A garota do lago

(Carla ScalaEjcveS) #1

algum tipo de espertalhão. É muito engraçado, Becca. Você não consegue
enxergar o que é tão óbvio. — Brad deixou escapar uma risada desvairada. —
Está frio demais lá fora. E se o aquecimento parar de funcionar esta noite? Ou se
a tubulação de água congelar? E se você precisar dele hoje? Jack não está aqui
para você. Eu nunca a deixaria sozinha, e muito menos nas montanhas.
O volume da voz de Brad subia a cada frase, e Becca percebeu uma pronúncia
indistinta em suas palavras.
— Eu jamais a deixaria sozinha! Por que ele fez isso? — Brad indagou, num
tom mais baixo. — É porque ele não a valoriza.
— É o trabalho dele, Brad. Jack...
— Não invente desculpas por ele!
O súbito acesso de raiva provocou uma descarga de adrenalina em Becca. Ela
ainda tinha o celular na mão e ficou tentada a ligar para a polícia. No entanto,
não tinha certeza do que estava acontecendo.
— Brad... — Becca tentava acalmá-lo e imaginar uma maneira de colocá-lo
para fora da casa. Era tudo o que ela queria. Em seguida, ligaria para Jack e lhe
pediria para vir a seu encontro. — Eu estou bem — ela disse, reprimindo as
lágrimas e sorrindo para ocultar seu medo. — Certo? Não preciso de Jack hoje à
noite. Não preciso de nada hoje à noite. Vamos conversar sobre isso amanhã. —
E voltou para a antessala.
— Não, não quero mais saber de conversa. Conversei comigo mesmo a esse
respeito durante um ano.
Quando Becca se virou, ele estava muito próximo dela, com os olhos agitados
nas órbitas. Ela logo notou aquela vibração estranha. Lembrou-se de ter lido em
algum lugar sobre a maneira como os narcóticos faziam os músculos dos olhos
se excitarem, quando o sistema nervoso central era alterado por sua influência.
— Quer saber? Vamos almoçar juntos amanhã, e aí poderemos ter uma
longa... — Becca dizia enquanto tentava alcançar a porta do vestíbulo.
Brad a agarrou pelos ombros e a arrastou dali para a cozinha, imobilizando-a
contra a parede. Assustada pelo súbito e violento ataque, Becca deixou cair o
celular e segurou os pulsos dele.
— Não significou nada para você quando nós nos beijamos?! — Brad
perguntou, com os dentes cerrados. — Ou é isso que você faz com todo sujeito
que conhece? Provoca o cara até ter um par para escolher e, então, escapa com
um deles!
— Brad, não me machuque.
— Machucá-la? Eu te amo. Por que você não entende? — Brad a agarrou com
mais força pelos ombros e a imobilizou de modo ainda mais firme contra a
parede.

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