assoar-se dissolvida no lenço e na segunda estacou, olhando para a janela à procura de
não sei quê na bolsa, se calhar de si
- Uma dessas Testemunhas de Jeová que querem à força catequizar a gente
se calhar de si mesma enquanto eu continuava a caminhar na rua passando uma
capelista, uma agência funerária, uma oficina de automóveis, uma butique de
manequins nus que me trouxeram vagamente à ideia a prima Iolanda e eu quase um
sorriso enternecido equivalente a uma palmadinha na bochecha da criança que fui e me
fitou indignada, já com esta prega entre as sobrancelhas que foi crescendo até hoje - Não me toque você
porque os meus pais me haviam prevenido, com expressões severas que me
assustavam, para não me aproximar de estranhos nem aceitar chocolates, de tempos a
tempos uma transversal à esquerda comigo a pensar - Sigo por aqui não sigo?
dado que começava a temer que aqueles números infinitamente repetidos em ás,
bês e cês não findassem nunca ou seja dias e dias caminhando sem descanso,
alimentando-me aqui e ali em cafezitos sombrios até que o dinheiro da carteira levasse,
uma estação de correios fechada claro, uma segunda agência funerária que amortalhou
de certeza os náufragos que me, sobretudo para o chefe de brigada - Se calhar tem razão
precederam, até que o dinheiro da carteira levasse sumiço o que não fazia mal
porque logo a seguir não o fim de Lisboa, o fim do mundo ou seja uma escarpa súbita e
olhando para baixo, lá muito no fundo, estrelas, quis chamar a minha mãe, quis chamar
a minha avó, quis sentar-me no rebordo do passeio na esperança que um anjo, talvez o
psicólogo no círculo de cadeiras do hospital, me pegasse ao colo e me levasse
apresentando-me à esposa - Um dos meus traumatizados de guerra
volta e meia um táxi, uma ou duas furgonetas, uma ambulância de nome escrito ao
contrário, aicnâlubma, porque os retrovisores canhotos e eis uma ideia que nunca me
teria ocorrido, o que podem os gênios, o chefe de brigada a segurar-me o colarinho - Ainda bem que me percebe
cheio, grisalho, de uniforme amarelo, vindo num helicóptero sem insígnias para
interrogar os presos e após quilômetros de angústia uma praceta ao longe, dessas com
escorrega, baloiços e mesas camarárias para os dominós dos idosos, havia sempre um
de cadeira de rodas, havia sempre um de barba, havia sempre um que tirava pontas de
cigarro da algibeira e fumava dentro da língua, havia sempre todos sem segurarem o
chichi, havia sempre um sujeito de bilha do gás ao ombro a assistir, e senhoras de idade
mancas, e pombos, e um pato numa agitação de quadris por ter perdido o seu lago, o
meu filho aqui na casa da aldeia tranquilizando o Bichezas - Nem por isso Bichezas nem por isso
enquanto a Fininha e as amigas cochichavam gargalhaditas, olhadas com desprezo
pela minha nora claro, o porco de amanhã continuava a comer com uma das orelhas
para o alto e a outra caída, apressei-me na direção da praceta dado que existindo uma
praceta mesmo que cheia de cubatas e pretos eu salvo e lá está ela de fato, sem os
matusaléns do dominó e os aleijados de duas bengalas mas com uma palmeira direitinha