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A gaúcha Mirian Fichtner vive
há 33 anos no Rio de Janeiro (RJ),
onde desenvolveu a carreira. O
primeiro projeto documental surgiu
em 2005, quando ela leu uma
matéria no jornal O Globo (com a
tabulação do censo do IBGE sobre
as religiões de matriz africana no
Brasil) que colocava o Rio Grande
do Sul como o estado brasileiro com
maior número de adeptos declarados
e de terreiros proporcionalmente
ao número de população. “Eu era
editora de fotografia da revista Época
e desejava mergulhar em um mundo
desconhecido para realizar um
trabalho autoral em profundidade.
MIRIAN FICHTNER E O SUL AFRO
Pedi demissão e fui para o sul
articular esse trabalho. Pensei que
iria realizá-lo em um ano, mas levei
quatro até sair o livro”, conta.
Foram dois anos pesquisando,
visitando e conhecendo o Batuque,
como é conhecida a religião de
origem afro no sul do Brasil, mais
dois anos fotografando e preparando
o livro Cavalo de Santo: religiões
afro-gaúchas, publicado em 2010
pela Fundação Cultural Palmares. O
processo de pesquisa envolveu visita a
100 terreiros e 30 casas de santo, dos
quais foram escolhidos 13 para entrar
no projeto. “Ao longo da pesquisa,
percebi que o tema não fazia parte da
Fotos do projeto
Cavalo de Santo, de
Mirian Fichtner, sobre
religiões afro no Rio
Grande do Sul
cultura oficial gaúcha. Essa suspeita se
materializou nas inúmeras recusas de
patrocínio ao projeto”, lembra.
A persistência, uma das principais
qualidades em um fotógrafo
documental, acabou trazendo
recompensas. O projeto gerou quatro
grandes exposições, no Santander
Cultural, em Porto Alegre (RS), na
Casa dos Azulejos, em Rio Grande
(RS), no Centro Cultural da Justiça
Federal, no Rio de Janeiro (RJ), e no
Museu da Cultura Afro-Brasileira, em
Salvador (BA).
O livro ganhou o 2o Prêmio
Nacional de Cultura Afro-Brasileira,
em 2012, e o 1o Prêmio Petrobrás
Fotos:
Mirian Fichtner