-volta. Três anos mais tarde, foi a vez de os vân-
dalos atacarem Roma. Leão não pôde evitar
saques, mas convenceu-os a não incendiar o
local. O papado tinha virado a única força que
se interpunha entre Roma e o caos. Quando a
parte ocidental do Império se desintegrou, em
476, isso se tornou ainda mais verdadeiro.
Por mais de dois séculos, Constantinopla
tentou virar o jogo contra os bárbaros e recu-
perar as antigas terras imperiais. Durante al-
gum tempo, o Império do Oriente (hoje mais
conhecido como Bizantino) conseguiu impor
seu controle no sul da Itália, no norte da África
e na própria Roma. Os imperadores bizantinos,
porém, tinham a desagradável mania de meter
o bedelho em assuntos religiosos. Na sua visão
do cristianismo, o imperador estava acima de
qualquer um, incluindo o papa. É lógico que
isso não pegou bem no Vaticano: “Existem,
augusto imperador, dois poderes principais que
governam o mundo: a autoridade dos bispos e
o poder real. Dentre eles, o poder sacerdotal é
muito mais importante”, escreveu o papa Ge-
lásio, que ocupou o cargo de 492 a 496, ao im-
perador bizantino Anastácio.
Nesse cabo de guerra, o papado acabou bus-
cando um terceiro elemento para ajudá-lo: o
reino bárbaro dos francos (embrião da atual
França). Na metade do século 8, os domínios
bizantinos na Itália iam mal das pernas e Roma
era ameaçada pelos lombardos, uma tribo ger-
mânica que havia fundado um grande reino em
terras italianas. Em troca do apoio do Vaticano
para sua nova dinastia, o monarca franco Pepi-
no, o Breve, invadiu a Itália em 754, derrotou os
lombardos e conquistou parte de suas terras.
Para revolta dos bizantinos, Pepino doou tudo
para o papado. Agora, Roma era a capital de um
território independente.
A relação entre Carlos Magno e os papas
haveria de ser ainda mais próxima. Filho de
Pepino, ele voltou a invadir a Itália e acabou de
vez com o reino lombardo. No Natal do ano 800,
o papa Leão III, às voltas com opositores dentro
e fora da Igreja, coroou Carlos como imperador
do Ocidente, em novo desafio a Constantinopla.
Além de ter seu próprio reino, o papa agora era
considerado capaz de dar legitimidade sagrada
a outros monarcas. No futuro, essa prerrogativa
seria usada sempre que necessário – para coro-
ar e derrubar reis.CRUZADOS E DEPRAVADOS
No século 11, nada parecia ameaçar o poder do
papado. Bem, quase nada. A expansão do Islã,
religião criada no século 7, deixou o Vaticano
em alerta. Se os papas controlavam um pedaço
generoso da Península Itálica, muçulmanos já
haviam conquistado territórios que iam da Es-
panha à Índia. A tensão entre as duas religiões
acabou virando guerra. Acuado pelos turcos, o
imperador bizantino Aleixo pediu ajuda ao Oci-
dente. Diante disso, em 1095, o papa Urbano II
conclamou os nobres europeus a reconquistar
os lugares santos da Palestina que estavam sob
o domínio do Islã.
Aos gritos de Deus vult –, “Deus o quer”, em
latim –, milhares de europeus de todas as clas-
ses sociais e idades se puseram a marchar para
o leste. Em 1099, após muito sofrimento, osQuando Átila,
rei dos hunos,
ameaçou saquear
Roma, coube
ao papa Leão I
negociar com ele