que se começava a estender dentro de mim vindo do alto da chuva com alguns silvos
de microfone pelo meio, o meu corpo, sem que palavra de honra eu desse por isso, de
costas no colchão, um suspiro que não sei onde nasceu, os joelhos que principiaram a
afastar-se porque a raiz das minhas coxas começou a inchar separando-me as pernas,
uma boca à procura da minha que a ajudou a encontrá-la, o cheiro da loção da barba,
estou para saber porquê, menos desagradável agora, depois desagradável, depois
agradável apenas, garanto, encontrei uma cabeça, encontrei um peito e contra o que eu
pensava não me repugnaram os pelos, encaracolei o indicador num deles, encaracolei,
porque além do mais era engraçado, o anelar noutro, descobri, a um palmo, o umbigo,
as pontas pélvicas, os ossos da bacia sedosos, uma perna entre as minhas de mistura
com a alegria de ir servir a Pátria que me poisou quase na forquilha do corpo, primeiro
de esguelha, depois cada vez mais presente, ao meio dos ossos da bacia uma parte do
- Dá-me licença que a acompanhe?
a crescer, tentei ajudá-la porque, estou para saber o motivo, se me colou à mão, uma
espécie de cilindro com a pontinha molhada que continuava a aumentar, o - Dá-me licença que a acompanhe?
a pedir-me - Não fujas
numa súplica que me soprava nas orelhas, nos lábios, na garganta, se me dobrava na
língua, tornada língua também, tornada céu da boca, tornada dentes, tornada saliva,
tornada cochicho que se não entendia, tornada pedido - Deixa-me entrar em ti
sem acertar com a porta, um corpo inteiro sobre o meu que não cheirava a loção,
cheirava a uma mistura de jardim zoológico e pressa enquanto eu, ajudando-o, pressa
somente, uma espécie de necessidade de me tornar completa porque me faltava
qualquer coisa no corpo, qualquer coisa do - Dá-me licença que a acompanhe?
no interior do meu corpo, guardada lá dentro, fechando-me a mim mesma, fechando-
me aos outros, fechando-me ao mundo, o - Dá-me licença que a acompanhe?
numa espécie, ao mesmo tempo de ordem de homem e pedido de menino - Agora
até que o encontrei apontado a mim, lá em baixo, perdido, a quase conseguir, a não
conseguir, a quase conseguir de novo, a diminuir um bocadinho, a aumentar outra vez,
a diminuir de novo, a dilatar-se triunfal quando agarrei nele, de mindinho espetado, o
fui guiando na minha direção enquanto o - Dá-me licença que a acompanhe?
me segredava ao ouvido - Ai caramba caramba
me lambia a orelha - Ai caramba caramba
me comia o nariz - Ai caramba caramba
deslizando até ao fundo de mim, ganhando raízes no fundo de mim