O Estado de São Paulo (2020-03-26)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-1:20200326:
B1 QUINTA-FEIRA, 26 DE MARÇO DE 2020 INCLUI CLASSIFICADOS O ESTADO DE S. PAULO


E&N


ECONOMIA & NEGÓCIOS


FONTE: BROADCAST INFOGRÁFICO/ESTADÃO

Bolsas no mundo


VARIAÇÃO DO DIA, EM PORCENTAGEM

FTSE-
MIB
(MILÃO)

DAX
(FRANK-
FURT)

NASDAQ
(NOVA
YORK)

S&P 500
(NOVA
YORK)

FTSE
100
(LONDRES)

IBEX 35
(MADRI)

CAC 40
(PARIS)

DOW
JONES
(N. YORK)

Ibovespa


EM PONTOS

2
JAN
2020

3
FEV

50.

90.

130.

2
MAR

25





VARIAÇÃO
NO DIA

7,5%


NO ANO

-35,18%


NO MÊS

-28,05%


Dólar


EM REAIS

2
JAN
2020

3
FEV

4,

4,

5,

5,

2
MAR

25

5,


OTIMISMO CAUTELOSO


VARIAÇÃO
NO DIA

-0,97%


NO ANO

25,44%


NO MÊS

12,37%


0

4,47 4,


3,


2,


1,79 1,


1,


-0,


‘Sem a quarentena,


você posterga a


reação da economia’


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Renato Jakitas


Pelo segundo dia consecuti-


vo a Bolsa de Valores fechou


no azul, em um movimento


que não se via no mercado de


capitais desde o começo de


março, quando os investido-


res (os brasileiros e principal-


mente os estrangeiros), em-


preenderam fuga da renda va-


riável com medo dos impac-


tos da pandemia do coronaví-


rus na saúde financeira das


empresas listadas.


Ontem, o Ibovespa, cesta


com as principais ações negocia-


das na B3, fechou em alta de


7,50%, ficando bem próximo


dos 75 mil pontos (74.955) – o


patamar de 15 dias e de dois cir-


cuit breakers atrás. Em dois


dias, o índice acumulou alta de


17,9%, maior ganho para o mer-


cado acionário desde 29 de outu-


bro de 2008, segundo levanta-


mento realizado pela Econo-


mática. O valor de mercado das


empresas brasileiras listadas na


B3 valorizam R$ 388,2 bilhões


nesse período. O giro financeiro


de ontem foi de R$ 28,6 bilhões,


quase R$ 10 bilhões a mais do


que o da última segunda-feira,


quando o Ibovespa ficou a 5% de


perder o patamar dos 60 mil


pontos.


Isso posto, para os analistas,


ontem foi um bom dia para o


investidor, mas que poderia ser


ainda melhor. Ao longo da quar-


ta-feira a bolsa chegou a subir


acima dos 9% – lembra o econo-


mista-chefe do banco Modal-


mais, Alvaro Bandeira –, mas


perdeu fôlego na reta final de-


pois que chegou dos Estados


Unidos a notícia de que, na últi-


ma hora, um impasse entre de-


mocratas e republicanos travou


as negociações para o megapa-


cote de estímulos de US$ 2 tri-


lhões. Os democratas querem


um aumento no valor do segu-


ro-desemprego, mas os republi-


canos são contra. Foi o que bas-


tou para limitar o otimismo dos


agentes. O S&P 500 reduziu o


avanço para pouco mais de 1%,


enquanto o Dow Jones, favore-


cido pela disparada dos papéis


da Boeing, subiu mais, 2,39%.


Mas como a Bolsa local vem


sendo muito mais impactada pe-


lo que acontece fora do Brasil


do que propriamente pelo noti-


ciário local, os analisas afirma


que um ânimo extra foi dado on-


tem pela Alemanha, que apro-


vou um programa de estímulos


sem precedentes para o país, de


¤750 bilhões, encarado como


um sinal de que os países da zo-


na do euro podem recorrer ao


Mecanismo Europeu de Estabi-


lidade para combater as conse-


quências do coronavírus. “Fo-


ram dois dias de notícias bem


positivas”, diz o analista de


ações da Rico Investimentos,


Thiago Salomão. “Há muita coi-


sa positiva acontecendo no exte-


rior, o que contribui para mini-


mizar os ruídos por aqui”, diz


Victor Lima, economista da To-


ro Investimentos, referindo-se


à crise cada dia mais profunda


entre o presidente Jair Bolsona-


ro, Congresso e governadores,


na estratégia para enfrentar a es-


calada do novo coronavírus no


Brasil.


“Bolsonaro buscou marcar posi-


ção, dissociando a imagem pes-


soal de problemas sobre os


quais não terá como agir indivi-


dualmente”, observa Marcel


Zambello, analista da Necton,


chamando atenção para o des-


gaste político que tende a emer-


gir de uma prolongada paralisia


econômica, que afetará a renda


e o emprego da população. “O


ruído político existe, e será pre-


ciso observar agora como evo-


luirá: se permanecerá na retóri-


ca ou se terá efeitos concretos”,


diz Lima, da Toro.


Com os desempenhos positi-


vos nessas duas últimas ses-


sões, o Ibovespa amplia os ga-


nhos a 11,76% na semana, após


uma sequência negativa de cin-


co semanas. No mês, as perdas


seguem agora em 28,05% e, no


ano, em 35,18%.


Dólar. No mercado de câmbio,


a moeda americana chegou a


cair abaixo de R$ 5,00 no perío-


do da tarde, mas o movimento


perdeu força na hora final do


pregão, no mercado à vista, o


dólar fechou cotado a R$


5,0326, em baixa de 0,97%. /


COLABOROU LUIZ EDUARO LEAL

Bolsa volta a fechar no azul e, em dois


dias, acumula recuperação de 17,9%


ENTREVISTA


Já sob o impacto da epidemia


do novo coronavírus, o Itaú


divulgou ontem uma redução


em sua expectativa para a Bol-


sa, que começou o ano em 130


mil pontos e, agora, foi reduzi-


da para 94 mil pontos. Para o


superintendente de renda va-


riável do Itaú BBA, Marcos As-


sumpção, o número leva em


consideração um cenário com


forte isolamento social até


meados de abril. “Um cenário


de quarentena parcial pode


ampliar o ciclo da doença e


seu impacto na economia.”


lO Itaú reduziu ontem a proje-


ção da Bolsa para 94 mil pontos.


Qual o cenário utilizado para es-


se número?


O nosso cenário hoje é de


uma obstrução do crescimen-


to, uma recessão muito forte


no segundo trimestre, com


queda de 9,7% no PIB, com


uma recuperação também for-


te a partir do segundo semes-


tre. No fim do ano, nossa esti-


mativa macro é de um PIB


neste ano com queda de 0,7%.


Com base nisso, teremos uma


redução no lucro das empre-


sas que, segundo nosso cálcu-


los, vão levar o Ibovespa para


94 mil pontos.


lNesse modelo, qual o tempo


de duração dessa crise na econo-


mia do Brasil?


Para a gente, as restrições serão


relativamente curtas no Brasil e


devem ser levantadas a partir


do segundo trimestre, a partir


do meio de abril, para a econo-


mia ir lentamente se recuperan-


do no segundo semestre.


lCom base em que projetam um


cenário desses?


É um cenário que fechamos


na última terça-feira. Claro, o


ritmo dessa crise é muito fluí-


da. Mas fizemos uma reunião


recentemente com o profes-


sor Tarcisio Filho, que é um


doutor em Física e Matemáti-


ca. Ele estuda o comportamen-


to de epidemias pelo mundo.


Como estamos falando de um


vírus que não vai ter uma vaci-


na no curto prazo, o seu com-


portamento será muito seme-


lhante a de outros vírus. A


ideia central é que, olhando


para outros países, a gente vê


que o ciclo natural da doença


leva do começo ao pico por


volta de 70 dias. Assumindo


que a gente teve o começo da


doença no começo do feverei-


ro, provavelmente vamos atin-


gir o pico dela em meados de


abril e, a partir dai, ela come-


ça a desacelerar seu ciclo de


propagação. A principal medi-


da para a contenção da doen-


ça é o isolamento. Na medida


em que as pessoas estão den-


tro de suas casas e os casos


vão diminuindo, você terá a


economia funcionando de for-


ma um pouco menos restriti-


va e, aí, as coisas vão cami-


nhando para a normalidade.


lO modelo usado pelo Itaú con-


sidera uma quarentena dura, co-


mo é hoje na Espanha, ou um mo-


delo mais afrouxado, com restri-


ções parciais?


A gente trabalha com uma qua-


rentena mais forte ao longo


das próximas três semanas.


Como ela começou de forma


mais restritivas nesta semana,


estamos falando em algo as-


sim até meados de abril. Ven-


do o histórico de outras epide-


mias, a quarentena é importan-


te para reduzir o ciclo da doen-


ça no período mais critico.


lSem essa quarentena mais du-


ra, o que vocês projetam?


Em um cenário de maior estres-


se, sem essa quarentena, você


posterga a volta da economia à


normalidade e o cenário para a


Bolsa em 2020 muda.


lO dólar termina o ano na casa


dos R$ 5?


A gente tem uma projeção


com o real apreciando um pou-


co no final ano. Nossa expecta-


tiva é de dólar a R$ 4,60. A in-


flação para este ano é de 2,9%.


WASHINGTON


O Banco Mundial e o Fundo Mo-


netário Internacional (FMI) pe-


diram ontem aos credores bila-


terais oficiais que forneçam alí-


vio imediato da dívida aos paí-


ses mais pobres do mundo que


estão enfrentando graves conse-


quências pela rápida dissemina-


ção do coronavírus.


Em uma declaração conjun-


ta, as instituições pediram aos


credores que suspendam ime-


diatamente o pagamento da


dívida dos países da Associação


Internacional de Desenvolvi-


mento, se for solicitado. Esses


países abrigam um quarto da po-


pulação mundial e dois terços


da população mundial que vive


em extrema pobreza e serão os


mais afetados pela pandemia,


disseram elas.


“Isso ajudará as necessidades


imediatas de liquidez dos paí-


ses da Associação Internacio-


nal de Desenvolvimento para


enfrentar os desafios impostos


pelo surto de coronavírus e dar


tempo para uma avaliação do


impacto da crise e das necessi-


dades de financiamento de ca-


da país”, disseram o FMI e o


Banco Mundial.


A maioria dos 76 países que


recebem apoio da Associação


Internacional de Desenvolvi-


mento tem renda nacional bru-


ta per capita abaixo de US$


1.175, um dado que é atualizado


anualmente.


O Banco Mundial e o FMI dis-


seram que a suspensão do paga-


mento da dívida, consistente


com as leis nacionais dos países


credores, proporcionará “uma


sensação global de alívio aos paí-


ses em desenvolvimento” e en-


viará um forte sinal aos merca-


dos financeiros. Eles solicita-


ram às 20 maiores economias


do mundo (G-20) que apoiem o


pedido de ação.


Os líderes do G-20 devem rea-


lizar uma cúpula virtual hoje a


fim de discutir um plano de


ação para lidar com a pande-


mia. O novo coronavírus, que


teve origem na China em de-


zembro, infectou mais de 438


mil pessoas em todo o mundo e


matou mais de 19 mil, de acordo


com um registro da Universida-


de Johns Hopkins.


Eles disseram que buscarão o


endosso da proposta nas reu-


niões de Primavera do banco e


do Fundo, marcadas para o


próximo mês. / REUTERS


Empresários têm opiniões distintas sobre a quarentena total das atividades econômicas. Pág. B3}


Sem medo. Bolsa de NY sofreu forte oscilação ontem


Mercado continua sendo mais impactado pelo que acontece lá fora, sobretudo nos EUA, e poderia ter conseguido até uma alta maior


caso democratas e republicanos não travassem no Congresso discussão sobre megapacote trilionário de socorro à economia americana


Marcos Assumpção, superintendente de renda variável do Itaú BBA


FMI e Banco Mundial pedem alívio de dívida de países pobres


ANGELA WEISS / AFP

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