ordens, gritos, para os lados da pista de aviação uma costureirinha a cantar, o médico
a estender o papel ao meu pai
- Gostava que fizéssemos este exame a fim de tirar algumas dúvidas
que o dobrou em dois, que o dobrou em quatro, que o guardou no bolso, a minha
mãe calada a olhá-los, um dos alferes a ordenar a passos apressados - Vamos lá cima à pista
à medida que um segundo morteiro abanava as árvores da rua e o capitão - Abriguem-se e abram fogo daí
uma nova costureirinha a cantar, um morteiro nosso, outro morteiro nosso na
direção da pista e dois cones de fumo e erva, cabrões, cabrões, o médico para a minha
mãe, apontando a algibeira do meu pai - Para ficarmos descansados minha senhora
o capitão a mandar duas seções para os quimbos e um pelotão rodeou a pista por
baixo a fim de apanhar os turras pela retaguarda depois de um círculo largo, um novo
morteiro caiu sem rebentar entre as latrinas e o posto de socorros, que um grupo
rodeava de sacos de areia - Muito perto não camelos muito perto não
a desencavilhar uma ofensiva e fazendo-a rolar na direção do morteiro - Abriguem-se atrás dos sacos não quero ver uma cabecinha para amostra
no consultório do médico livros, o retrato de uma senhora com uma criança de boca
igual à do médico, um ficheiro de hospital, a granada rebentou a quatro ou cinco metros
do morteiro, quando o resultado vier telefonam a marcar, a coisa demora uma semana
ou duas no máximo e o morteiro igual, quinze dias depois telefonamos a marcar sem
que o meu pai se atrevesse a abrir o envelope, o médico recebeu-nos a assoar-se,
fanhoso - Apanhei uma carraspana por aí não há janeiro que não me traga uma gripe
a chupar uma pastilha curativa qualquer perfumada de violeta, de vez em quando
cravava-lhe um dente e escutava-se um estalinho, sentou-se à secretária de bata menos
bem abotoada que o costume, com as violetas da pastilha de um lado para o outro e o
nariz entupido, os olhos vermelhos, saídos, eram os olhos que fungavam como ralos,
não o nariz, que esquisito fungar dos olhos mas era verdade, enquanto nos sentávamos
do outro lado da secretária batia o envelope no tampo a engolir sem cessar apontando
com o dedo um canto da garganta - Dói-me aqui
não numa voz de adulto, numa voz de criança, se calhar pensava que ia morrer ou
assim enquanto o ângulo do envelope batia, batia, o coração dele o envelope cada vez
mais rápido, lá o abriu por fim mais rasgando que descolando, a abafar um pigarro com
a palma e a minha mulher cheia de pena dele, tinha pena do mundo inteiro aquela, só
não se queixava de si mesma, apertava a cintura com a palma, em silêncio, sob o disfarce
de um sorriso, se lhe perguntássemos como se sentia respondia sempre - Bem
numa voz jovial que puxava do interior de si mesma, não sei se gosto muito dela mas
cuidava de mim, da roupa, da alma, dessas minúcias, também francamente não vejo