ou seja a orelha de preto dele, a recordação, o tesoiro, nem sequer sou rapaz, sou
uma orelha, quem será a parteira como será a parteira, ordenará a Sua Excelência
- Porte-se como uma mulher não chore
porque de certeza que para ela Sua Excelência não senhora, mulher - Deu-te prazer fazê-lo não foi agora aguenta que é serviço
de modo que Sua Excelência, que remédio, aguentava, toda esquartejada e
aguentava, a tia dela antes de se calar para sempre insultou-me com o olhar - Você
e dentro do - Você
eu que nunca lhe fiz mal, ódio, desprezo, o que ela nunca me chamou - Preto
o que ela nunca me perguntou - Não tens vergonha de ser preto?
e pessoalmente, para ser inteiramente sincero, não sei se tenho, por mais que Sua
Excelência me despreze continuo a ignorar talvez porque os pretos são estúpidos não é,
não entendem não é, mais perto dos animais que da gente não é, iguaizinhos aos
macacos não é, devíamos atirar-lhes uns amendoins e pronto não é, uma banana não é,
um coco não é, todos os macacos gostam de cocos, lê-se nos livros, eu de novo sentado
junto à montra, à espera, já sem olhar para a rua nem para a porta do outro lado, uma
porta pintada de branco com uma maçaneta branca e uma lâmpada protegida por uma
gaiola de ferro branco em cima, aposto que acesa a noite inteira à espera de clientes,
que vidas, como o café se calhar a noite inteira aberto à espera de maridos pretos que
moram ao mesmo tempo em Angola como a macaca estendida na erva com um tiro na
cabeça, tiros no peito e sem a orelha direita, não, a esquerda, sem as duas orelhas
enquanto o meu pai se debruça do muro a fim de vigiar a estrada - Terá acontecido algum problema?
na esperança de descobrir o automóvel, de me descobrir a mim, de me acenar
mesmo sabendo que o não vejo porque pode acontecer o milagre de o notar lá em cima
e lhe acenar por meu turno, de braço esticado fora do carro para diante e para trás, um
braço preto é óbvio - Você quer o pirralho para quê?
o meu pai com a minha mãe, uma criatura um bocado gorda, no degrau da cozinha,
inquieta igualmente - Já passou no alcatrão?
e o meu pai a negar sob os eucaliptos logo a seguir ao arame, olhando a chana onde
eu não aparecia entre duas queimadas enviando beijos a mãos ambas, o meu pai a
segurar o camuflado de um homem verde - Viste o meu filho tu?
e ainda não passei na estrada mãe, continuo sentado na poltrona à espera, sentado
no café, sentado num tronco em África a empurrar um aranhiço com um pauzinho na
direção da casa Sua Excelência ou uma osga que surgiu de uma pedra, com as patas em
jeito de correr apesar de imóvel, as pupilas minerais observando-me consoante eu
observava um resto pardo de açúcar no fundo da chávena lembrando-me de um velho