A garota do lago

(Carla ScalaEjcveS) #1

durante um mês. Certa tarde, durante sua licença do trabalho, desligada do
mundo, Kelsey não resistiu e pesquisou a respeito do que ela passara. A leitura
atenta do material de referência e a decifração de volumes de informações eram
a maneira como Kelsey descobria as coisas em seu trabalho; assim, tentou a
mesma estratégia em sua vida pessoal. Na livraria, comprou alguns livros de
autoajuda que abordavam o processo de cura de mulheres que sofreram estupro.
Leu todos em três dias de pouco sono, muito café e comida chinesa.
Após sua jornada de leitura, Kelsey se confortou ao saber que as emoções que
atravessavam sua mente e seu corpo não eram exclusivas. Outras mulheres
compartilhavam sua dor. Os livros sugeriram que ela sentiria solidão e
isolamento. E ela sentiu. Em parte porque Penn Courtney não permitiu sua ida à
redação da revista por um mês, mas também por sua recusa a atravessar a porta
de casa por temer o que poderia estar a sua espera.
Ela também leu que raiva e ressentimento em relação aos homens seriam parte
do processo. E ainda que não houvesse amargura em seu coração ou mente, Peter
Ambrose foi o primeiro homem para quem ela ficou disponível. E seu sonho
estranho da outra noite, com Peter correndo pelo cais diante da casa dos
Eckersley, a fez se questionar a respeito de confiar num homem. Kelsey se
permitiu essa emoção.
As noites seriam especialmente difíceis, os livros lhe disseram. Seus pesadelos
confirmavam isso. No entanto, ela se orgulhava do fato de que, quando não
estava dormindo, as horas sombrias da noite eram seus momentos preferidos.
Era quando Kelsey assistia a filmes antigos e terminava os romances que estava
lendo. Naquela hora, ela sabia que o resto do mundo dormia, e só então se sentia
à vontade, relaxando, sabendo que não estava perdendo nada.
Kelsey teria medo, os livros lhe disseram, e talvez levasse meses ou até mais
tempo para caminhar pela calçada, andar de carro ou correr pelas ruas. Para
algumas mulheres, essas coisas nunca mais seriam possíveis de novo. E aquilo
era verdade: ela sentia medo, não podia negar. No entanto, correr era sua paixão.
Um momento particular, quando revisava casos e artigos em sua mente. Quando
ficava obcecada por um artigo, o isolamento da corrida permitia que Kelsey
ordenasse seus pensamentos. E quando ela se sentia subjugada ou muito próxima
de uma história, os quilômetros eram vencidos fugindo de todos aqueles
pensamentos que atravessavam sua mente. Ela os apagava por uma ou duas
horas e voltava revigorada.
Nas semanas seguintes ao estupro, porém, a ideia de correr em qualquer lugar
— quanto mais no bosque onde o ataque aconteceu — era inconcebível. No
entanto, ali em Summit Lake, Kelsey tomou uma decisão. Recusou-se a permitir
que o medo roubasse o que ela tanto gostava. Assim, forçou-se a caminhar pela

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