a minha filha trinta e muitos anos ou isso e sou eu quem não acredita agora, já um
princípio de prega em cada canto da boca, o meu filho, mais velho do que ela nenhuma
prega ainda, é preto e aos pretos a idade chega-lhes de repente, instantânea, uma
manhã, de súbito o corpo sem músculos, os olhos vermelhos, a dificuldade em andar, a
minha nora mostrando-me a chávena vazia
- Apetecia-me outra
sem se mexer do banco mas com mais coxas na voz, pareceu-me que as pupilas de
repente e porém engano-me de certeza, a gente às vezes confunde, tenho setenta e três
anos, sou sogro dela, continuo a dar-me ao respeito, gaiteirices nem sonhar, a minha
mulher acredita em mim a pés juntos, a única treta que me aconteceu foi uma estupidez
há séculos com uma colega de emprego depois de uma reunião de trabalho com o
diretor em que fiquei ao seu lado e nisto um joelho, por acaso agudo, debaixo da mesa,
pensei que fosse sem querer, afastei-me um bocadinho e o joelho insistiu sobretudo
enquanto a dona, nem me lembro do nome ou seja lembro-me, Teresa, enquanto a dona
falava a desenhar losangos num bloco e eu, não escutando as palavras, a observar os
losangos e uma falta de verniz, por sinal branco, no indicador, como se tomasse notas o
verniz branco escreveu uma morada rápida debaixo dos losangos, a pretexto de ajeitar
o bloco rodou-o um bocadinho para mim com o bico da esferográfica a bater no
endereço enquanto o joelho mais ativo, li o nome da rua, o número, o piso e quando
quis verificar melhor se direito se esquerdo a esferográfica sublinhou-o antes de o riscar,
o joelho uma pressão definitiva de está combinado, eu uma pressão de certíssimo,
achando-me desconfortável porque ainda na véspera tinha feito anos de casado que
comemoramos com os miúdos pequenos e um pão de ló de dez velas e depois disso no
quarto, de porta fechada, onde a minha mulher vestiu a camisa de dormir da primeira
noite, a tal branca com rendas, que continuava a servir-lhe apesar de um bocadinho
menos larga, um bocadinho descosida, em certos sítios as rendas um bocadinho
amarelas que não é só para a gente que o tempo vai passando e não pus o pijama, tapei
a nudez com o lençol, a minha palma encontrou o seu pulso, a cabeça dela transferiu-se
da almofada para o meu ombro e a boca - Amor
baixinho, num fio, mas - Amor
dado que se manteve discreta em tudo desde o primeiro dia, das expansões às
doenças, ainda hoje com as pedras e os seis meses com sorte não aborrece ninguém, se
lhe pergunto por incômodos responde sempre - Acho-me ótima
embora as sobrancelhas circunflexas sob as sobrancelhas direitas que bem se nota
por fazerem uma sombrazita vaga nos olhos que escurecem, coitados, quem não a
conhece engole, quem a conhece percebe, fui à procura do endereço com o - Amor
nos meus ouvidos e o braço a puxar-me as costas para si, uma rua não muito longe
mas num bairro confuso e compridíssima, a subir, cheia de lojecas de arranjos de roupa,
uma lavandaria modesta, restaurantezinhos modestos de operários, um
estabelecimento modesto de fechaduras e chaves, um dentista modesto num rés do