Aero Magazine - Edição 308 (2020-01)

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ajudou a elaborar a atual legislação,
moldando a linguagem da lei e su-
perando as críticas dos reguladores
de acordo com suas necessidades.
Na época da mudança na normal, a
FAA afirmou que o processo “não
seria de interesse da segurança” e
que, no fim do processo, a agência
se tornaria apenas um avalista, ca-
rimbando o que fosse entregue sem
poder de vetar diversos pontos.
O poder de intervenção ocorreria
apenas após um acidente. O proce-
dimento fez com que os congressis-
tas norte-americanos descobrissem
que a FAA nunca analisou por
completo o MCAS.

NOVOS PROBLEMAS
“O problema é que a Boeing tem
agora dois acidentes na conta e a
FAA, poder para vetar tudo que
considerar incorreto”, considera o
analista Willian Clark. “Foi aberta
a caças às bruxas”. Desde a proibi-
ção dos voos, a FAA iniciou uma
minuciosa revisão do projeto do
737 MAX, estendendo a avaliação
para a série Next Generation.
Durante a auditoria no proces-
so de recertificação do 737 MAX,
a Boeing encontrou problemas
na fiação da aeronave. O projeto
original colocou dois chicotes da
cablagem do sistema de controle

para as superfícies de controle no
estabilizador muito próximos, o
que, em caso de sobrecarga, pode
gerar um curto-circuito. A FAA
exigiu testes completos para avaliar
o risco de incêndio, que, caso se
mostre positivo, obrigará a Boeing
a rever a fiação nos quase 800
aviões 737 MAX já construídos.
Outro problema recente foi
um defeito nos trilhos dos slats,
que afetou (até o fechamento desta
edição) 178 conjuntos de trilhos,
instalados no 737 MAX e outros
133 sistemas que voam no 737 NG.
Em comunicado, a FAA informou
ter encontrado o problema em 311
conjuntos da família 737 e que,
diante de uma quebra potencial,
podem afetar a segurança de voo.
A agência ressaltou que deverá
aplicar uma multa à Boeing, pois
o fabricante informou que as
aeronaves envolvidas estavam em
perfeitas condições de voo. Mais
um agravante, segundo a FAA, é
que a Boeing não assegurou que as
peças entregues por seus fornece-
dores atendiam a critérios técnicos
exigidos. A multa aplicada para o
MAX foi de US$ 5,4 milhões e à do
NG chegou a US$ 3,9 milhões.
Um terceiro caso grave foi
anunciado pela própria Boeing,
que disponibilizou ao Congresso
dos Estados Unidos, mensagens de
texto de seus funcionários critican-
do o processo de certificação do
737 MAX conduzida pela Boeing
e chancelada pela FAA. Os pilotos
se referem a falhas nos simuladores
de voo. “Este avião [o 737 MAX]
é desenhado por palhaços, que,
por sua vez, são supervisionados
por macacos”, diz uma mensagem
interna trocada por funcionários em
2017, um ano antes do acidente com
o voo da Lion Air. A Boeing, na oca-
sião, afirmou ter divulgado a íntegra
das mensagens por seu compromis-

so com a transparência no processo
de recertificação do 737 MAX.

RECERTIFICAÇÃO
Analistas avaliam que a FAA reali-
zará uma completa reavaliação de
todos os sistemas, processos e cons-
trução do 737 MAX. “Existe o risco
de agora a FAA reverter as normas
de certificação, passando a exigir
do projeto do 737 níveis e padrões
de segurança atuais, diferentes
daqueles dos anos 1960, quando o
737 foi construído”, sugere Clark.
O temor é que tal medida torne
ainda mais demorada a recertifica-
ção, visto que, desde a série -200,
a Boeing basicamente homologou
as séries Classic, Next Generation
e MAX baseada em uma atualiza-
ção e não como um novo projeto.
“Era algo corriqueiro, já que eram
mudanças pontuais a cada projeto
e não um novo design. Agora, de-
pendendo de como as autoridades
de todo mundo vão considerar o
MAX, um novo projeto deve seguir
padrões atuais ou uma atualização
de projeto de 1968”.
As autoridades ainda devem
exigir um treinamento adicio-
nal, em simulador, para todos os
pilotos do 737 MAX, o que deverá
onerar ainda mais o programa e
ampliar o cronograma para retor-
no das operações.
A expectativa de diversos
operadores é poder retomar os
serviços comerciais em meados de
junho ou julho deste ano de 2020,
caso a FAA e demais agências de
aviação emitam o certificado de
tipo antes de março. Até lá, o futu-
ro do 737 MAX continua incerto,
ao mesmo tempo em que a Boeing
poderá levantar até US$ 5 bilhões
em dívidas adicionais, para ajudar
a cobrir as despesas que devem
atingir, no primeiro semestre, a
marca de US$ 15 bilhões.

A EXPECTATIVA DE


DIVERSOS OPERADORES


É PODER RETOMAR OS


SERVIÇOS COMERCIAIS


COM O 737 MAX


ATÉ AGOSTO

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