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B6 Economia QUARTA-FEIRA, 4 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Nova roTa
camilafarani
números
foram economizados por
usuários da assistente
financeira, de acordo com
informações da fintechExperiência. Depois de três décadas à frente de transportadora da família, Carlos Mira decidiu criar a TruckPad; empresa quer triplicar suas operações ao longo do ano e busca aportes
Construção civil
Vedacit investe em
cinco startups
A empresa de impermeabili-
zante Vedacit anunciou as
startups selecionadas para o
seu programa de inovação.
Além de R$ 100 mil cada, cin-
co startups da área de cons-
trução civil terão seis meses
de residência nos escritórios
da WeWork e receberão ace-
leração da Liga Ventures.O
início de 2020 nos brindou com a chegada
de alguns modelos de aparelhos celulares
bem especiais: os smartphones de tela do-
brável. De maneira híbrida, eles remontam tanto
ao padrão atual quanto aos antigos celulares do-
bráveis. Chamou muito a atenção o Razr, da Moto-
rola, que trouxe de volta o conceito do modelo V3,
sucesso nos anos 2000. Embora tenha uma tecno-
logia completamente nova, a marca fez da volta
ao passado o grande argumento do lançamento e
buscou tocar o lado sentimental do consumidor.Buscar no passado as referências que vão ditar
a inovação do futuro não é algo novo, mas é inegá-
vel que tocar o lado emocional dos clientes pode
dar muito certo. Segundo Gerard Zaltman, pro-
fessor emérito da Harvard Business School e es-
pecialista em comportamento do consumidor,
95% das nossas decisões de compra ocorrem de
forma intuitiva e emocional. Essa teoria é corro-
borada por um levantamento feito pela consulto-
ria Forrester. Realizado em 2016, o estudo afirma
que a ligação emocional entre uma marca e seu
consumidor é capaz de garantir um aumento de
85% nas vendas. Ao possibilitar que antigas cone-
xões sejam restabelecidas, as marcas que usam
essa estratégia estimulam a compra.
É algo que a indústria automobilística faz com
muita frequência, lançando veículos novos comnomes que tiveram uma história de sucesso. Mes-
mo que seja outro carro, em outra época, aquela
lembrança dos bons tempos vividos naquele mo-
delo de veículo, mesmo que décadas atrás, vol-
tam à mente do consumidor.
E como explicar, na era de serviços fantásticos
de streaming de música como o Spotify ou o Dee-
zer – em que se pode encontrar qualquer música
ou álbum que se queira ouvir com apenas alguns
toques na tela do celular – que muitas pessoas
ainda busquem os bons e velhos discos de vinil?
Ou que em uma época que os jogos são compra-
dos ou baixados online, e em que se fabricam
games complexos, com imagens de altíssima defi-
nição, que a Nintendo esgotaria rapidamente os
estoques do seu primeiro console – o NES, lança-
do em plena década de 80 – quando fez um breverelançamento, em 2016?
Talvez Freud explique! Mas voltando aos tele-
fones celulares, talvez a indústria tenha encontra-
do nas referências do passado – aquelas que insti-
gam a lembrança dos consumidores – um cami-
nho para a inovação do futuro. Inovação esta que
ficou estagnada nos últimos anos, quando pou-
cas novidades importantes surgiram no mercado
e as marcas perderam um pouco a capacidade de
encantar e surpreender. Afinal, quem é que se
sente motivado em pagar caro por um celular
novo apenas para ter uma câmera um pouco me-
lhor, ou uma bateria que dura uma hora a mais?]
É INVESTIDORA ANJO E PRESIDENTE DA BOUTIQUE DE
INVESTIMENTOS G2 CAPITAL13 mil
estabelecimentos já são
parceiros da TruckPad hoje no
Brasil; desafio da empresa
agora será de conseguir atrair
os contatos para seu sistema
de pagamentos, TruckPad Pay300%
é o quanto a startup TruckPad
pretende aumentar seu time
de funcionários até o final
deste semestre; cerca de 400
vagas estão abertas em São
Paulo, na sede da empresaTruckPad, criada em
2012, lança carteira
digital, enquanto CargoX
programa para acelerar
transportadoras
Olhar o passado
para inovar no futuro
Bruno Capelas
Fundador da startup Truck-
Pad, Carlos Mira conhece
bem os vários entraves do
mundo do transporte de car-
gas – antes de dar início à em-
presa, criada em 2012, ele tra-
balhou na transportadora de
sua família por três décadas.
“Eu não sou um startupeiro
tradicional. Tenho diesel na
veia”, diz o executivo de 52
anos. Inicialmente concebi-
da como um “Uber dos cami-
nhões”, ajudando profissio-
nais autônomos a encontrar
cargas, o TruckPad quer ago-
ra resolver outro problema
do setor: o pagamento. A par-
tir desta semana, começa a
testar o TruckPad Pay, seu
serviço de carteira digital.
Já certificada pela Agência
Nacional de Transportes Ter-
restres (ANTT), a carteira será
toda operada via aplicativo e po-
derá ser usada tanto para o rece-
bimento dos fretes como para
pagamento de serviços, o que
inclui abastecimento de gasoli-
na, refeições e manutenção dos
caminhões. “Hoje, o caminho-
neiro recebe uma série de car-
tões pré-pagos e não tem ideia
do saldo ali presente. Com o
TruckPad Pay, ele vai poder sa-
ber quanto vai receber, quanto
tem de adiantamento e até mes-
mo incluir o saldo dos outros
cartões”, explica Mira, com ex-
clusividade ao Estado.
Segundo o executivo, o servi-
ço não terá custo para o cami-
nhoneiro. O modelo de negó-
cios por trás do TruckPad Pay se
baseia em dois outros pilares.
Quem contratar uma carga pa-
gará uma comissão sobre o frete
à startup – segundo Mira, o va-
lor deve girar em torno de 1%. A
empresa também pretende co-
brar uma comissão dos comer-
ciantes que aceitarem receber
pagamentos por meio do servi-
ço. Mas haverá uma vantagem: o
TruckPad Pay funcionará sem
maquininha. Tudo será via celu-
lar, com pagamentos via QR Co-
de, com o dinheiro caindo dire-
tamente na conta do vendedor.
“Já temos uma rede com 13
mil estabelecimentos parceiros
do TruckPad, oferecendo des-
contos para os caminhoneiros
do app. Esperamos conseguir
bastante adesão”, diz o presi-
dente executivo da startup.
Além disso, a empresa pretende
ampliar seu serviço de inteligên-
cia de negócios, hoje já ativo em
parcerias com empresas como
Shell, Michelin, ZF e Mercedes
Benz – esta última, inclusive, é
uma das acionistas do Truck-
Pad. “Hoje, enviamos uma noti-
ficação para o caminhoneiro fa-
lando sobre promoções de
pneus no app. Com o TruckPad
Pay, vamos fechar o ciclo e po-
der afirmar que a compra veio
das notificações”, diz Mira, que
espera receber comissões dos
parceiros pelas vendas.
Para o consultor Edson
Santos, especialista emmeios de pagamento, a criação
de uma rede de clientes e estabe-
lecimentos é o maior desafio do
TruckPad no momento. “Muita
gente tem olhado para pagamen-
tos como uma forma de ajudar a
monetizar um negócio. A chance
de sucesso do TruckPad Pay de-
pende de desenvolver os dois la-
dos do mercado, dando valor a
caminhoneiros e lojistas”, diz. “É
um bom negócio, mas há risco
enorme para que ele seja viável.”Passo. No primeiro mês de
operação, o TruckPad Pay esta-
rá presente em apenas algumas
rotas específicas e será testado
por um grupo de até 2 mil cami-
nhoneiros, pertencentes a uma
rede de uma transportadora par-
ceira da startup. Por enquanto,
o serviço é tocado por apenas
oito pessoas, mas a contratação
vai crescer nos próximos me-
ses. Após encerrar 2019 com 150
funcionários, o plano do Truck-
Pad é chegar a pelo menos 600
pessoas até o fim do semestre,
ocupando todo um prédio de 12
andares na região da Avenida
Paulista, em São Paulo.
A empresa pretende ainda tri-
plicar as operações com seu negó-
cio principal, o de marketplace
de fretes – em 2019, a empresa
movimentou R$ 700 milhões em
fretes. Este ano, quer saltar para
R$ 2 bilhões.
Com os bons números, a em-
presa também pretende nego-
ciar sua primeira rodada de inves-
timentos com fundos de capital
de risco. Até aqui, só captou
com parceiros institu-
cionais, como a já
citada Merce-des Benz, a aceleradora Plug and
Play e a startup chinesa First
Truck Alliance, que tem negócio
parecido na Ásia. Com a rodada,
que deve ser fechada em 2020, é
bem possível que a empresa che-
gue ao status de unicórnio – negó-
cio avaliado em pelo menos US$
1 bilhão. Mas essa não é a meta de
Mira. “Não quero ser unicórnio.
Não deixei minha carreira na
transportadora para fazer voo de
galinha”, diz ele, em referência a
negócios que alcançam avalia-
ções altas e depois quebram.Aceleradora. Outra empresa
do setor do transporte de cargas
que é cotada como futuro uni-
córnio é a CargoX. Fundada pe-
lo argentino Federico Vega, a
startup tem funcionamento um
pouco diferente do TruckPad –
seu foco está em ajudar as peque-
nas transportadoras, em vez do
caminhoneiro autônomo. Além
disso, ela vai além do papel de
marketplace, também se res-
ponsabilizando por aspectos de
segurança ao longo do trajeto,
monitorando o transporte.
“Nosso sistema de geolocali-
zação avisa ao motorista, por
exemplo, se um posto é perigo-
so por ter atividades ilegais co-
mo prostituição ou tráfico de
drogas”, explica Vega, que traba-
lhou no mercado financeiro e
decidiu criar a empresa após via-
jar pelo Brasil de bicicleta. De
2013 para cá, a CargoX juntou
ao seu redor nomes de peso: obanco Goldman Sachs, a gesto-
ra Blackstone e o fundo do bilio-
nário George Soros são investi-
dores. No conselho, há assen-
tos para Oscar Salazar, ex-dire-
tor de tecnologia do Uber, e Pau-
lo Veras, cofundador do primei-
ro unicórnio brasileiro, a 99.
Para seguir em frente, a em-
presa agora aposta num siste-
ma de aceleração de transporta-
doras. “Hoje, a vasta maioria
das transportadoras brasileiras
tem até cinco caminhões, em
um sistema pouco profissionali-
zado e constantemente com di-
ficuldades de fechar as contas”,
explica Vega. A ideia é fornecer
capital de giro, acesso à tecnolo-
gia e benefícios como descon-
tos em um clube de vantagens
para essas pequenas empresas- hoje, a startup afirma ter cerca
de 20 mil companhias do tipo
em sua rede de contatos.
Para a professora Priscila de
Souza Miguel, da Fundação Ge-
túlio Vargas (FGV), o desafio da
CargoX será mostrar às parcei-
ras que o que tem a oferecer é
valoroso. “Este é um mercado
superpulverizado, mas quem
contrata está muito mais de
olho em custos. É preciso saber
o quanto a CargoX vai conseguir
agregar de valor para essas em-
presas no final do dia”, diz ela.
A expectativa é de que a acelera-
ção consiga ajudar a CargoX a do-
brar seu valor em cargas movi-
mentadas este ano – em 2019, fo-
ram R$ 13 bi. Hoje, a empresa tem
400 pessoas e quer chegar a 650
até o fim do mês. Mas Vega não
liga para ser um unicórnio. “Lá na
Patagônia, não tem disso não”,
brinca. “Só ovelhas mesmo.”
DA BAHIA
Startup Agilize
abre 40 vagas
A startup baiana de contabilida-
de Agilize está com 40 vagas
abertas em sua sede em
Salvador. A remuneração
pode chegar até R$ 18 mil
em áreas como analista
de marketing e cientista
de dados. As inscrições podem
ser feitas no site da startup:
http://bit.ly/32MIzZF100 mil
é o número de
downloads da
assistente Olivia,
lançada em janeiroR$ 15 mi
WERTHER SANTANA/ESTADÃOGestão. Vega,
da CargoX,
quer ajudar
transportadoraFELIPE RAU/ESTADÃOStartups de
caminhão
fazem apostas
para expandir
CELIO MESSIAS - 12/11/2008