saindo do quintal na direção do porco, que mataremos amanhã, a comer, a comer, o
porco para quem nós não existimos ainda, existiremos daqui a horas somente, sem
cessar de comer não apenas a lavadura, não apenas as cascas, não apenas os restos que
lhe dão, os nossos restos que lhe dão enquanto a doente no quarto perguntava de terço
nos dedos
- Não me acham melhorzinha?
dissolvida no colchão, de dentadura postiça na esperança de se tornar mais saudável,
na esperança de viver, na esperança que ninguém a levaria dali para longe de nós, na
esperança de permanecer para sempre conosco, na esperança de sorrir-nos quando
nem nos sorria sequer, olhava-nos com acanhamento, com medo, com pavor - Ajudem-me
conforme o meu pai para a minha mãe - Ajuda-me
conforme eu para Sua Excelência - Ajuda-me
e que inútil pedirmos - Ajuda-me
se estamos sozinhos, se a minha mãe para nós - Acabou-se
desaparecendo na cancela a caminho da estrada lá em baixo onde ninguém mais a
veria.