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A22 SÁBADO, 28 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Esportes
COI recebe apoio do G-20
por adiamento dos Jogos
LAUSANNE
O Comitê Olímpico Internacio-
nal (COI) agradeceu ontem os
líderes do G-20 pelo apoio à de-
cisão de adiar os Jogos de Tó-
quio. No dia anterior, em reu-
nião feita por videoconferên-
cia, a cúpula das 20 maiores eco-
nomias do mundo reconheceu
“os esforços para salvaguardar
a saúde dos cidadãos com a adia-
mento de grandes eventos pú-
blicos”, referindo-se, em parti-
cular, à decisão do COI, do Co-
mitê Organizador e do governo
japonês de adiar a Olimpíada de
Tóquio-2020 para 2021.
“É um grande incentivo para
o Japão e para o COI, por seu
compromisso em conjunto
com os Jogos Olímpicos de Tó-
quio-2020, ter apoio significati-
vo dos líderes mundiais, atra-
vés de uma declaração conjunta
do G-20”, expressou o alemão
Thomas Bach, presidente do
COI, em nota oficial divulgada
ontem.
A entidade esportiva busca
apoio em todos os setores dian-
te da dificuldade que terá na
reorganização dos Jogos, inclu-
sive financeiramente.
O G-20 ainda considerou que
“a determinação de o Japão se-
diar os Jogos Olímpicos e Para-
límpicos de Tóquio-2020, na
sua totalidade, é um símbolo da
resistência humana”.
Bach avaliou que a decisão de
manter o evento pode dar espe-
rança ao momento difícil en-
frentado no mundo. “A humani-
dade está atualmente em um tú-
nel escuro. A Olimpíada de Tó-
quio-2020 pode ser uma luz no
final deste túnel.”
A decisão de adiar os Jogos
para 2021 foi tomada, em co-
mum acordo, na última terça-
feira, tendo como norte o agra-
vamento progressivo da pande-
mia da covid-19.
Ciro Campos
Fechado em casa há duas sema-
nas para evitar o contágio do
novo coronavírus, o ex-treina-
dor Muricy Ramalho se preocu-
pa com o impacto da pande-
mia no futebol. Em entrevista
ao Estado, o atual comentaris-
ta do canal SporTV conta que,
por ter 64 anos, tem evitado
ver os filhos e a neta, e diz tor-
cer por uma resolução rápida
na negociação entre clubes e
atletas sobre a redução salarial
para o período de crise.
Para Muricy, é preciso bom
senso dos dois lados e caberá
aos jogadores entenderem que
a paralisação prejudica demais
as finanças dos clubes. Ontem,
inclusive, o Fortaleza foi a pri-
meira equipe brasileira a en-
trar em acordo com o elenco e
fechar uma redução salarial de
até 25% por dois meses. Na Es-
panha, o poderoso Barcelona
anunciou que reduzirá salários
de atletas e dos funcionários
do clube. Confira os principais
trechos da entrevista.
lComo está a sua rotina?
Está ruim, como para todo
mundo. A gente está sempre
acostumado a viajar, encon-
trar os amigos e trabalhar. En-
tão é muito estranho estar iso-
lado. Eu a minha esposa esta-
mos no nosso apartamento,
saindo bem pouco, longe dos
filhos e da neta, dos amigos. É
uma rotina difícil para todos,
muito dura. Vamos ter de
aguentar. A gente tem de en-
tender que é perigoso, que não
pode encontrar outras pes-
soas. Vale o sacrifício. Eu e mi-
nha senhora estamos no grupo
de risco, pela idade. Temos de
saber que esse vírus é duro e
não perdoa. O vírus você não
controla e para nós, que gosta-
mos do esporte, é ruim. Está
sendo difícil ficar sem futebol.
Mas temos de entender.
lHá quanto tempo está recluso?
Estou há uns 15 dias no meu
apartamento, só saio um pou-
co para fazer atividade física
em lugar que não tem nin-
guém. Eu tenho de cuidar da
minha saúde. É duríssimo. Eu
tenho três filhos, que estão lon-
ge de mim agora. A gente só fi-
ca no Facetime falando. Mas
não é igual, porque não tem o
abraço e o carinho. Tenho uma
netinha de quase três anos e
não posso nem abraçar. Te-
mos de segurar essa onda.
lOs problemas de saúde (cardía-
cos) que você teve te deixaram
mais cauteloso?
Com certeza. A gente só apren-
de quando toma sustos. Só dei-
xei de ser treinador porque le-
vei dois grandes sustos. É uma
coisa que é importante estar li-
gado. Esse vírus é perigoso.
lOs clubes têm tentado reduzir
salários nessa época. O que pen-
sa disso?
Tem de ver os dois lados, do
clube e do jogador. Em primei-
ro lugar, alguns clubes têm pro-
blemas de não pagar salários
há algum tempo. Para fazer
acordo com o jogador, se você
deve há algum tempo para ele,
é difícil. Agora, o jogador tem
de entender que os clubes es-
tão em situação complicada.
Patrocínio nesta época não vai
ter, bilheteria de jogos tam-
bém não. Vão ter de chegar a
um bom senso sobre o que é
melhor para todos. O futebol
vai ser afetado como todas as
outras áreas, não tenha dúvi-
da. Agora, tem de achar uma
coisa boa para os dois.
lEntão, para reduzir salários,
primeiro tem de falar em pagar
em dia...
Os jogadores do time do inte-
rior sempre sofrem mais, por-
que não ganham o suficiente
para guardar alguma coisa pa-
ra quando tiver alguma emer-
gência. Já é difícil receber, e
quando recebem não dá para
guardar porque já estão deven-
do. É uma situação complica-
da. A gente só está percebendo
o movimento na Série A, mas é
pior quando se trata de outras
divisões. Esses, sim, vão ter
problema. Por isso os sindica-
tos de jogadores têm de ficar
de olho em quem está em difi-
culdade gigante. Na Série A, ge-
ralmente os jogadores têm até
um dinheiro guardado.
lA pandemia vai deixar algum
aprendizado para o futebol?
O problema do futebol, como
no Brasil todo, é que, quando
acontece alguma coisa grave,
se fala muito naquele momen-
to e depois se larga tudo. Nes-
te momento, a gente queria
ver os clubes se unindo e pen-
sando juntos. Mas não vai
acontecer isso. Vai passar a
pandemia, se Deus quiser, e de-
pois cada um segue para o seu
lado. Entre os clubes, cada um
pensa no seu. Desde que me co-
nheço como jogador, nunca vi
os clubes se juntarem para re-
solver situações complicadas.
lA parada deve mudar bastante
a força dos times?
Vão voltar diferentes, sim. Pri-
meiro na parte psicológica.
Não é fácil. Jogador de futebol
é como qualquer outra pessoa,
tem família, tem sentimentos.
Vai demorar um pouco para ar-
rancar. Na parte física será o
mesmo, vai deixar muito a de-
sejar. Por mais que estejam
treinando um pouco em casa,
isso não basta. O futebol de ho-
je exige demais da parte física.
Vai demorar um pouco para en-
trar no ritmo. Perdeu todo
aquele embalo dos Estaduais.
Vai mexer demais com os joga-
dores, diretoria e a torcida.
lFicou surpreso por adiarem
tantos eventos esportivos?
Não. Tinha de fazer isso mes-
mo. Não tinha como estar em
uma situação dessa e querer
ter jogos, mesmo com portões
fechados. Jogador de futebol
não tinha cabeça para jogar
com portões fechados. Só joga-
va porque tem contrato mes-
mo. Tinha de parar. Não tem
condições psicológicas para
ter festa neste momento. Te-
mos de entender. Foi certo pa-
rar tudo.
ZURIQUE
Os contratos atuais de jogado-
res e técnicos de futebol devem
ser estendidos até o fim da tem-
porada doméstica atrasada, se-
gundo documento interno da
Fifa apresentado ao Grupo de
Trabalho sobre coronavírus da
entidade. O informe confiden-
cial, ao qual a agência Reuters
teve acesso, recomenda permi-
tir que as janelas de transferên-
cia sejam alteradas de acordo
com as novas datas da tempora-
da e incentiva clubes e jogado-
res buscarem juntos soluções
para pagamentos salariais du-
rante a paralisação.
O documento será discutido
por membros do Grupo de Tra-
balho da Fifa. Nenhuma deci-
são sobre as questões foi toma-
da pela entidade ainda. O grupo
de trabalho, criado em 18 de
março, disse em comunicado
que “avaliará a necessidade de
emendas ou dispensas temporá-
rias dos regulamentos da Fifa
sobre status e transferência de
jogadores” para proteger con-
tratos e ajustar o período de re-
gistro de jogadores.
“Este trabalho já começou e
será conduzido em consulta
com todas as principais partes
interessadas, incluindo confe-
derações, associações, clubes, li-
gas e jogadores”, diz a Fifa.
A maioria das competições
nacionais e internacionais de fu-
tebol em todo o mundo foi sus-
pensa devido à pandemia, e tor-
neios de seleções, como a Euro
2020 e a Copa América, foram
adiados. Embora as ligas do-
mésticas esperem retomar as
atividades quando a ameaça do
vírus recuar, datas de início con-
cretas ainda precisam ser esta-
belecidas.
Isso deixa a questão de con-
tratos vencidos, que geralmen-
te são programados para termi-
nar no final de uma temporada,
como uma dor de cabeça em po-
tencial.
A principal sugestão para o
Grupo de Trabalho no docu-
mento é que “no lugar de um
contrato programado para aca-
bar na data final original de uma
temporada, este término será
prorrogado até a nova data final
da temporada seguinte”. A mes-
ma abordagem se aplicaria às
transações para a próxima tem-
porada, com a data de início
atrasada de acordo com o calen-
dário de mudanças.
O risco de algumas divisões
domésticas começarem e termi-
narem mais cedo ou de ligas na-
cionais terem uma data de iní-
cio diferente das outras tam-
bém é abordado no documen-
to. “No caso de sobreposição de
temporadas e/ou períodos de
inscrição, e a menos que todas
as partes acordem de outra for-
ma, será dada prioridade para
concluir a temporada com a
equipe original, a fim de garan-
tir a integridade de um campeo-
nato”, diz o texto.
O pagamento de transferên-
cias entre clubes, programado
para as datas de início e término
da liga, também deve ser adiado
até a nova data de início de uma
temporada ou seu primeiro pe-
ríodo de registro. / REUTERS
ENTREVISTA
estadao.com.br/e/djokodoacao
NOVA YORK
A pandemia do novo coronaví-
rus atingiu em cheio os rendi-
mentos dos dirigentes da NBA.
Cerca de 100 executivos da
mais lucrativa liga de basquete
do mundo sofreram um corte
de 20% dos seus ganhos em ra-
zão da falta de jogos da competi-
ção neste período de quarente-
na e isolamento social.
Ainda não há previsão de
quando os salários serão recupe-
rados na íntegra, assim como
não se sabe quando serão reto-
mados os jogos da temporada
2019/2020. Os cortes nos ga-
nhos já foram efetivados e atin-
gem dirigentes que atuam na se-
de, em Nova York, e também
nos diversos escritórios da
NBA pelo mundo.
As informações foram repas-
sadas por uma fonte da liga à
agência de notícias Associated
Press. A NBA não confirmou pu-
blicamente o corte nos salários.
Os benefícios de plano de saú-
de, por exemplo, foram manti-
dos na íntegra. A queda nos salá-
rios não afetará o pessoal da
área administrativa e de supor-
te. Atinge apenas aqueles com
rendimentos mais elevados.
Com a decisão, a NBA segue o
caminho de competições de ou-
tras modalidades, como NHL
(hóquei no gelo) e Nascar (auto-
mobilismo), que já cortaram sa-
lários enquanto os eventos es-
portivos não são retomados.
A temporada da NBA foi sus-
pensa no dia 11 de março quan-
do Rudy Gobert, do Utah Jazz,
testou positivo para a covid-19.
Ele foi o primeiro jogador da li-
ga a contrair o novo vírus. / AP
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Fifa estuda propor a
extensão de contratos
Recluso por causa do
coronavírus, ele afirma
que é preciso bom senso
dos dois lados ao discutir
a redução dos salários
NBA corta 20% dos rendimentos de seus executivos
Grupo das 20 maiores
economias do mundo
defende decisão por se
preocupar, sobretudo,
com a saúde das pessoas
Adaptação. Fifa pode mudar temporariamente suas regras
PASCAL MORA/THE NEW YORK TIMES-27/5/2015
Documento da entidade,
que está em análise,
sugere prorrogação de
acordos até o fim da
temporada em cada país
GABRIELA BILO / ESTADAO - 15/6/2016
Vai mudar. Muricy diz que times estarão diferentes na volta
Muricy Ramalho, ex-treinador e atual comentarista esportivo
‘O jogador tem
de entender a
situação do clube’
NA WEB
Doação. Djokovic
destina R$ 5,5 mi
à luta contra vírus
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JASON GETZ-USA TODAY SPORTS
Aperto. Executivos da NBA foram atingidos pela crise
Liga mais poderosa do
basquete age em função
da crise, mas preserva os
salários dos funcionários
que ganham menos