O Estado de São Paulo (2020-03-26)

(Antfer) #1

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B2 Economia QUINTA-FEIRA, 26 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Estranha não é a forte


queda da confiança


dos consumidores en-


tre fevereiro e março


constatada há pouco


pela Fundação Getú-


lio Vargas (FGV). Es-


tranho seria se, à luz do agravamen-


to da crise do coronavírus, as famí-


lias ficassem indiferentes à pande-


mia. Ou, pior, se se animassem a sair


de casa para consumir, como sugeriu


o presidente Jair Bolsonaro na terça-


feira 24 de março, com palavras que


pareciam destinadas a se contrapor


às recomendações de autoridades


sanitárias do País e do mundo.


O Índice de Confiança do Consu-


midor (ICC) da FGV caiu 7,6 pontos


em março, para 80,2 pontos, menor


valor desde janeiro de 2017. Regis-


trou queda de 11,4 pontos nos primei-


ros três meses de 2020. Em relação a


março de 2019, o recuo foi de 10,


pontos. A perda foi de 11,4 pontos


em relação a dezembro de 2019 e de


12,8 pontos comparativamente a de-


zembro de 2018, mostrando esvazia-


mento acelerado do grau de confian-


ça apontado pelo ICC – que chegou a


atingir 95,3 pontos em janeiro de


2019, próximo da marca de 100 pon-


tos que separa os campos positivo e


negativo.


Como notou a coordenadora das


sondagens da FGV, economista Vi-


viane Seda Bittencourt, “a queda da


confiança dos consumidores, que já


vinha ocorrendo nos dois meses an-


teriores, aprofundou-se em março,


sob influência da pandemia de coro-


navírus”. A analista acrescentou:


“Apesar de dois terços da coleta de


dados para esta edição terem ocorri-


do antes das medidas de restrição, já


é possível notar um impacto expres-


sivo nas expectativas”. Ainda pior é


o cenário para os próximos meses.


Com a ressalva de que, “embora seja


difícil imaginar alguma recuperação


da confiança no horizonte visível,


esperamos que o sucesso das medi-


das de isolamento para reduzir a dis-


seminação do vírus possa ao menos


conter parte do desânimo que virá


com a queda do PIB e o aumento do


desemprego”.


A ameaça de desemprego e a que-


da de renda já observadas acentuam


o desconforto em relação às próxi-


mas semanas, pois há dependência


da estabilização do número de brasi-


leiros infectados. Além disso, nos


cálculos da FecomercioSP, as mudan-


ças nas regras trabalhistas vão impac-


tar mais de 1 milhão de empregos for-


mais no Estado de São Paulo, onde


460 mil estabelecimentos fecharam


as portas em 24 de março.


Editorial Econômico


Declínio previsível


da confiança


do consumidor


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TWITTER: @COLUNADOBROAD

A


s empresas brasileiras têm acompanhado atentamente o mergulho


no preço de seus bonds (títulos de dívida emitidos no exterior) e


aproveitado para recomprar seus papéis no mercado secundário.


Entre elas, estão o frigorífico Minerva, a Cosan (foto) e o BTG Pactual. Em


tempos de crise, a ordem tem sido economizar caixa, o que desmobilizou


as grandes ofertas de recompra. Nas “recompras silenciosas”, entretanto,


o caixa comprometido é menor, envolvendo entre US$ 2 milhões e US$ 3


milhões por ida ao mercado secundário. Ou, no máximo, 20% do total em


circulação do papel, para não chamar a atenção dos investidores. Desse


modo, as empresas evitam criar alarde de que há um comprador muito


interessado e que o preço do bond suba.


A


irresponsabilidade do presiden-


te Bolsonaro manifestada no


pronunciamento de terça-feira


em rede nacional não está nas teses sub-


jacentes que defende ou ataca, mas no


seu comportamento, que desorganiza e


divide, e na sua incapacidade de coorde-


nar a guerra contra a pandemia.


O ponto de vista dele, de acabar com


o isolamento (lockdown) e de reabrir


imediatamente as escolas e o comér-


cio, chegou a ser inicialmente adotado


na Inglaterra. Mas os resultados dessa


abordagem foram tão desastrosos que


seus dirigentes tiveram de voltar atrás.


Também o presidente Trump, dos Es-


tados Unidos, assopra o mesmo trom-


bone. Avisou que tudo deve voltar à


normalidade na Páscoa da Ressurrei-


ção (dentro de 18 dias), justamente


quando, pelas advertências do governa-


dor de Nova York, Andrew Cuomo, os


serviços de saúde do seu Estado deve-


rão entrar em colapso.


Essa estratégia, de deixar rolar a pan-


demia e de deixar que os mortos enter-


rem seus mortos, só poderia dar certo


se o Brasil adotasse a política da Coreia


do Sul, de aplicar testes em massa para,


aí sim, isolar os infectados – e apenas


eles – e deixar que a vida siga. Mas não


temos essa possibilidade. Só haverá tes-


tes para cerca de 9% da população.


A contradição maior não está fora do


governo, nem entre o governo e os go-


vernadores, nem mesmo entre o gover-


no e outros políticos. A contradição


maior está dentro do governo. O minis-


tro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta,


está sendo publicamente desautoriza-


do. Falta saber por que ainda não foi


demitido ou por que ainda não pediu


demissão, em nome de um mínimo de


coerência entre políticas.


A situação é esquizofrênica e a esqui-


zofrenia em matéria de políticas públi-


cas leva à desarticulação e ao pandemô-


nio. Se há uma estratégia nesse com-


portamento do presidente é a de apro-


veitar o caos que daí adviesse para seus


já conhecidos propósitos autoritários.


Mesmo se estivesse correto no trata-


mento dispensado ao flagelo, o capitão


não poderia ridicularizar as famílias


que enfrentam mortes e graves conta-


minações por obra de um reles agente


disseminador de “gripezinhas” e “res-


friadinhos”, como ele vem afirmando,


especialmente em quem não é “atle-


ta”, como ele próprio se considera.


Mesmo se ele estivesse correto na


escolha da estratégia de combate à pan-


demia, é condenável sua atitude de ten-


tar jogar a população contra os gover-


nadores por ele acusados de adotar a


política dos bárbaros citas, a de terra


arrasada. Em vez de liderar a classe po-


lítica na tentativa de encontrar a me-


lhor saída para a crise, Bolsonaro ataca


também a classe política. Ele insiste


em que as recomendações dadas pelo


seu próprio ministro da Saúde não pas-


sam de “histeria” provocada pela im-


prensa e por alguns epidemiologistas,


com o único fim de derrubá-lo e de


montar seu próprio jogo de poder. Foi


o recado que passou pessoalmente nes-


ta quarta-feira ao governador de São


Paulo, João Doria: “Saia do palanque”.


Não dá nem mesmo para dizer que,


bem ou mal, Bolsonaro optou por uma


resposta técnica, embora não fosse a


defendida pela Organização Mundial


da Saúde, nem pela comunidade dos


epidemiologistas, nem pelo seu pró-


prio ministro da Saúde. Ele está deses-


perado porque perdeu a âncora dos


bons resultados da economia e não tem


outra para por em seu lugar. É a mesma


síndrome que vai ameaçando a sobrevi-


vência política de Trump, com a dife-


rença de que as eleições presidenciais


nos Estados Unidos se realizarão den-


tro de oito meses, e as do Brasil, só den-


tro de dois anos e meio.


O que fazer com um despreparado


que só escuta um bando de malucos e


que aposta na polarização, na ruptura,


no colapso das políticas públicas e nas


saídas autoritárias, e não na união na-


cional, para enfrentar o novo perigo pa-


ra salvação do povo e da coisa pública?


Os panelaços vistos desde a semana


passada podem apontar para uma res-


posta para esta pergunt


a.


»Mil e uma. Outra vantagem é que


as companhias conseguem diminuir


a pressão de venda: dão um porta


de saída para os que querem se des-


fazer do papel e melhoram a percep-


ção de risco em relação a seu crédi-


to. Também, para companhias com


vencimentos este ano, a estratégia


faz sentido. Isso porque, na data do


vencimento do bond, terão de de-


volver aos investidores 100% do va-


lor de face dos papéis. Nesse mo-


mento de enorme estresse, todos


os bonds estão sendo negociados


por valores abaixo disso. Procura-


dos, Minerva, Cosan e BTG Pactual


não comentaram.


»Solidariedade. Diante do avanço


da pandemia do novo coronavírus,


empresas de diversos setores têm


anunciado contribuições em dinhei-


ro e em insumos de higiene e limpe-


za para o combate à doença. Soma-


das apenas as ações cujos valores


foram divulgados esta semana, já


são mais de R$ 170 milhões em doa-


ções. Além disso, as empresas distri-


buíram gratuitamente álcool em


gel, sabonetes e sabão em barra.


»Todos juntos. Para ficar em ape-


nas um exemplo, no campo de insu-


mos para hospitais, um grupo de em-


presários se mobilizou para aumen-


tar a fabricação de ventiladores pul-


monares. Klabin, Suzano, Positivo,


MagnaMed Tecnologia Médica e


Flex uniram-se para atingir a meta


de 5 mil ventiladores para entrega


em 30 dias. A intenção é disponibili-


zá-los do pico da crise projetada pe-


las autoridades de saúde.


»União. A produção ficará por con-


ta da Magnamed, que já tem faz de


maneira limitada o aparelho. As ou-


tras empresas se dividem em busca


de insumos. A Positivo contribui


com o desenvolvimento das placas,


a Flex ajuda na produção final e a


Suzano e a Klabin, na compra de


material e no frete, entre outras ati-


vidades.


»Ia tão bem. A pandemia pode in-


terromper a desaceleração da ina-


dimplência entre as pessoas físicas,


que era prevista para este ano, de


acordo com o SPC Brasil. Depois de


cair 0,18% na comparação anual de


2019, o número de brasileiros adul-


tos negativados subiu 1,38%, em base


anual, em janeiro, mas desacelerou


para 1,23% em fevereiro. Já o núme-


ro de dívidas cedeu 0,30% em feverei-


ro, na comparação anual, pelo nono


mês seguido. Mais da metade das


dívidas (52,69%) está com os bancos.


»Alerta. A aposta dos economistas


de de que os indicadores de inadim-


plência seguiriam caindo era basea-


da nas indicações de crescimento


econômico e melhora nos níveis de


emprego. Agora, o que os especialis-


tas veem é incerteza e impacto na


demanda interna, com repercussões


negativas nas taxas de desemprego e


renda, que produzem inadimplência.


»Limpeza. A entidade que reúne as


empresas de sucata de ferro e aço, a


Inesfa, defende que a atividade dos


catadores seja considerada como es-


sencial, para seguir independente da


quarentena que paralisa o País na


tentativa de conter o coronavírus. O


argumento é de que o setor é um


dos responsáveis por recolher das


ruas materiais que acabariam em


aterros e lixões. Expostos, podem se


tornar foco transmissor de doença,


como a dengue.


»Sobrevivência. O Inesfa represen-


ta o setor que reúne 5,6 mil empre-


sas e no qual atuam mais de 1,5 mi-


lhão de pessoas. Segundo a entida-


de, seus associados estão orientando


sobre segurança no recolhimento de


material, por conta da preocupação


em relação aos trabalhadores, que


recebem pela coleta seletiva diaria-


mente. A entidade diz que a maioria


das siderúrgicas estão operando nor-


malmente até o momento e adqui-


rindo sucata para produção de aço.


CYNTHIA DECLOEDT, FERNANDA

GUIMARÃES E TALITA FERRARI

» Por que esconder os laudos?


Se os testes de coronavírus do presiden-


te Bolsonaro apresentaram resultados


negativos, por que esconder os laudos?


» Operação ocultamento


O Hospital das Forças Armadas, onde


Bolsonaro fez os testes, omitiu dois no-


mes de pacientes infectados. Há dois


dias, o presidente editou medida provisó-


ria que proíbe repartições públicas de


divulgar informações sobre o estado de


saúde de seus pacientes. Reforça-se a


hipótese de que esteja contaminado.


CELSO


MING


DIDA SAMPAIO/ESTADAO

lNúmeros


1,5 milhão


de brasileiros trabalha com a coleta de


materiais recicláveis para 5,6 mil


empresas da área, segundo a Inesfa


CONFIRA


Bolsonaro opta pelo


confronto e pela ruptura


Bolsonaro. Desorganizador


coluna do


Títulos de dívida caem e


empresas vão às compras


E-MAIL: [email protected]

TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO – 13/12/

JONNE RORIZ/ESTADÃO-9/6/

TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO-13/12/

mercados


US$ 1/NY1 Euro/
Europa

1 Libra/
Londres

R$ 1/
Brasil
Dólar americano 1,000 1,0888 1,1903 0,
Euro 0,919 1,0000 1,0937 0,
Franco suíço 0,976 1,0626 1,1616 0,
Libra esterlina 0,840 0,9147 1,0000 0,
Iene 111,250 121,1215132,4230 22,

Venc. Aju. C. Abe. Min. Máx.Var.%
Açúcar NY* MAI/2011,41317.278 11,31 11,681,
Café NY* JUL/20 128,95 48.867 121,95 129,05 2,
Soja CBOT**MAI/208,82 269.604 8,8058,970 -0,
Milho CBOT**JUL/20 3,54366.222 3,5083,5680,

AS MOEDAS NA VERTICAL:VALOR DE COMPRA SOBRE AS DEMAIS FONTE: IDC

Trabalhador assalariado e doméstica*
SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO ALÍQUOTA
Até R$ 1.045,00 7,5%
De 1.045,01 até R$ 2.089,60 9%
De R$ 2.089,61 até R$ 3.134,40 12%
De R$ 3.134,41 até R$ 6.101,061 14%

Maiores altas do Ibovespa INSS - Competência (Março)


R$ Var. % Neg.
GOL PN N2 10,94 35,06 56.


BRASKEM PNA N1 15,02 31,75 25.


LOCALIZA ON EJ NM 34,47 26,82 34.


Maiores baixas do Ibovespa


CARREFOUR BRON 20,85 -4,36 27.


P.ACUCAR-CBDON 70,00 -2,78 9.


TELEF BRASILPN 47,06 -1,79 20.


No mundo Pontos Dia%Mês% Ano%


(^1) Nova York DJIA 21.200,55 2,39-16,56 -25,
(^1) Frankfurt - DAX 9.874,26 1,79-16,96 -25,
(^1) Londres - FTSE 5.688,20 4,45-13,56 -24,
(^1) Tóquio - NIKKEI 19.546,63 8,04-7,55 -17,
IBOVESPA: 74.955,57 PONTOS 1 DIA 7,50 (%) MÊS -28,05 (%) ANO -35,18 (%)
Tesouro Direto ()
Venda Dia % Mês % Ano %
Dólar Comercial 5,0326 -0,97 12,37 25,
Dólar Turismo 5,1730 -1,09 11,56 24,
Euro 5,4780 0,05 10,80 21,
Ouro 252,001 -3,08 10,04 24,
WTI US$/barril 24,1900 -0,29 -46,55 -60,
IBrentUS$/barril 27,2900 -0,43 -45,53 -58,
IGP-M (FGV) 1,0682 IPCA (IBGE)1,
IGP-DI (FGV) 1,0640 INPC (IBGE)1,
IPC-FIPE 1,0364 ICV-DIEESE1,
FATORES VÁLIDOS PARA CONTRATOS CUJO ÚLTIMO REAJUSTE OCOR-
REU HÁ UM ANO. MULTIPLIQUE O VALOR PELO FATOR
DATA TAXA ANOTAXA DIA MÊS% ANO%
CDB (20/30) 3,44 -5,23 -16,91 -22,
CDI 3,65 0,00 -12,05 -17,
TR/TBF/Poupança/Poupança Selic (%) CDB - CDI
22/3 a 22/4 0,0000 0,2663 0,5000 0,
23/3 a 23/4 0,0000 0,2795 0,5000 0,
24/3 a 24/4 0,0000 0,2750 0,5000 0,
Índice Janeiro FevereiroNo ano12 Meses
INPC (IBGE) 0,19 0,17 0,36 3,
IGPM (FGV) 0,48 -0,04 0,44 6,
IGP-DI (FGV) 0,09 0,01 0,11 6,
IPC (FIPE) 0,29 0,11 0,39 3,
IPCA (IBGE) 0,21 0,25 0,46 4,
CUB (Sinduscon) 0,34 -0,01 0,33 3,
FIPEZAP-SP (FIPE) 0,33 0,15 0,49 2,
Inflação (%) Moedas e Commodities
AUTÔNOMO (BASE EM R$) ALÍQUOTA A PAGAR (R$)
De 1.039,00 a 6.101,06 20% De 207,80 a 1.220,
Vencimento 7/4. O porcentual de multa a ser aplicado fica
limitado a 20%, mais taxa Selic.
Agrícolas - Mercado Futuro
VENCIMENTO (
)ANO (%) R$
Tesouro IPCA 15/8/2026 4,02 2.575,
15/5/2035 4,52 1.700,
Com Juros Semestrais 15/8/2030 4,16 3.836,
Tesouro Prefixado 1º/1/2023 5,89 853,
1º/1/2026 7,92 644,
Tesouro Selic 1º/3/2025 0,0310.556, 30
()TÍTULOS A VENDA
Agrícolas - Mercado Físico
Índices de reajuste do aluguel (Março)
(
) Em cents por libra-peso (**) Em US$ por bushel
Ult. Var. (%)Var. 1 ano(%)
Soja
CEPEA/ESALQ, R$/sc 60 kg 99,69 1,71 26,
Boi
CEPEA/ESALQ, R$/@ 199,50 2,28 28,
Milho
CEPEA/ESALQ, R$/sc 60 kg 59,49 -0,10 53,
Café
CEPEA/ESALQ, R$/sc 60 kg 589,87 1,18 50,
SERVIÇOS COM
APROVAÇÃO ISO 9001
TERCEIRIZAÇÃO
√ LIMPEZA √ PORTARIA √ RECEPÇÃO √ MOTORISTA
rsterceirizacao.com.br
SÃO PAULO - 11 3803-8853 CAMPINAS - 19 3396-
GUARULHOS - 11 4574-7970 SANTOS - 13 3288-
i

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