O Estado de São Paulo (2020-03-22)

(Antfer) #1

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B2 Economia DOMINGO, 22 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


O anúncio feito pelos
dirigentes de grandes
bancos do País de que
estão prontos para am-
pliar a oferta de crédi-
to em resposta às difi-
culdades econômicas
decorrentes da crise do coronavírus
tende a aliviar um pouco a apreensão


de devedores em geral e daqueles
que estão próximos da inadimplên-
cia. Está claro que os atrasos provo-
cam ansiedade nos devedores, segun-
do pesquisa recente da Confedera-
ção Nacional de Dirigentes Lojistas
(CNDL) e do Serviço e Proteção ao
Crédito (SPC Brasil) com consumi-
dores que estão em mora com seus
compromissos há mais de três me-
ses. Oito em cada 10 desses inadim-
plentes declararam sofrer impacto
emocional negativo por conta de dívi-
das. Ou seja, não só a vida financeira
é afetada, mas também “a saúde físi-

ca e mental dos endividados”, segun-
do o levantamento feito com 600 pes-
soas e com grau de confiança de 95%.
A ansiedade, o estresse e a irrita-
ção atingem cerca de 6 em cada 10
entrevistados, enquanto outros são
vítimas de tristeza e desânimo, an-
gústia e vergonha – esta, mais inten-
sa entre mulheres (57,6%) do que en-
tre homens (49,4%). A economista-
chefe do SPC Brasil, Marcela Kawau-
ti, explica que o levantamento revela
“o que já desconfiávamos, que as frus-
trações e incertezas provocadas pela
inadimplência não se restringem ao

campo financeiro”.
As causas da inadimplência são
múltiplas e bem conhecidas. Elas
decorrem do endividamento excessi-
vo das famílias. Em parte, isto se de-
ve ao pagamento de compromissos
regulares como o fornecimento de
água, luz, condomínio e tributos.
Mas há também a insuficiência de
educação financeira, cujos efeitos
são a contratação de dívidas de cus-
to muito elevado e o compromisso
com prestações que o salário não
comporta.
Dívidas demais não só afetam o pa-

drão de vida das famílias. Inadim-
plentes têm medo de não poder par-
celar novas compras, ser qualifica-
dos como desonestos, não conseguir
achar emprego e não poder contrair
empréstimos. Entre as consequên-
cias estão insônia ou o dormir exces-
sivo, apetite demais ou de menos e
fuga dos problemas – caindo em ví-
cios ou até em compras compulsivas,
o que agrava as dificuldades. Ameaça
ainda mais grave é a da perda do em-
prego, por falta de concentração nas
atividades regulares, desatenção e
perda de produtividade.

Alto Escalão


Editorial Econômico


O custo extra


das dívidas


para as famílias


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A


famosa expressão do mundo dos negócios “Cash is King” – que se
refere a ter dinheiro na mão – é hoje a mais utilizada no dia a dia
das companhias. Ao longo desta semana, o alto escalão das empre-
sas se debruçou sobre o plano de contingenciamento para o período no
qual a população estará de quarentena. Além de cuidar dos funcionários,
o principal objetivo da força-tarefa foi preservar caixa. Corte de investi-
mentos, menor distribuição de dividendos e renegociação para alonga-
mento de dívidas foram as alternativas mais citadas. A rede varejista Cen-
tauro, por exemplo, que terá grandes impactos em seu negócio com o fe-
chamento do comércio, criou um comitê que prepara providências para
minimizar o dispêndio de caixa. Outras adotaram a mesma estratégia.


S


empre chega o dia em que não há
mais escapatória e, uma a uma, as
pessoas são obrigadas a reconhe-
cer que estão ficando velhas. Há anos se
repete que o Brasil é um país de jovens,
por mais que as estatísticas agora de-
monstrem o contrário (veja o gráfico).
O alastramento do coronavírus, que
pôs os mais velhos no grupo de risco,
mostra que o Brasil não se preparou
para lidar com essa relevante mudança
demográfica. O envelhecimento da po-
pulação não teve correspondência em
políticas de saúde apropriadas.
Não é apenas o Sistema Único de Saú-
de (SUS) que se mostra desequipado
para atender à cada vez maior deman-
da pelos idosos. Também o setor priva-
do expõe graves deficiências. A princi-
pal delas é a de que os planos de saúde
cobram mensalidades impraticáveis
dos associados mais velhos para lhes
garantir atendimento médico, exames
clínicos e internação hospitalar.
André Fattori, professor de Geria-
tria da Faculdade de Ciências Médicas
da Universidade de Campinas (Uni-
camp), adverte: “Agentes de saúde, co-
mo enfermeiros e médicos, não estão
capacitados para lidar com problemas
mais comuns da idade avançada”.
As universidades cuidam do ensino e
treinamento dos futuros médicos, en-
fermeiros e outros profissionais de saú-
de, mas preveem pouca carga horária
para tratar de geriatria e de gerontolo-
gia. Continua excessivo o foco na pedia-
tria, num país cuja taxa de natalidade
vem caindo. Não por acaso, essa situa-
ção se reflete sobre toda a rede nacional
de saúde, que atua com profissionais
pouco habilitados para as novas necessi-
dades da população.
Mesmo diante da omissão das uni-
versidades na adaptação dos seus currí-
culos, há o que pode ser feito imediata
e diretamente no SUS em benefício da
população sênior. Fattori explica que o
foco do atendimento deveria se ater ao
prolongamento das funcionalidades
cognitiva e motora do idoso, para que
ele se mantenha autônomo e se sinta

acolhido durante o maior tempo de vi-
da possível. Uma debilidade nos ossos,
por exemplo, pode comprometer a in-
dependência, o que não acontece se
um diagnóstico de diabetes é devida-
mente acompanhado. O tratamento in-
tensivo de doenças crônicas pode se
tornar insuficiente para a saúde inte-
gral dos mais velhos no dia a dia.
Como afirma Luiz Roberto Ramos,
professor de Geriatria da Universida-
de Federal de São Paulo (Unifesp), é
preciso aumentar o escopo da atenção
primária nas Unidades Básicas de Saú-
de (UBS), com o objetivo de prevenir
doenças. Os médicos de família, por
exemplo, precisam saber recepcionar
os idosos para avaliar sinais de demên-
cia e perdas de funções orgânicas e, ao
mesmo tempo, conferir se as dosagens
dos remédios estão corretas.
Além disso, acrescenta ele, faltam
profissionais especializados que com-
plementem o trabalho do médico de
família. É preciso formar mais fisiotera-
peutas e fonoaudiólogos que encami-
nhem adequadamente demandas espe-
cíficas e ajudem a montar redes de
apoio aos idosos. Ele também sugere
que seja expandido o atendimento do-
miciliar, para que, assim, se poupem os
que têm dificuldades de locomoção.
No entanto, falar em cuidados para
idosos pode ser algo genérico demais,
adverte o geriatra Marcos Daniel Sarai-
va, da Santa Casa de Misericórdia de
São Paulo. “O envelhecimento não de-
pende só de fatores genéticos. Pesam,
também, fatores ambientais, culturais,
psicológicos e o estilo de vida”, diz. Es-
tes são decisivos no registro de tantas
diferenças. Enquanto muitos com mais
de 80 anos se mantêm independentes e
ativos, outros, com menos de 70, se
mostram prostrados, incapazes dos cui-
dados mais simples consigo próprios.
Saraiva recomenda que os investi-
mentos públicos destinados ao atendi-
mento dos idosos não se restrinjam a
questões de saúde somente, mas tam-
bém contemplem as atividades das se-
cretarias de urbanismo, cultura e trans-
portes, de modo a garantir maior inclu-
são daqueles que logo serão a maior
parte da população brasileira. / COM
GUILHERME GUERRA

»Mão de Deus. Para ajudar a lidar
com esse período, as empresas es-
tão direcionando também questiona-
mentos a seus advogados. Segundo
fontes, começaram a surgir deman-
das para o uso de cláusulas de “Ato
de Deus” ou força maior. Muitas
companhias querem saber se é possí-
vel usar a cláusula para não pagar
fornecedores e bancos. Além disso,
já surgem muitas discussões para
reestruturação de dívidas. O acompa-
nhamento de custos está sendo feito
praticamente em tempo real, de acor-
do com um consultor. As empresas
estão tomando ações prevendo três
meses de crise.


»Conta. O sócio-fundador da Mar-
frig, Marcos Molina, continua au-
mentando sua participação na com-
panhia, comprando ações em bolsa.
Ele quer chegar a uma fatia de 51%,
ante os 45% atuais. No fim do ano,


ele detinha 34%. Para chegar ao ob-
jetivo, Molina tem feito emprésti-
mos e compras a termo. Nesse tipo
de transação, a pessoa se compro-
mete a comprar um ativo por preço
predefinido.

»Conta. Para evitar ser diluído na
oferta subsequente de ações da Mar-
frig em dezembro do ano passado,
na operação em que o Banco Nacio-
nal de Desenvolvimento Econômi-
co e Social (BNDES) vendeu sua
participação no frigorífico, Molina
participou da oferta prioritária, de-
sembolsando quase R$ 400 mi-
lhões. Na ocasião, ele comprou a
ação a R$ 10, valor do papel na ofer-
ta. Hoje a ação vale 30% a menos,
dada a aversão ao risco nos merca-
dos. Procurados, a Marfrig e o exe-
cutivo não comentaram.

»Fechadas. O PIB do varejo deve
encolher entre 20% e 30% este ano
em relação aos cerca de R$ 600 bi-
lhões, em valor agregado, de 2019,
de acordo com os cálculos da con-
sultoria de empresas Alvarez & Mar-
sal. O varejo é um dos setores que
mais será afetados pelo isolamento
da população. A A&M calcula que a
retração pode reduzir entre 1 e 3
pontos porcentuais o PIB do País.
Enquanto os setores de alimentos,

supermercados, logística e limpeza
serão sobrecarregados nos próximos
quatro meses, o de companhias aé-
reas, hotelaria, calçados e vestuário,
eletroeletrônicos, venda de carros e
material de construção devem so-
frer brutalmente.

»Em casa. O Bradesco prevê que
vai alcançar 50% de seu quadro de
funcionários em esquema de home
office, por conta do coronavírus.
Não é pouca gente: o banco tem na-
da menos do que 100 mil emprega-
dos. Nesse momento de isolamento
para evitar a propagação da epide-
mia, o Bradesco já colocou 40% do
pessoal em casa. Todos os funcioná-
rios pertencentes a grupos de risco
(pessoas com mais de 60 anos, ges-
tantes, diabéticos, hipertensos e es-
tagiários), que somam 4 mil pessoas,
já foram liberados.

»Monitorados. Hoje, o presidente
do Bradesco, Octavio de Lazari, fa-
lou aos funcionários do banco em
vídeo pela intranet. Ele disse que
três pessoas já foram confirmadas
com o coronavírus no Bradesco.
Elas estão sendo monitorados pela
área médica do banco, assim como
seus familiares. Os colegas que tive-
ram contato direto com os contami-
nados foram liberados para casa e
também estão sendo monitorados.
Foi instituído um comitê emergen-
cial no banco, formado pelo Conse-
lho, presidente, vice-presidente e
diretores para agilizar a tomada deci-
sões, com a evolução da pandemia.

»Corrente. A plataforma de inova-
ção aberta 100 Open Startups, que
conecta empresas e startups, lançou
um sistema pelo qual companhias
expõem dificuldades causadas pelo
coronavírus e as novatas tentam re-
solvê-los. Os desafios podem ser
postados de maneira gratuita por
empresas de qualquer porte, gover-
nos e sociedade civil. Em 24 horas
de funcionamento da plataforma,
houve 48 solicitação de entidades,
oito desafios lançados e 115 startups
cadastradas. Entre os problemas a
serem resolvidos, estão a crise en-
frentada por artistas, a logística do
varejo e o transporte público.

FERNANDA GUIMARÃES, CYNTHIA
DECLOEDT E CRISTIANE BARBIERI

CELSO


MING


JONNE RORIZ/ESTADÃO

Marfrig troca de presidente


Antes CEO para América do
Sul, Miguel Gularte é o dire-
tor presidente no lugar de Jo-
sé Eduardo de Oliveira Miron.


»SAS. Ex-Citrix e SAP, Simo-
ne Bervig assume a função de
go-to-market manager para
América Latina.


»TozziniFreire. Promovidos a


sócios Bruna Borghi Tomé
(Contencioso Digital); Liv Ma-
chado (Reestruturação e Recu-
peração de Empresas); Mario
Pati (Direito da Concorrên-
cia) e Silvia Castro Cunha Zo-
no (Societário/M&A e Agro).

»BDO. A nova diretora de Au-
ditoria Tributária é Vanessa
Bernardo Bonetti.

»Algar Tech. Para responsá-

vel por segurança da informa-
ção e cumprimento da LGPD
foi nomeado Reginaldo Tostes
como Data Value Officer.

»Opentech. O novo diretor
de operações é Rodrigo César
de Oliveira (ex-ALL e
Ferroeste).

»Keyrus. Marcelo Mendes
chega como diretor comercial
e marketing América Latina.

»F.biz. Foi contratada Mirian
Cumino (ex-Havas) como di-
retora de Mídia da área b2biz.

»Think. O novo diretor para
divisão de Edge Computing é
Olavo Poleto Filho.

»RJ Investimentos. Juliana
Cordovil (ex-Falconi e Grupo
Aquila) ingressa como Head
de Planejamento, Gestão e
Performance Corporativa.

»Juntos Somos Mais. Fábio
Viegas chega como diretor de
fidelização, vindo da Restoque.

»Grupo Cataratas. Com a
saída de Bruno Marques, o
diretor Pablo Mórbis passa a
presidente.

»Ihara. O novo vice-presiden-
te de Pesquisa, Marketing e
Comercial é Roberto Carlos
Oliveira.

Saúde despreparada no


tratamento dos idosos


Velhice. Brasil muda rapidamente

| LUANA PAVANI | E-MAIL: [email protected]

coluna do


De olho no caixa, empresas


veem custo em tempo real


E-MAIL: [email protected]

VANESSA CARVALHO-14/5/2019

TABA BENEDICTO/ESTADÃO–6/2/2020

● População com 60 anos ou
mais no Brasil

FONTE: IBGE INFOGRÁFICO/ESTADÃO

EM PORCENTAGEM

5,0 1991 2019 2060

15,0

25,0

35,0

PROJEÇÃO

13,4
7,3

33,7

BRADESCO

ABNER REISES
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