calhar está com um homem sei lá onde, se calhar algum problema na parteira, uma
hemorragia, uma perfuração, um homem verde para outro homem verde
- Mata-a mata-a
e ela com argolas no tornozelo de bruços no intervalo de dois quimbos, com marcas
de balas na testa e no peito, sem uma das orelhas, a orelha num frasco que o meu pai
aceitava, olhava para mim, parecia suspender-se hesitando, acabava por encolher os
ombros e aceitava, apenas uma frase para um homem verde que se dobrou, juntamente
com um brilho de lâmina, para qualquer coisa mais distante, não compreendi se uma
pessoa se uma espécie de raiz, acho que não uma pessoa, uma espécie de raiz a seguir
a um tufo de liamba - Deixa o pai dele em sossego
isso antes de incendiarem os quimbos com ajuda das latas de gasóleo dos unimogues
e estou para saber por que bulas o vapor do gasóleo ainda hoje me enjoa, lembro-me
de mim ao colo do meu pai, à direita do condutor, de regresso ao que chamavam
quartel, sem pensar ainda, é lógico, aquilo que pensei pela primeira vez muitos anos
depois, isto é - Não serei eu todo as orelhas que ele cortou não serei o seu troféu?
e portanto não olhe para mim, não me abrace, não me sorria, largue-me num frasco
de álcool, mostre-o a um amigo, meta o frasco numa gaveta e depois deixe-me em paz
entre coisas, sobrescritos usados com o meu nome por fora, não aquele que tinha, o
que me deram depois, lâmpadas fundidas, um parafuso, três canetas sem aparo, quero
uma gaveta escura, uma gaveta muito escura onde nem Sua Excelência dê aqui pelo
bogas e me esqueça, sobretudo me esqueça, por favor me esqueça como esqueci o meu
outro pai que ignoro se era um vivente ou uma raiz e não sei sequer se existiu, estou a
mentir, sei, um dos clientes do café para o sócio apontando-me o queixo de uma
maneira que ele cuidava discreta - É da minha vista ou aquele preto junto à montra não está a chorar?
de modo que o sócio e o dono do café a espiarem-me de banda num arzinho casual,
eu na poltrona à espera que Sua Excelência se dignasse voltar para casa e os três não ao
balcão agora, acolá numa mesa a comerem, com uma equipa de futebol na parede no
lugar da paisagem que lá estava e o galhardete de um clube qualquer em vez do retrato
da tia de Sua Excelência que habitou aqui antes de nós, nos convidou para morar com
ela e o gato ao casarmos e nos deixou o apartamento quando morreu, sobrou o gato
uns tempos, que me detestava mais que a dona, todo desprezo e unhas, de olhos
ressentidos, até o coração o levar igualmente ou então foi o veneno das formigas com
que lhe temperei a tigela, Sua Excelência encontrou-o de manhã de barriga para cima,
ainda a odiar-me mas uma convulsão oportuna impediu-lhe as denúncias embora Sua
Excelência em prantos e com o gato ao colo, suspeitosa - Foste tu não fostes?
apesar de eu preocupadíssimo com o animal, de copo de água sobre um pires dado
que o mundo inteiro reconhece serem os copos de água úteis para tudo inclusive a sede,
eu inocente, eu indignado - Só faltava que me acusasses disso