REVISTA VOO LIVRE - EDIÇÃO 30 - JANEIRO DE 2023

(MARINA MARINO) #1
Beira do Caminho
“Quem parte leva
saudade de alguém
que fica chorando de dor”
Tradução popular da música mexicanaCielito Lindo

Apressados.
Carros,caminhões.
Apassarpormim.Pornós.
Se os automóveis partem, riscam
nossos horizontes e levam a saudade
sempedirlicença,nãohánecessidade
deabraçaro choro.Nemdeconservar
a dor, cultivar o mal-estar e o
incômodo.
Curta o movimento, não o
padecimento.
A letra de Sentado à Beira do
Caminho, versadamais porErasmodo
queRoberto,arremessaoolhartristea
se perder na poeira de uma estrada
sem fim. A solução pode estar
embalada no próximo posto de
gasolina. Na loja de conveniências
procure a prateleira com “itens de
existência”. E sobrevivência. Se o que
procura estiver escondido atrás de
grandes potes com aroma de
macadâmia,ervastropicais,hortelã,sal
grossocomalecrim,optepela


fragrância do frasco pequeno com
rótulo“saudadeboa”.Daspessoas.Dos
momentos singulares e inesquecíveis.
Essa saudade sempre e ainda existe.
Feche os olhos, estique o braço,
vasculhe e procure. Pode estar em
algumpontobemdistante,masláestá.
Pode até parecer imperceptível
naquele instante,masasaudadevive.
Pulsa. Pílulas coloridas saltitantes no
vasilhame.Éoqueimporta.
Associarsaudadecomtristezaéato
automático.Própriodeautômato.Mas
nãodevemossugeriraomundoeanós
mesmos que somos pessoas
inconscientessujeitas aosmovimentos
de um mecanismo oculto e alheio ao
ser.
Na composição de Tom Jobim,
coroada por João Gilberto como um
dos pilares da bossa nova, a letra de
Chega de Saudade começa com “vai
minhatristezaedizaelequemsemele
nãopodeser”.
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