- Amor
de ninguém, sem nunca haver escutado - Amor
de ninguém, sobretudo não em África ao prevenir - Ai de vocês
os soldados, quando o vi matar gente desejando morrer, quando o vi olhar a minha
mãe quase invejando-lhe as pedras, quando ao observar o médico o sabia por vezes a
desejar o lugar dela, quando ao olhar a minha irmã tinha vontade de abraçá-la, não
disfarce, não minta, vontade de abraçá-la sem coragem de tocar-lhe porque a cara dela - Não se atreva a chegar-se
desejando que ele se atrevesse a chegar-se e desculpe dizer-lhe isto pai mas com o
devido respeito você tão idiota, tão tonto, você quase - Amor
a pedir à minha mãe, dentro da camisa de rendas, que o exprimisse por si, você - Dá-me licença que a acompanhe?
e mais nada, tão aflito, a pisar-lhe o cabelo, a magoá-la, a afastar-se à pressa - Volto já
e sentado na sala às escuras sem coragem de voltar, olhando a rua da janela, as
lâmpadas, as árvores, você um pobre, você sem ninguém, você aqui na aldeia a olhar o
porco, não pares de comer, porco, fruta podre, legumes, restos, as pedras do rim todas,
mesmo as pequeninas e aquelas que não nasceram ainda, a minha mãe preocupada com
os botões da blusa - Se continuo a melhorar ganho peso a mais
enquanto o meu pai olhava o porco como se o porco fosse ele, a estranhar a minha
cara, a estranhar os meus gestos, a estranhar a mesa das facas enquanto a sanzala
continuava a dançar esperando a, tantos parafusos no canhangulo do guia, tantos
pregos, esperando a morte, Sua Excelência no quarto, a afastar-se de mim sem coragem
de apagar a luz - Quem és tu?
pronta a defender-se com a almofada, os joelhos, as unhas porque o meu corpo
pintado, a minha pele de chita, os meus cornos de zebu, o empregado da oficina - Devia trazer o carro para aqui não vão roubar-lhe outra jante
à esquerda do café cheio de motorizadas à porta e homens, um deles de muletas,
com garrafinhas na mão a olharem para mim sem palavras, as moscas poisam-lhe nas
feições e não reparam, o meu pai chamou o guia apontando o trilho - Onde é que isto vai dar?
porque não era trilho de quimbo, demasiado poucas marcas de passos e as marcas
de passos descalças, sem botas, os turras devem ter vindo pela mata como devia estar
alguém à espera que passássemos para nos atacar por trás, vão gabar-se no rádio que
nos mataram a todos, Sua Excelência para mim - Estás quietinho há que tempos de braço no ar perdeste o apetite?
por vezes os olhos dela não trocistas, quase ternos, houve inclusive manhãs em que - Espera aí
e me corrigia a gravata antes de eu sair para o emprego
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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