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AERO RESPONDE
V
oar de dia, sem nuvens, no conheci-
do “céu de brigadeiro”, é um prazer
enorme a pilotos e passageiros. Mas o
tempo CAVOK não nos exime de efetuar um
planejamento adequado para o voo no que diz
respeito não só à operação da aeronave, mas,
também, a saúde e bem-estar a bordo. Sim,
o sol que ilumina nossas paisagens também
deve ser levado em consideração no planeja-
mento de um voo.
ÓCULOS
O cuidado mais básico para pilotos e passagei-
ros de pequenos, médios e grandes aviões é o
uso de óculos escuros. Aliás, os óculos que ve-
mos em uso nos dias de hoje foram criados no
início dos anos 1920 para que pilotos pudes-
sem se proteger do vento (voava-se em cabine
aberta) e, obviamente, da claridade do sol.
O não uso desse acessório e a exposição
direta aos raios solares e à claridade pode favo-
recer diversos problemas à saúde, incluindo ca-
tarata, lesão na córnea, degeneração muscular
e, em casos extremos, cegueira.
Lentes de bons fornecedores (não aquelas
“piratas”, compradas no camelô da esquina)
podem possuir proteção contra os raios UVA e
UVB, sendo mais um fator importante na sua
escolha.
LENTES POLARIZADAS
Mas atenção! Óculos com lentes
polarizadas podem não ser ideais
para os pilotos que voam em
aeronaves com instrumentos
digitais. É que esse tipo de lente
pode ofuscar a leitura do painel
de instrumentos, causando um
problema operacional à aeronave
e certamente à segurança de voo.
Outro fator importante a ser
considerado em um voo diurno
sob sol forte é o uso de protetor
solar. Em uma cabine estamos
sofrendo a influência direta dos
mesmos raios UVA e UVB cita-
dos anteriormente, só que nesse
caso sobre a nossa pele. Não é
novidade para ninguém que a
exposição a esses raios pode cau-
sar doenças perigosas, sobretudo
o câncer de pele. Há casos de
pilotos que só voam com camisas
ou camisetas de manga comprida
e calça comprida para evitar essa
exposição.
O boné também é um aces-
sório que pode ajudar muito a
nos proteger da incidência direta
do sol. Há aeronaves com teto
translúcido, com exposição
direta da luz solar sobre nossas
cabeças. No caso de pilotos
calvos, a situação é mais crítica e
pode levar a queimaduras.
OPERAÇÃO
Do ponto de vista operacional,
o sol também tem influên-
cia direta sob os pilotos. Em
pistas perfeitamente alinhadas
com o nascer ou o pôr do sol,
podemos ter problemas para
segurança. Há um famoso caso
no aeroporto de Guarulhos em
que um Airbus A340 vindo da
Europa pousou em uma pista
de táxi sentido cabeceira 27.
Por sorte, não havia nenhuma
aeronave na taxiway naquele
momento e não houve con-
sequências mais graves. Ao
entrevistar o piloto, a investi-
gação concluiu que sua visão
fora ofuscada pela névoa seca
e o pôr do sol alinhado à pista.
Para quem tiver curiosidade, o
relatório dessa investigação está
disponível no site do Cenipa.
Após o voo, deixar uma
aeronave exposta aos raios solares
por muito tempo, principalmente
quando não é possível guardá-la
sob a cobertura de um hangar,
pode ter consequências. Além de
aumentar a temperatura interna
com risco de danos para assen-
tos, partes plásticas e, em casos
extremos, conexões de instrumen-
tos e aviônicos (principalmente
os digitais), a sua pintura poderá
apresentar sinais de queimadura
pelo sol com perda do brilho,
mudança de tonalidade original e
bolhas, que certamente causarão
despesas futuras para seu reparo.
Elepodeimpactarnasaúdedosocupantes,nasegurança
dovooe,também,naestruturadaaeronave
COMO O SOL INTERFERE
EM MINHA OPERAÇ ÃO?