e enganchou-se na mulher, a tossir do tabaco, enquanto eu à entrada, enquanto o
milho restolhava com força dos caniços, hastes secas, maçarocas vazias, o meu irmão
- Que horror
à minha frente em Angola, à minha frente no café, um pássaro no cemitério a cantar,
o meu pai a puxar-me - Que horror
ou antes o meu pai a puxar-me - Vamos embora filho
e vamos embora pai, vamos embora já, leve-me para a casa da aldeia, chame a minha
madrasta e deixe-me na cama, o major de operações sempre de boquilha nos dentes
saiu da barraca do vagomestre onde a mulher olhava para o chão, mais ruivo, mais
vermelho, a compor-se nas calças, o meu irmão na beirinha da cama perguntando-me - Já não tens medo agora?
e já não tinha medo agora porque ele estava comigo, porque gostava de mim, porque
não era larilas pai, não se amofine porque não deitou ao mundo um larilas apesar do
senhor Jorge - Querido
que era, logicamente, um sinal de amizade e quem não tem amigos senhor, você tem,
eu tenho, o meu irmão, que mal há nisso, tinha o senhor Jorge não é, a polícia política
levou a prisioneira dois ou três dias depois juntamente com os outros numa coluna de
tropas especiais que não apanhou minas que alívio, com os paras a picarem quase o
percurso inteiro porque os berliês oiro, três mil contos é oiro, os homens que piquem e
os homens picavam enquanto o apontador de metralhadora, numa espécie de
torrezinha no alto da mercedes, ia girando a mira pelas ervas à esquerda e à direita, o
meu pai morreu há quase vinte anos a perguntar-me - O João?
comigo a responder-lhe - Não tarda um minuto está aí
e o meu pai tão contente, o guarda das duas sobrancelhas para ele - São coisas que acontecem quando menos se espera
a regressar com o colega ao jipe e a descerem a ladeira de faróis acesos baloiçando
nos desníveis da chuva, como se foram embora o filho deixou de estar morto e vai
chegar não tarda, o meu pai à procura do ar de respirar igual a uma criança cega
tateando o vazio de lábios espetados - Digam-lhe que o espero
e de certeza que permanece assim até hoje em que não é seja o que for, nem sequer
uns restos de cartilagens na terra porque o fim é isto tenha paciência, desaparecemos
por completo, não fica nem a ideia da nossa sombra no chão, não volte porque nem os
cães o reconheciam dado que cessou de largar cheiro e a propósito de cheiro como eu
gostava de escolher o caminho através de uma paisagem de odores, eu para o major de
operações - Não sente remorsos por abusar da prisioneira meu major?
e o major de operações para mim sem me olhar chupando o fumo lamacento da
boquilha, baixinho