CHARLOTTE

(Casulo21 Produções) #1

Mas o amarelo não nha sido escolhido somente por esse movo. Para
eles, essa era a cor da luz, do espírito de Deus, a cor da inteligência que sonhavam
para aquele ser que, quieto, esperava entre os outros bebês do berçário. Precisava
ouvir novamente o pulsar de sua mãe. Necessitava dela novamente por perto.
E a mãe veio. Primeiro observou de longe. Idenficou, estranhou, duvidou,
tentou entender, não conseguiu, suspirou, disfarçou. Percebeu que havia algo
diferente em sua filha. Não se parecia com as demais. Ainda não nha aberto os
olhos. Buscava o ar com dificuldade. Era frágil, pequena demais. Não
compreendeu. Olhou para o lado, pensou, olhou para as paredes, buscou
hipóteses. Não era como havia imaginado. Não era essa a filha que nha
idealizado. Não acreditou. Não aceitou. Chorou.
Já no quarto, o colorido das flores perdera a graça. O clima agora era de
tristeza, desamparo e de profunda indignação diante da confusa realidade que se
apresentava. A lembrancinha já estava pronta para receber as visitas: Nasci, sou
Chartoe - 29 de novembro de 1985.
Os pés de Bernadete Rocha, a mãe consternada, arrastavam os chinelos no
chão produzindo uma melodia triste. Um som seco, mas cheio de significados
escondidos e que só ela sabia quais eram. Parecia uma espécie de choro condo
de quem não pode demonstrar desolação. Mas ela podia. Tanto, que se deu o
direito de chorar e sofrer e deixar a dor entrar.
Estava só. E essa é a pior companhia para um ser humano fragilizado. Ela
leva a pensamentos distantes, formulações, indagações, indignações. José ainda
não nha vindo. Naquela noite ficara em casa com o pequeno Rudy, seu enteado,
pois a mulher se preparava para dar à luz somente na manhã seguinte. Mas, na
primeira hora da madrugada, o bebê chegou, contrariando as expectavas,
impossibilitando qualquer aviso aos familiares.

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