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Pensava que tinha chegado à casa da aldeia, com o meu pai à minha espera, e afinal
um alferes de camuflado muito mais novo do que ele sentado na poltrona de tábuas de
barrica à entrada da construçãozita com telhado de zinco, diante do pau da bandeira,
que servia de messe, acompanhado por outro alferes de barba por fazer e rabo numa
grade de cervejas vazia a limpar a gê três, o alferes de camuflado que me tinha trazido
do mato para mim
- Quantas vezes é preciso dizer que não te quero nos quimbos?
apontando a sanzala pegada ao aquartelamento de onde quase todos os dias fugiam
pessoas, apesar do arame farpado, na direção da Zâmbia porque o soba verdadeiro, não
o soba fantoche da máquina de costura a que ninguém obedecia, as chamava por
mensagens que chegavam à noite, do lado dos eucaliptos, e a tropa não notava, metade
a tremer de paludismo e metade a dormir, pensava que Sua Excelência também comigo
mas eu sozinho, descalço, pequeno, com os calções do alferes que me chegavam às
canelas e uma camisa rasgada, sem cor, a que faltava uma platina, que um sargento me
deu, aos domingos de manhã o chimbanda, pintado e com plumas, degolava um galo a
seguir ao batuque, dançando sempre, tão rápido que não se lhe viam os pés, e bebia o
pescoço a ferver, com o sangue escorrendo peito abaixo até ao saiote e mulheres velhas,
curvadas, girando-lhe em torno, o alferes de súbito meu pai, preocupado com o meu
automóvel - Trancaste bem o carro?
enquanto a minha mãe - Devem estar tão cansados
e a nuca dela agora estreitinha, a minha mãe, que a certa altura alargou com a idade,
de blusa a sobrar-lhe nos ombros, uma perna mais difícil do que a outra e o meu pai na
poltrona de tábuas de barrica, não, no sofazito do meu avô a olhar para Sua Excelência
e para mim, de sobrancelhas misturadas um instante e a separarem-se logo, a sala
menos limpa, nódoas na toalha, a tampa de um dos dois baús aberta, esquecida, e não
era isto que eu conhecia, não foi aqui que estive, se a minha mãe, embora branca,
dançasse com as restantes velhas, se o chimbanda lhe oferecesse uma pena de galo, se
ela chocalhasse para a direita e para a esquerda uma lata de búzios as pedras do rim
sairiam do seu corpo a fim de chocalharem também e a minha mãe gorda de novo, feliz,
o meu pai ora um alferes ora um senhor quase de idade, o alferes de cantos da boca
para baixo - Não acredito
e o senhor de idade aliviado - E esta?
o médico de tronco nu, descalço, observando, enquanto uma enfermeira o limpava
do sangue, radiografias, analises - Não há dúvida que o medicamento americano a curou
e os grilos lá fora no tronco da árvore do quintal que mochos rondavam, claro que
tranquei o carro senhor, amanhã telefona-se à garagem da vila, os pés de Sua Excelência
quase tão pretos como os meus, sujos de alcatrão, poeira, terra e que ela massajava