30 |Valor|Sexta-feira,6demarçode2020
P
or duasvezes,Gabriella Anticien-
frentouo câncerde mama.Em ou-
tubrode 2015,depoisde recebero
primeirodiagnóstico,seu pensa-
mentofoi imediatamentepara umfilho que
entraranumauniversidadeamericanae ti-
nha se mudadoparaos EstadosUnidos.
“Pensei:não possomorrer.Tenhode ficar vi-
va para vê-lose formar”, relembra.Gabriella
tinha48 anosàépoca.Doisanosdepois,
quandooutrocâncerapareceu,sua atenção
sevoltouparaumadesconhecida—umaati-
tude que mudariatantosua vida comoa de
muitasbrasileirasque, comoela, são diag-
nosticadascomadoençatodososanos.
Eraofimdesetembrode2017eGabriella
tinhachegadodo hospitalquandouma
amigaligoupara sabersobreseu estadode
saúde.Ela acabarade passarpela segunda
cirurgiana mesmamamaem 18 meses—a
intervenção anterior ocorrera em marçode
2016.Para tratardo primeirotumor, areco-
mendação médicafoi passarpor quatro
mesesde quimioterapiaantesda mastecto-
mia. Na vez seguinte foi feito o inverso,com
acirurgiaantesdaquimioterapia.
Era isso que Gabriella—um nomecom
sólidareputaçãono mercadofinanceiro—
explicava paraamigaao telefone,quando
estacontouquesuaempregada,de40anos,
tambémtinhacâncerde mama,mas preci-
sariaesperar seis mesespara começar o tra-
tamentonoserviçopúblicodesaúde.“Sentiumaespécie de caloredisse que
aquiloera desumano”, diz Gabriella,hoje
com 52 anos.“Foi uma coisadivina.”Depois
de desligaro telefone,ela não conseguiu
maispararde pensarem comoajudarmu-
lheresque viviamdramasemelhanteao de-
la, sem contarcom recursosfinanceirosne-
cessáriospara buscar acura. “O tratamento
éeficazem 95% dos casosde câncerde ma-
ma, mas desdeque a doençaseja diagnosti-
cadasuficientemente cedo”, afirma.A de-
morapara detectarotumor, ou tratá-lode-
pois do diagnóstico, faz com que a taxa de
mortalidadeno Brasilseja maisde três ve-
zes maiorque a dos EUA:enquanto8% das
americanas morrem em decorrência da
doença,entreasbrasileirasaincidênciaéde
25%—umaemquatropacientes.
AindignaçãodeGabriellafoiopassoinicial
de um trabalhode mobilizaçãoque, em ju-
nhode2018,resultarianacriaçãodoInstituto
Protea.O nome, emprestado de umaflor da
África do Sul com enorme capacidadede se
adaptaraambientesinóspitos,éumametáfo-
ra dos percalços que pacientes de baixarenda
têm de enfrentarpara se tratar no sistemapú-
blicode saúde, o SUS, do qual 75% da popula-
çãodependeexclusivamente.
“Comoos hospitaispúblicosnão têm ca-
pacidadede atendera todos,oSUS creden-
cia hospitaisparticularesou filantrópicos.
Mas orepassede recursoschega,no máxi-
mo,a40%docustodeatendimento”, dizGa-SAÚDE
GabriellaAntici
está à frente do
Instituto Protea,
queajuda
mulheres a
receberem
tratamento de
qualidade apóso
diagnósticode
câncerdemama.
Por João Luiz
Rosa, deSãoPaulo
Flor que semeia
a solidariedade
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