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O ESTADO DE S. PAULO 43
viagem 13/3/2020 A 19/3/2020 43
VIAJAR É
POSSÍVEL
Adriana Moreira
Germes, vírus
e bactérias
A EXPERIÊNCIA DE QUEM USOU
H
á alguns anos, fiz uma via-
gem para os Estados Unidos
com conexão no Panamá. Em ca-
da trecho, escolhi uma poltrona
diferente. Desci do avião e fui co-
mer algo antes de buscar meu por-
tão de embarque. Descobri que
era o mesmo do qual eu havia de-
sembarcado – e o avião, o mesmo
que eu tinha vindo. Até aí, tudo
normal. Minha surpresa, no entanto,
foi que, ao entrar no avião, os cober-
tores usados no primeiro trecho ha-
viam sido dobrados e colocados so-
bre as poltronas, juntamente com os
travesseiros, como se estivessem lim-
pos. Corri até minha antiga poltrona
e peguei o meu, mas muita gente fi-
cou sem cobertor – ou ficou com o
cobertor usado por outra pessoa ao
longo de 7 horas. Eca.
Em tempos de coronavírus, mui-
tos passageiros adotaram a estraté-
gia de usar máscara no avião para
se proteger de um possível colega
infectado. Mas há muito mais ger-
mes entre o bagageiro e o assento
do que sonha nossa vã filosofia.
Em 2018, o site Travel Math fez
uma pesquisa para identificar os lu-
gares mais nojentinhos de aeropor-
tos e aeronaves. E se você acha que o
pior de todos é aquele banheiro fedi-
do, errou.
Nos aeroportos. Prepare-se para um
choque. Se você é aquela pessoa
que usa papel higiênico para mexer
no trinco do banheiro, sinto dizer
que você está concentrando seus
esforços germofóbicos no lugar er-
rado. O trinco, com apenas 70 uni-
dades de formação de colônia por
centímetro quadrado (UFC/cm²),
parece bastante inocente frente ao
botão do bebedouro de aeroportos,
que acumulam 1.240 UFC/cm². Le-
ve sua própria garrafa para encher
com água (é mais barato e ecológi-
co), mas gaste um pouco de seu ál-
cool gel no botão.
A campeã. Diferentemente do que
você pode imaginar, o lugar com
mais UFC/cm² é... a mesinha!
Com 2.155 UFC/cm², ela desban-
cou com facilidade o botão de des-
carga do banheiro, com apenas
265 UFC/cm². A razão é simples: o
banheiro tem mais atenção da
limpeza nas paradas do que as me-
sinhas, que fazem inúmeros voos
sem ver nenhum desinfetante.
Li uma reportagem há alguns
anos que sugeria evitar voar na
classe econômica, já que a executi-
va supostamente seria mais limpa
(haha). Para quem vive a vida real,
o melhor mesmo é usar seu álcool
gel e dar uma faxinada à sua volta.
O cinto de segurança, por exem-
plo, tem 230 UFC/cm². Quanto
aos cobertores, eles não estão na
lista, mas meu conselho é: se não
estiverem envoltos na embalagem
plástica, melhor deixar para lá.
‘A seguradora
sumiu do circuito’
José Luiz Leme,
psiquiatra
“Acionei o seguro-viagem em outu-
bro do ano passado, em Paris. Quan-
do saí do Brasil, eu estava tomando
antibióticos para tratar uma infec-
ção urinária. Durante a viagem, con-
tinuei me sentindo mal. Peguei a
apólice, liguei para o número de con-
tato e fui atendida com rapidez e em
português. Expliquei minha situa-
ção para o atendente.
Como já era quase madrugada,
buscar atendimento em um hospital
seria complicado, então o atendente
perguntou se poderia enviar um
médico para o hotel em que eu esta-
va hospedada. Concordei.
Depois de cerca de uma hora e
meia, eu estava recebendo atendi-
mento. Fiz exame de urina ali mes-
mo. O médico me prescreveu um an-
tibiótico diferente. Eu estava assus-
tada com a situação. Não falo nem
inglês e meu filho tinha de traduzir
tudo para mim. O médico me tran-
quilizou, disse que eu ficaria bem e
que, se necessário, eu poderia ir para
o hospital.
Mas melhorei e deu tudo certo.
Aconselho todo mundo a contratar
seguro-viagem. Fiquei surpresa com
a qualidade do atendimento e a facili-
dade de resolver o problema.” / T.L.
“Planejei uma viagem de 21 dias para
Nova York e Orlando, em 2018. Sou
portador da Doença de Crohn, uma
doença autoimune que provoca infla-
mação severa do trato intestinal. Fiz
questão de procurar um seguro-viagem
que cobrisse doenças preexistentes e
escolhi um que previa cobertura em
valor idêntico ao de qualquer outra con-
dição de urgência.
No terceiro dia de viagem, comecei a
me sentir mal. Eu já havia tido esse epi-
sódio duas vezes, em um deles precisei
ser operado, e sabia que aquela dor sig-
nificava uma obstrução intestinal e re-
queria atendimento com urgência.
Acionei a central e tive que me virar em
portunhol. Eu esperava que o atendi-
mento fosse em português.
Relatei o ocorrido, me enrolaram
por uma hora e disseram que envia-
riam um médico ao hotel no dia seguin-
te. Expliquei que sabia que a situação
era séria. Responderam que, se eu acha-
va isso, poderia procurar um hospital
por minha conta e pedir o reembolso.
Eu me recusei. Levei mais uma hora até
ouvir instruções de como proceder.
Com duas horas de espera, uma situa-
ção mais séria ficaria gravíssima.
Fui à unidade de urgência indicada
pela seguradora. Fiz uma tomografia,
que identificou o risco cirúrgico, e me
transferiram para um hospital. A partir
daí, a seguradora sumiu. Fiquei três
dias internado e a indicação do médico
era que eu deveria interromper a via-
gem, voltar deitado para o Brasil e ini-
ciar tratamento imediatamente.
Quando pedi os reembolsos, foi
uma novela. Minha agente de viagem
ajudou com isso. Reunimos vários do-
cumentos, incluindo laudo do médico
americano, relatando a situação de ur-
gência, e também um laudo do médico
brasileiro, atestando que eu estava
bem antes de viajar, para que a segura-
dora não alegasse que viajei para conse-
guir um tratamento nos EUA. Enviei os
documentos por e-mail, depois os origi-
nais pelo correio. Em trinta dias o di-
nheiro entrou na minha conta.” / T.L.
‘O médico foi
até o hotel’
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
Marizete Cavalcante,
analista de sistemas