O Estado de São Paulo (2020-03-22)

(Antfer) #1

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B4 Economia DOMINGO, 22 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


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Wolf diz que crise é pior


do que a de 2008 e que


atuais lideranças globais


são menos capazes; ele


pede foco nos informais


Martin Wolf, comentarista-chefe de economia do 'Financial Times'


O governo Jair Bolsonaro de-
morou para agir diante da crise
do novo coronavírus e ainda to-
mou medidas tímidas demais
dada a situação de calamidade
global, segundo economistas
ouvidos pelo Estado. Os espe-
cialistas pedem, principalmen-
te, medidas mais profundas na
área fiscal, a exemplo do que já
foi feito em países desenvolvi-
dos.
O Reino Unido, por exem-
plo, anunciou na sexta-feira


passada que vai pagar até 80%
dos salários dos trabalhadores
nos próximos meses, enquanto
o governo dos Estados Unidos
articula com o Congresso um
pacote emergencial que pode
chegar a US$ 1 trilhão – ante
-R$ 184,6 bilhões no Brasil.
Para o economista Paulo Le-
me, professor de Finanças na
Universidade de Miami, o go-
verno precisa injetar muito
mais recursos na economia do
que foi anunciado e, neste mo-
mento, seria melhor pecar pelo
excesso. Monica de Bolle, pes-
quisadora do Peterson Institu-
te for International Econo-
mics, nos Estados Unidos, afir-
ma que a situação é de guerra e
que, para bancar um aumento
de gastos, o governo poderia se

financiar através de institui-
ções financeiras domésticas.

Teto de gastos. Se os especia-
listas são unânimes ao defen-
der um aumento dos gastos nes-
te ano, eles divergem em rela-
ção à manutenção do teto dos
gastos (emenda constitucional
que limita o aumento dos gas-
tos à inflação). Segundo Moni-
ca, a regra deve ser temporaria-
mente suspensa, já que a reali-
dade é dramática.
Ex-ministro da Fazenda,
Maílson da Nóbrega, no entan-
to, afirma que é possível aumen-
tar os gastos abrindo um crédi-
to extraordinário para despe-
sas de calamidade pública, que
não seria contabilizado no te-

to. A economista Zeina Latif
também apoia a manutenção
do teto. “Tem de haver um es-
forço para manter o teto. Te-
nho medo do precedente que
se abre ao suspendê-lo. Grupos
de interesse sempre tentam
abocanhar partes crescentes
do Orçamento.”
Além de criticarem o alcance
das medidas anunciadas, os
economistas também apon-
tam problemas políticos que
têm atrapalhado o combate à
pandemia e à crise econômica.
Leme destaca que o governo
precisa retomar a capacidade
de informar a população de for-
ma clara. “O presidente tem de
apoiar a equipe de Saúde. O
País tem de remar na mesma
direção.”
Zeina ataca a falta de articula-
ção do governo e a demora do
governo para reconhecer a gra-
vidade da situação. “O governo
subestimou o problema, agora
será mais difícil lidar com essa
crise. Não é que ela fosse inevi-
tável, mas queimamos algumas
etapas, como a da comunica-
ção.”/L.D.

Luciana Dyniewicz


A crise econômica decorrente
da pandemia do coronavírus é
mais grave que a de 2008, deve
durar dois anos e ter efeitos
profundos de longo prazo, se-
gundo o comentarista-chefe
de economia do jornal Finan-
cial Times, Martin Wolf. Em en-
trevista ao Estado, Wolf afir-
ma estar preocupado com o
Brasil e com outros países
emergentes, que terão dificul-
dade para aumentar os gastos
para tentar reduzir os efeitos
da recessão que está por vir.
Diz ainda que a atuação dos
principais líderes globais é infe-
rior à de 2008, quando os paí-
ses se uniram para enfrentar o
problema. “Na crise financei-


ra, tínhamos o G-20 trabalhan-
do junto de modo eficiente. Es-
sa imagem é muito diferente
da que temos hoje. Então, é
fácil tudo dar muito errado.”
Para Wolf, dada a escassez
de recursos, a prioridade no
Brasil tem de ser a população
mais carente. “Ajudar o traba-
lhador informal a manter sua
renda é a prioridade número
um.” A seguir, trechos da entre-
vista:

lQue motivos levam o sr. a acre-
ditar que essa crise será pior que
a de 2008?
As medidas que estão sendo
adotadas para controlar a epi-
demia vão fechar grande parte
da economia. Vimos isso na
China. Ninguém sabe ainda o
que aconteceu lá no primeiro
trimestre, mas deve haver uma
contração muito grande do
PIB e, provavelmente, no se-
gundo trimestre também. A
Europa e os Estados Unidos es-
tão fazendo o mesmo: fechan-
do lojas, restaurantes, entrete-

nimento. Teremos uma inter-
rupção massiva de oferta. De-
pois, trabalhadores não serão
pagos, empresas ficarão sem
receita e vão demitir funcioná-
rios. Muitas podem ir à falên-
cia. Tudo isso não importaria
se voltássemos ao normal em
dois meses. Mas não parece
que isso vai acontecer. A doen-
ça será controlada enquanto
ninguém está tendo contato
com os outros. Quando as eco-
nomias forem reabertas, é es-
perado que a transmissão vol-
te. É o que está acontecendo
na China. Se isso acontecer, te-
remos uma nova fase de fecha-
mento da economia. Esse pro-
cesso de abrir e fechar a econo-
mia pode continuar até o ano
que vem. Pode continuar até
que haja uma cura, e os espe-
cialistas parecem concordar
que não haverá uma cura que
possa ser disponibilizada em
escala antes do fim do ano que
vem. Até lá, muitos negócios
vão desaparecer. Esse vai ser
um choque de oferta gigantes-

co, com consequências graves
de solvência e de demanda. En-
tão, é provável que tenhamos
uma recessão neste ano e que
isso prossiga em 2021. Por is-
so, acho razoável assumir que
esse choque econômico pode
ser pior que a crise financeira
de 2008. Também pode ter
efeitos de mais longo prazo,
porque haverá uma grande in-
terrupção de comércio e via-
gens. Uma consequência pode
ser que a estrutura da cadeia
de fornecimento e da econo-
mia global sejam transforma-
das permanentemente. Mas,
claro, tudo isso pode ser muito
pessimista e o vírus pode aca-
bar sendo controlado no verão
(do Hemisfério Norte). Aí, se-
ria algo menos grave. Mas, nes-
te momento, me parece mais
provável que haja uma reces-
são grave.

lEm sua última coluna, o sr. es-
creveu que precisaremos de líde-
res fortes e inteligentes para li-
dar com essa crise. As principais
lideranças globais são capacita-
das para isso?
O problema é que, ao contrá-
rio da crise financeira, as prin-
cipais economias do mundo
hoje são incapazes de colabo-
rar umas com as outras.
Trump é um ignorante nacio-
nalista que não entende como
lidar com esse tipo de proble-
ma. Essa questão está comple-
tamente além dele intelectual-
mente. Por sorte, tem uma ou
duas pessoas competentes no
seu governo. O Fed (Federal
Reserve, o banco central ameri-
cano) é eficiente e o Congres-
so americano está fazendo al-

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


lEstímulo

‘Plano de Guedes


não basta. Tem


de ser maior’


A economista Monica de Bol-
le, que há algumas semanas
vem defendendo a suspensão
temporária do teto dos gastos
durante a crise, afirma que o
pacote de medidas do gover-
no é tímido demais para a re-
cessão que virá – ela estima
uma queda do PIB de até 6%
no Brasil neste ano. “Esse pla-
no do Paulo Guedes não bas-
ta. Tem de ser algo muito
maior. Tem de ser: o governo
vai pagar os trabalhadores. O
Reino Unido anunciou isso
nesta semana.” Ela propõe
que o governo repasse R$ 50

bilhões ao Sistema Único de
Saúde (o governo destinou R$
11,8 bilhões ao combate da
pandemia, sendo R$ 4,5 bi-
lhões para o SUS) e outros R$
30 bilhões para empresas
mais afetadas pela crise. Moni-
ca sugere ainda, entre outras
medidas, o repasse de R$ 500
mensais por um ano aos 36
milhões do Cadastro Único
que não recebem o Bolsa Fa-
mília. Todo o pacote elevaria
a dívida brasileira em 4% do
PIB, calcula. “4% não é nada.
Alguém acha que o Brasil aca-
ba se a dívida aumentar isso?”

PONTO DE VISTA

R$ 184,6 bi
é o valor do pacote emergencial
anunciado pelo governo para
combater a pandemia do corona-
vírus e seus efeitos na economia
brasileira

É unânime a opinião de


que governo demorou


para agir e medidas


anunciadas até agora


são tímidas


Combate à crise tem de


passar pela área fiscal,


dizem economistas


‘Recessão deste


ano deve continuar


no próximo’


JAIR MAGRI/TV CULTURA - 18/10/2016
Monica de Bolle, pesquisadora
sênior do Peterson Institute
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