tangível.
As bloggers obesas avisaram os críticos, pedin-
do-lhes que parassem de mandá-las perder peso
e de sugerir-lhes maneiras de camuflar os seus
corpos. Estavam perfeitamente satisfeitas com
os seus corpos. Queriam apenas que a moda fos-
se melhor. Queriam que a roupa fosse do seu ta-
manho – não saias mais compridas ou reformu-
lações de vestidos justos, sem mangas.
Não exigiam que as considerassem belas. Esta-
vam a exigir acesso ao estilo que achavam mere-
cer. Desta maneira, a beleza e a auto-estima tor-
naram-se indissociáveis.
Em termos económicos, o acesso das mulheres
corpulentas ao espectro de consumo fez sentido.
Vinculando-se aos padrões de beleza tradicio-
nais, a indústria da moda estava a deixar escapar
oportunidades de negócio. Estilistas como Chris-
tian Siriano fizeram questão de oferecer opções
a clientes mais corpulentas e, ao fazê-lo, foram
louvados como inteligentes e heróis do capita-
lismo. Hoje em dia, é relativamente comum, até
nas marcas mais exclusivas, haver modelos cor-
pulentas nos desfiles.
Contudo, esta nova forma de pensar não se re-
sume a vender mais vestidos. Se a questão fosse
meramente económica, os estilistas já teriam,
há muito, alargado os tamanhos, porque sempre
existiram mulheres grandes capazes de seguir a
moda e dispostas a isso. Ser grande não era con-
siderado belo e até Oprah Winfrey fez dieta antes
de posar para a capa da “Vogue” em 1998.

vam o mesmo dialecto de moda. Para elas, os con-
ceitos ali exibidos não deveriam ser interpretados
literalmente: ignoravam questões de apropriação
cultural; estereótipos racistas e todas as varieda-
des de ismos; ou estavam dispostas a ignorá-los.
Os negociadores de poder do mundo da moda
perpetuavam as tradições dos seus antecessores,
utilizando alegremente pessoas com pele negra
ou castanha como acessórios, em sessões fotográ-
ficas protagonizadas por modelos brancos.
No entanto, um grupo cada vez mais diversifi-
cado de consumidores endinheirados, uma rede
de venda a retalho mais abrangente e a nova pai-
sagem das redes sociais obrigaram a indústria da
moda a pensar melhor na forma como representa
a beleza. Marcas de roupa e cosmética têm agora
o cuidado de levar em consideração o crescente
número de consumidores da indústria de luxo
em países como a Índia e a China, recorrendo a
mais modelos asiáticas.

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