82 NATIONAL GEOGRAPHIC
Marie
Tharp
1920-2006
Cartografouoleito
marinhoe propôsa
teoriadaderiva
continental.
Dados do leito marinho
recolhidos por sonar e
meticulosamente
registados ajudaram
os geólogos Marie Tharp
e Bruce Heezen a provar
a teoria, então marginal,
das placas tectónicas.
JOE COVELLO
A Segunda Guerra
Mundial deu a Marie
Tharp a oportunidade
de fazer uma descoberta
revolucionária. Os alunos
masculinos tinham
partido para a guerra e
Marie aproveitou a
oportunidade para
estudar geologia, um
campo até então hostil
para as mulheres. Após
uma breve colaboração
como geóloga de
campo de uma empresa
petrolífera, foi contra-
tada como assistente
técnica na Universidade
de Colúmbia, onde
conheceu um aluno
chamado Bruce Heezen.
Juntos, Marie e Bruce
embarcaram num
projecto ousado:
decidiram cartografar o
fundo do mar.
Naquele tempo as
mulheres não podiam
trabalhar a bordo de
navios de investigação
científica e, por isso,
Bruce utilizou as medi-
ções de sonar que já
promovera em expedi-
ções oceânicas, algumas
das quais financiadas
pela National Geogra-
phic. Na Universidade
de Colúmbia, Marie
transformou em mapas
os dados e medições
obtidos por centenas
de outras expedições.
Enquanto trabalhava
no primeiro mapa do
oceano Atlântico,
reparou num vale que
atravessava o leito
marinho e concluiu que
sectores da crosta terres-
tre pareciam mudar de
posição. A teoria da
deriva continental foi
“quase uma espécie de
heresia científica”, diria
Marie mais tarde.
No início, o próprio
Bruce não aceitou a
teoria de Tharp,
desvalorizando-a como
“tagarelice de raparigas”.
No entanto, a sua
conclusão foi reforçada
pelas leituras de sonar.
Esta fenda da Terra
convenceu a comuni-
dade científica de que
os continentes tinham
outrora sido uma única
massa terrestre, posterior-
mente separada pelos
movimentos tectónicos.
Com financiamento
atribuído pela Marinha
dos EUA e pela National
Geographic, o projecto
foi publicado em 1977
como o mapa do “Leito
Marinho Mundial”, a
primeira reprodução
global do fundo dos
oceanos. Este mapa
revelou uma paisagem
coberta de cordilheiras
vulcânicas e picos tão
altos como o Evereste,
dividida por uma costura
com quase 65 mil
quilómetros ao longo da
superfície da Terra.
“Foi uma oportunidade
única na vida, única na
história do mundo, para
qualquer pessoa, mas
sobretudo para uma
mulher na década de
1940”, escreveu.
No ano a seguir à
publicação do mapa,
Marie e Bruce recebe-
ram a Medalha Hubbard,
a mais alta distinção
da National Geographic,
que reconhece proezas
singulares nas áreas da
investigação, descoberta
e exploração. Marie
morreu em 2006.