A garota do lago

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Ele é um sujeito insociável organizado.
— Realmente. Também é um assediador psicopata. Agora, vamos embora.
Kelsey ainda tirava fotos.
— Assediador, sim. Psicopata, não. — Kelsey desceu devagar os últimos dois
degraus, tentando captar tudo que conseguia, agora filmando com o celular. —
Vejo tudo com clareza. Tudo se reuniu em minha mente. Veja, Brad amava
Becca, mas não era correspondido. Becca amava Jack. Brad ficou obcecado.
— Sem dúvida.
— Não, é mais do que isso. É mais do que uma pessoa obcecada. É o que se
denomina pessoa insociável organizada. É o padrão de um assassino. Um tipo
específico de assassino. Ele é inteligente. Tem um QI elevado. Pode ser muito
agradável e carismático, mas se retira da sociedade. Esconde-se aqui, nas
montanhas, onde ninguém vai incomodá-lo. Rompe os laços com sua família.
Assim, pode se concentrar em sua presa. Então, sem mais nada para distraí-lo,
sua obsessão aumenta. Aconteceu bem aqui, nesta cabana. Aumentou até tomar
conta dele. Até que uma imagem de Becca, que na verdade nunca existiu, se
formou em sua mente. E essa falsa imagem dela se torna a realidade dele. Esse
tipo de assassino não se apercebe de sua crescente obsessão. Até que um dia,
com a imagem de Becca constantemente a cercá-lo, e com todas as lembranças
do tempo deles juntos a consumi-lo, ele decide procurá-la. Para conversar com
ela. É o que Brad disse para si mesmo. Ele só foi para conversar. Foi até a
palafita para fazer uma pergunta para Becca. Mas, na realidade, foi para matá-la.
Para tirar a vida dela, para que ninguém mais pudesse tê-la.
Rae ficou no meio da escada, recusando-se a se aventurar além da segurança
da porta aberta alguns degraus acima e da pouca luz reinante. Kelsey, ainda
filmando, circulava pelo porão. Seu celular parecia uma estrela solitária no céu
escuro. A lanterna iluminou uma bancada coberta com ferramentas que Brad
usara para criar seu santuário. Tesouras e guilhotinas para cortar papel. Fotos de
Becca esperando para ser cortadas e coladas. Uma câmera Nikon numa caixa
aberta, com diversas lentes ao lado. Jornais também estavam empilhados sobre a
bancada. Alguns, jogados no chão, com grandes quadrados cortados deles. Ao
lado da bancada, Kelsey encontrou os artigos recortados. Noticiavam o acidente
com o jatinho do senador Milt Ward. Ela tirou fotos deles, mas não conseguiu
estabelecer uma ligação.
Junto à parede adjacente, uma mesinha e uma cadeira. Kelsey iluminou a
superfície e descobriu cartas escritas à mão. Pegou uma e a segurou perto dos
olhos. Querida Becca , era o cabeçalho, depois uma página cheia de sentenças
incoerentes e pensamentos pela metade. Era assinada por Brad. Havia dez
envelopes fechados, todos endereçados a Becca, selados e prontos para serem

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