Sexta-feira,13demarçode2020|Valor| 23
LUCASFERRAZ/VALOR
raarevista“Veja”.AeditoraJoséOlympiofoi
a primeiraa publicarum livroseu no país,
“A EmoçãoeaRegra”.Àépoca,eleaindanão
conheciao Brasil,mas tinhaao ladouma
pessoaque muitooinfluenciouno tema:a
suasegundamulher,SusidelSanto,apaixo-
nadaegrandeconhecedorada culturabra-
sileira.“Tenhootítulode cidadãohonorá-
rio do Rio de Janeiro, mas quemrealmente
mereciaeraminhamulher.”
A partirdo fim daqueladécada, ele pas-
sou avisitaropaís com frequência.Em mais
de duasdécadasde andanças,já passoupor
todasas regiõese diz que os principaispro-
blemasaindasão os mesmosda sua primei-
ra visita:corrupção, criminalidadee analfa-
betismo, fenômenosque tambémassolam
aItália,emboraemníveisinferiores.“Temos
quatromáfiasinternacionais.Isso é terrível
econdenatodooSul da Itáliaa estardebai-
xodoporrete”, afirma.
Oprofessorvêcomnaturalidadeofatode
aItália não crescermaiscomono passado,
ressaltandoa diferençada rendamédiaper
capitaentreos dois países—US$ 35 mil en-
tre os italianos,US$ 15 mil entreos brasilei-
ros. “Aqui a distribuição de rendaé muito
melhor,nãoexisteadistânciabrasileira.”
Do pontode vistapolítico, contudo,ele
afirmaque a situaçãoda Itálianão é menos
dramáticaelamentaqueosdoispaíseseste-
jam passando pelomesmomomentode
“depressão”. O atualgoverno, uma coalizão
entreoMovimento5EstrelaseoPartidoDe-
mocrático,de centro-esquerda, formada
emsetembropassado,demonstrafragilida-
de.EtemasombradeSalvini,queprovocou
uma criseao deixaro Executivoem agosto
—eleera umdosvices-premiêeministrodo
Interior.Ébem provável que, havendouma
eleiçãoem médioprazo, olíder da Liga seja
omais votado,de acordocomas últimas
pesquisas.“Se ele vencer, nos aproximamos
doBrasil,poisSalviniéfascista.”
De Masi se diz surpresocom o flerteauto-
ritáriodo Brasilsob Bolsonaro,para ele um
“ditador”.Imaginavaqueopaístivessemais
“anticorpos”que a Itália paraenfrentar
umasituaçãodo gênero.Uma recentepes-
quisanacionalmostraque o eleitoradoita-
lianotem preferênciapeloestereótipo de
“homemforte”nocomandodo país,perfil
encarnado por Salvinidesde2018,quando
setornouliderançanacional.
“OBrasiltinhaumpartidocomooPSDB,te-
ve umamulher na Presidência —algo que
nuncativemos aqui —, evocês aindasaíram
de uma ditadura que acabou há relativamen-
tepoucotempo”, dizDeMasi.“Aquiaditadura
fascista terminou há maisde 75 anos. Como
esse passado autoritário no Brasil estava mais
pertonotempo,deveriacausarmaisrepulsa.”
Referênciasmundiaisda ultradireita po-
pulista,Salvini e Bolsonaroseassemelham,
segundo oprofessor, na faltade cultura.
“Salvini é realmenteinculto, e isso éum pe-
cadopara a Itália.Sua visãode mundoé es-
treita.Ele não tem formaçãomilitar,mas
adorase vestircomoum. Nesseaspecto, ele
parecequererser comoBolsonaro”, afirma.
“Mussolini[1883-1945],por outrolado, era
culto,tinha sido um grandejornalista ees-
creviamuitobem.Salvinitem um discurso
infantil queanula acomplexidade dos
grandesproblemasdasociedade.”
SegundoDe Masi,um dos dramasatuais
da políticaitaliana,com influênciaem di-
versosníveisda vida social,é um certodes-
Para DeMasi, o traço
indígenaé a
característica mais
interessantedoBrasil:
“Elessededicavam à
contemplaçãoda
natureza, não
deveriam acumular
grande riqueza,quejá
estavanomeio
ambiente”
“
Aqui a ditadura
fascistaterminouhá
maisde 75 anos.
Como esse passado
autoritárionoBrasil
estavamaispertono
tempo, deveriacausar
maisrepulsa