ao céu, pronta a limpar o pó da mobília dos anjos, ao chegar o latido do tenente durante
a recruta, com botas mais leves do que as nossas e sem um cantil meio cheio para custar
mais, sem pano de tenda, sem mauser, animando um pelotão sem brônquios
- Marcha lento e à vontade
e a gente a cambalearmos às cegas repetindo numa espécie de tosse e secreções e
sufoco - É nossa
sempre que ele - Angola
com o cabo miliciano a sacudir-nos o braço - Responda nosso cadete
conosco a insistirmos - É nossa
num vagido moribundo de gruta que assim se tempera o aço, assim se forjam os
homens, pena não nos ensinarem a soprar baixinho - Quando o meu avô souber mata-se quando o meu avô souber mata-se
que temos de aprender à nossa custa, sozinhos, como temos que aprender sozinhos - Avé Maria cheia de Graça
como temos que aprender sozinhos - Mata mata
a palmeira imensa lá no alto dissolvida no escuro entre murmúrios e estalos como
todas as palmeiras à noite ao mesmo tempo que eu, durante a recruta do meu pelotão,
a correr com botas mais leves, sem cantil meio cheio, sem pano de tenda, sem mauser,
berrando - Angola
na direção de criaturas na agonia que respondiam - É nossa
o meu filho na casa da aldeia para o Bichezas - Obrigado Bichezas
e o Bichezas tão digno no caixão apesar da cabeça entrapada e de uma mosca na
biqueira direita limpando a nuca com as patas, a tampa da urna ao descer prendeu-a lá
dentro de modo que já tens uma amiga rapaz bom proveito te faça, o general no cais
falava na alegria dos nossos semblantes sem tirar as luvas, ao acabar dobrou a alegria
dos nossos semblantes e meteu-a no bolso, a seguir à praceta dos matusaléns, com
palmeira, três ruas para a direita, uma rua em frente e duas ruas para a esquerda, isto
respeitando o sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, numa das ruas para a
esquerda, à distância, o rio, luzes na outra margem, o que talvez fosse um paquete, eu
para o recruta que era - Marcha lento e à vontade
eu para mim - Marcha lento e à vontade
numa avenida com um cinema apagado que me pareceu conhecer, junto a um bar de
alterne diante do qual um motorista branco abria com respeito a porta traseira de um
automóvel caro, com matrícula diplomática, de que saíam, a rirem-se, um par de pretos