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Nomomentoemqueo BMW,lançadoa altavelo-
cidade,emergiudofumodoseucaliptosa arder
e seprecipitoucontrao seucarrodebombeiros,
FilipaRodriguesnemtevetempoparareagir.“Só
tivetempoparapensar:‘Vamoschocar’”,diz,mas-
sajando as marcasde queimadurasnosbraços.
O carroembateunelese oscincobombeirosvolun-
tárioscambalearamparaforadoseucamiãodes-
truídoemplenoinfernodechamas.
OVerãode 2017 estavaa começare osbombeiros
tinhamacabadodeentrarnumdospioresincên-
diosquealgumavezassolaramPortugal,prenún-
ciodeumanovaerademega-incêndiosqueem
brevedevastariavárioslocais,deEspanhaà Austrá-
Texto de SAUL ELBEIN
lia. Assim que saiu do camião, Filipa, então com 24
anos, sentiu imediatamente os óculos de seguran-
ça a derreterem contra o rosto: quando os arrancou,
a pele veio atrás. Piscou os olhos no meio do fumo
e viu eucaliptos a voar, projectados pelos ventos e
pelas maiores chamas que alguma vez vira.
Filipa não era profissional – à semelhança de
três gerações de familiares do sexo masculino,
pertencia aos bombeiros voluntários, o regime
de combate ao fogo que, desde a década de 1950,
presta serviço na primeira linha de defesa contra
incêndios nas povoações de várias acidentadas
colinas calcárias do interior de Portugal. Todos
os verões, indivíduos de todos os estratos sociais