do meu tamanho mas mais bonito, mais magro, as unhas dele perfeitas, um anel com
uma pérola no mindinho que se enrolava em argola ao pegar no copo, uma tarde, cinco
ou seis rapazes no, uma tarde o major de operações, um deles maquilhado, no funeral
e duas mulheres no gênero da
(a minha boca detesta o que digo)
minha filha, deviam trabalhar todos na mesma loja de roupa de senhora, com o dono,
um cota de cabelo pintado de loiro que me beijava sempre numa simpatia esquisita
- Não és mal jeitoso pequeno
e o meu irmão a acalmá-lo logo - Jorge
a afastar-me do cota puxando-me o braço, sempre nos demos bem, nunca
discutimos, uma ocasião pediu-me muito sério - Não sejas infeliz como eu
comigo com cara de parvo a olhá-lo, infeliz porquê, desculpa ter quase perguntado
ao pai depois de morreres - Sabia que o João era maricas?
não para ofendê-lo a ele, para ofender-te a ti que me protegias sempre, me davas
dinheiro, às vezes acariciavas-me a bochecha e eu a limpar com a manga recuando,
desculpa, não me leves a mal mas metia-me nojo, um larilas, se não pintasses os olhos,
se não pusesses cremes, se não usasses esse perfume que ao mesmo tempo me
repugnava e atraía, eu em pânico - Serei larilas também?
e custava-me perceber que percebias a minha pergunta, que tinhas medo que eu,
que não querias que eu e se estou errado corrige-me, não me ofende que me corrijas
porque gosto de ti mano, gosto muito de ti, se calhar não tens nada que me faça, o major
de operações, gostar mas pronto, gosto, o que me custou saber-te dentro daquela caixa,
o que me custou o som das pás, o que me custou o som da terra na tampa e os
empregados do cemitério a calcarem depois, o nosso pai deu-me o braço mas não era o
braço dele que eu queria, era o teu, o teu braço, mano, a empurrar-me - Deixa-me ficar lá no fundo e vamo-nos embora há de haver um café aqui perto
nós dois no café, tu e eu no café, tu - Agora que estou morto já podemos falar
e ao longo destes anos temos falado não achas, por muito que a gente pense que não
temos falado, o que eu gostava de haver recebido cartas tuas em Angola, no horror de
Angola, uma tarde o major de operações, vou tentar dizer isto depressa, uma tarde vi o
major de operações, sempre de boquilha curta e sem soprar o tabaco, deixando como
lama o fumo empastelar-lhe a boca chegar-se puxando uma prisioneira grávida para a
barraca onde o vagomestre amontoava garrafões, sacos de comida, cervejas, isto
mesmo à esquerda do armazém das urnas, deixou a porta encostada, achatou a
prisioneira contra a parede, trouxe um caixote vazio que, não consigo ir mais rápido,
que virou ao contrário, dobrou o joelho da prisioneira, colocou-lhe o pé no caixote e ela
calada, submissa, desabotoou a braguilha, procurou lá dentro, mandou - Não fales