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Na altura do Natal a coluna de reabastecimento trouxe quatro mulheres metidas
entre os caixotes da última mercedes, não muito novas, não muito bonitas, não muito
limpas claro, de quico na cabeça e camuflados grandes demais para elas, olhando a
medo o capim e as árvores dos dois lados da picada, o meu avô para o meu pai baixinho,
sem levantar a arma, passando um dedo lento entre as orelhas da cadela
- Não são perdizes é um ouriço a vigiar a toca
com os primeiros besoiros já, as primeiras borboletas, aquela espécie de diferença
na nuca que antecede o calor, soldados de ambos os lados no interior da mata e por
vezes raminhos esmagados, protestos de caniços, dois ou três militares à frente a
picarem, uma lata amolgada no chão, um céu de chuva a oeste muito longe ainda, a
seguir à primeira chuva a ladeira que conduzia ao arame onde se agitavam vespas num
charco de água parada, a minha filha numa pedra do quintal sem falar comigo nem me
olhar, em pequena sentava-a nos joelhos para cima e para baixo - Cavalinho cavalinho
e ela a rir de prazer, de medo e do prazer do medo, ela contente, com o cabelo para
um lado e para o outro e a falta de um dente de leite junto ao incisivo, nenhuma ruga
meu Deus, ainda nenhuma ruga, a pele tão lisa, covinhas nas costas das mãos, covinhas
nos cotovelos covinhas nas bochechas - Mais
os dedos dos pés pequeninos, redondos, os olhos castanhos, não bem castanhos,
pintinhas verdes e agora infelizmente óculos, a boca séria, fechada, com um parêntesis
de cada lado, o que te sucedeu, o que me sucedeu, a coluna entrou no arame camioneta
a camioneta, com os pretos dos quimbos a espreitarem-na de longe e os soldados a
saltarem da caixa, as gê três um som mais forte que as calaches, sempre que punha a
minha filha às cavalitas despenteava-me - Corra
e eu a segurar-lhe os tornozelos com medo de tropeçar na horta e cair, um lacrau
apareceu numa pedra e esticou logo a cauda, os tropas espiavam as mulheres de longe
enquanto o vagomestre ajudava a fixar, martelando-os, os paus de duas barracas de
lona com colchões secos lá dentro a que faltava palha, na coluna um saquito de correio
sem nenhuma carta para mim, a minha mulher escrevia-me uma vez por semana,
envergonhada da letra - É tão feia
onde contava não importa o quê para encher o papel comigo a pensar no seu corpo,
será que ainda te lembras do meu, as mulheres que o capitão veio observar, com um
alferes atrás, três morenas e uma quase albina, magríssima - Menos mal do que o ano passado vá lá pelo menos nenhuma delas é preta
despiram-se nas barracas enquanto um sargento distribuía senhas aos militares - Cinco minutos para despacharem o serviço que elas têm de se ir embora ainda hoje
e o meu avô aborrecido porque nenhuma perdiz, a cadela pôs-se de pé, girou sobre
si mesma e tornou a deitar-se, de focinho poisado num dos nossos sapatos, à espera,
sentia-se a respiração dela entre a impaciência e o sono, notava-se-lhe uma carraça na