Sabor Club - Edição 38 (2020-03)

(Antfer) #1

PARA EDINHO ENGEL, A REVELAÇÃO QUE veio
do mar se deu por volta dos oito anos, de férias com
os pais em São Vicente, litoral sul de São Paulo. O
cheiro do bronzeador argentino Rayito de Sol ele não
esquece, mas a epifania veio na primeira travessa de
pequenos crustáceos salteados no alho. A centenas
de quilômetros da costelinha à mineira, entravam
em cena os camarões à paulista.
Hoje, quando os passarinhos começam a cantar
na varanda sobre palafitas no meio da mata, a brisa
do mar sacode a folhagem e as lulas recheadas
com camarões pousam à mesa do seu restaurante
(acompanhadas de musseline de mandioquinha e


molho de vinho), a gente entende a importância da
cena praiana da infância que é nítida na memória
do chef.
Porque Edinho Engel é de Uberlândia e cresceu
vendo o porco virar linguiça na fazenda da família
no Triângulo Mineiro. Mas seguiu seu coração
inquieto nas muitas voltas de uma biografia
onde destacamos a abertura, anotem o nome, do
Sertãozinho Fast Food.
Na mata fechada, a casa serviu marmitas para
surfistas, pescadores e bichos-grilos da Camburi
dos anos 80, até se transformar num porto seguro
da gastronomia praiana com nome de uma flor que
muda de cor: Manacá. O restaurante comemora 30


anos mantendo os prazeres do cardápio original,
servido a 200 metros do mar da praia ao norte
da capital paulista.
“Quando cheguei em Camburi não sabia
nada sobre frutos do mar, e não havia informação
na época, internet ou programa de TV. Até livro
era difícil encontrar. Aprendi na marra, com os
pescadores”, diz Edinho, que hoje comanda também
o restaurante baiano Amado, em Salvador, e foi
definido pelo chef Alex Atala como “um dos grandes
embaixadores da gastronomia regional brasileira”.
É verdade que o chef mineiro que se espalhou
pelo Brasil guardava certa alma hippie dos anos

70 quando se instalou no berço verde do Manacá,
mas com espírito empreendedor e o amor pela
restauração adquirido no Fazenda Mineira, animado
empório e restaurante que dirigiu em 1980 no bairro
paulistano de Pinheiros. Isso depois de se formar em
Ciências Sociais, trabalhar em cargo importante no
Metrô, desistir da carreira e vender pão de queijo e
coxinha na rua, de cesta na mão.
“Para um mineiro, eu me sentia o máximo
fazendo um camarão grelhado no início do Manacá,
mas teve um dia que uma italiana na mesa me
perguntou: cadê o molho? Minha cara caiu”, recorda.
Foi a deixa para Edinho enfileirar cursos de
gastronomia, mergulhar em leituras e passar

“Para um mineiro, eu me sentia o máximo fazendo um camarão grelhado. Até que
um dia, uma italiana na mesa me perguntou: ‘cadê o molho?’ Minha cara caiu”

Manacá, 30 anos
Fim de semana com chef convidados marca o aniversário

A festa aconteceu com dois jantares. O primeiro foi conduzido pelo
francês Matthieu Dupuis Baumal, do Château de La Gaude, na Provence.
E o segundo contou com os chefs Emmanuel Bassoleil, Luciano Boseggia,
Hamilton Mellão, Maurício Santi, Gustavo Rozzino e Lina Borges, primeira
cozinheira da casa. “Chamei os caras que fizeram minha cabeça lá atrás”,
diz Edinho. A noite em Camburi teve pratos como o robalo ao vapor com
creme de champagne e caviar, de Bassoleil, e o camarão rosa ao molho
de prosecco e tartufata sobre medalhão de pupunha, de Boseggia.
Todos harmonizados pelo sommelier Manoel Beato, outro grande amigo.
Free download pdf